A taxa mensal de ocupação de leitos
de pacientes com a covid-19 evoluiu de 9% em fevereiro para 47% em
abril, de acordo com dados de atendimento assistencial prestado por
45 operadoras de planos de saúde que dispõem de rede própria
hospitalar. Já a taxa média de ocupação de leitos para demais
procedimentos mostrou recuo nos três primeiros meses do ano,
passando de 66% em fevereiro para 61% em março e 51% em abril.
É o que revela o Boletim Covid-19,
divulgado hoje (19) pela Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS), com monitoramento realizado junto ao setor de planos de
saúde durante a pandemia do novo coronavírus.
O documento indica que houve
expansão no número de internações por síndrome respiratória aguda
grave (Sars), em comparação ao mesmo período do ano passado. As
internações por Sars subiram de 936 em fevereiro para 2.575 em
março e para 5.432 em abril de 2020.
No mesmo período de 2019, os
números eram 920 internações em fevereiro, 1,561 em março e 1.800
em abril. O Sars-CoV-2 é o novo coronavírus identificado como
agente etiológico da doença pelo coronavírus 2019 (covid-19) que
começou em Wuhan, na China, no fim de 2019, e se espalhou pelo
mundo.
Análise qualificada
Segundo a ANS, o objetivo do
Boletim Covid-19 é subsidiar a análise qualificada da agência
reguladora sobre o tema, contribuindo para a tomada de decisões no
enfrentamento da pandemia, além de apresentar à sociedade
informações importantes para a compreensão do cenário no mercado de
planos de saúde.
A maior parte das informações foi
enviada pelas operadoras de planos de saúde em atendimento a
requisições de informações feitas pela ANS e obtidas a partir de
dados extraídos do Documento de Informações Periódicas (DIOPS), que
as operadoras encaminham, a cada trimestre, à agência, com dados
econômico-financeiros. A solicitação foi enviada a 109 operadoras
que atendem 80% do total de beneficiários do setor.
Já os atendimentos em
pronto-socorro que não geraram internação caíram 11% em março deste
ano, comparativamente a fevereiro, com recuo de 48% em abril, em
relação a março.
Custos
O impacto dos gastos com internação
pode ser medido por meio da comparação entre custos médios de
internações por covid-19 e outras internações clínicas e
cirúrgicas.
As internações por covid-19 com
unidade de tratamento intensivo (UTI), por exemplo, tiveram custo
médio diário de R$ 4.035, com tempo médio de internação de 11,5
dias e custo total no período de R$ 45.558, enquanto as internações
por covid-19 sem UTI apresentaram custo médio/dia de R$ 1.705,
tempo médio de internação de 5,3 dias e custo total de R$
8.972.
As internações cirúrgicas com UTI
mostraram custo diário de R$ 4.136 e custo total por sete dias de
R$ 30.742. Sem UTI, as internações cirúrgicas tiveram custo/dia de
R$ 2.818 e custo total pela média de 2,6 dias de R$
6.989.
Já nas internações clínicas com
UTI, o custo médio diário foi de R$ 3.308, com média de oito dias
de duração e custo total de R$ 25.779. Sem UTI, as internações
clínicas tiveram custo/dia de R$ 1.565, com R$ 6.963 para um
período de 4,5 dias.
Para a análise das informações
econômico-financeiras, foram consideradas 99 das 109 operadoras da
amostra para o estudo de fluxo de caixa e 102 para o estudo de
inadimplência. As demais operadoras não encaminharam informações no
prazo de elaboração do boletim.
Os gráficos revelam, ainda, que os
recebimentos de pagamentos dos beneficiários (contraprestações)
somaram R$ 14.441 bilhões em fevereiro de 2020, R$ 16.400 bilhões
em março e R$ 14.452 bilhões em abril, enquanto os pagamentos
efetuados a fornecedores e prestadores assistenciais alcançaram,
respectivamente, R$ 10.372 bilhões, R$ 12.511 bilhões e R$ 11.653
bilhões.
Sinistralidade
O índice de sinistralidade de caixa
foi de 75% em fevereiro e março, cada mês, e de 77% em abril. A
sinistralidade é o resultado do que é usado e gasto nos planos de
saúde com consultas, exames, cirurgias etc. Isso significa que um
sinistro é identificado cada vez que o segurado de um plano de
saúde faz um exame, um procedimento, é internado ou realiza uma
consulta. Todo sinistro representa um custo. Quando os
procedimentos são utilizados de forma indiscriminada, o impacto
para as operadoras de saúde e para as empresas contratantes é
grande.
A ANS esclareceu que o índice de
sinistralidade de caixa não deve ser confundido com o índice de
sinistralidade contábil, que segue metodologia própria. De acordo
com a agência, a sinistralidade de caixa é feita com base nas
informações de fluxo de caixa. Já a sinistralidade contábil é feita
com base em balanços contábeis. “Optamos pela sinistralidade de
caixa porque o fluxo de caixa é uma informação mais rápida para ser
fornecida do que o balanço”, explicou a ANS, por meio de sua
assessoria de imprensa.
Os dados de 2020, que refletem a
pandemia do novo coronavírus, mostram baixa variação do índice de
sinistralidade de caixa, que ficou aquém do observado no último
trimestre de 2019, em torno de 78%. Ainda segundo a ANS, a pouca
variação também pode ser explicada pela característica do ciclo
financeiro do setor, no qual os planos efetuam o pagamento de
prestadores semanas após o atendimento médico. Ou seja, as contas
pagas até abril podem corresponder a procedimentos relativos aos
meses de janeiro, fevereiro e março deste ano, e podem ainda não
ter sido impactadas pela covid-19.
Os dados relativos à inadimplência,
por sua vez, também indicam que não houve variação significativa em
2020 no comparativo com 2019. O índice tem se mantido em 13% em
fevereiro, março e abril de 2020. Os serviços de saúde hospitalares
representaram 32,69% das despesas assistenciais dos planos de saúde
no ano de 2019.
* Matéria alterada às 19h20
para correção de informação divulgada pela ANS. Diferentemente do
informado, os valores das contraprestações e dos pagamentos
efetuados a fornecedores e prestadores assistenciais são expressos
em bilhões e não em milhões