Previsões são sempre complexas,
ainda mais quando tratamos de tecnologia e inovação no mundo atual,
que tudo pode mudar de uma hora para outra. Portanto, entender e
saber para onde estamos indo na busca da nova fronteira do mercado
de seguros não deixa de ser um belo desafio. Talvez o ano relatado
no título deste artigo, futuramente, mostre-se equivocado –
provavelmente para menos – mas é inegável que estamos traçando um
caminho muito interessante, com vertentes intrigantes, tanto para
quem compra seguros (os clientes), como para quem fabrica (as
seguradoras) e para aqueles que distribuem esse produto (os
corretores).
O foco da indústria de seguros está
mudando e isto é inegável. Se atualmente, a essência está em
“detectar e reparar”, brevemente, mudará para “prever e prevenir”,
com o intuito de, principalmente, diminuir a sinistralidade e
possíveis acidentes evitáveis. Há uma estimativa de que seja
reduzido em 30% a quantidade de acidentes que existem hoje. Isso
será possível com a entrada contundente do foco na prevenção de
acidentes e do monitoramento de riscos real-time. E, se mesmo assim
o sinistro for inevitável, a agilidade nesse processo será enorme,
pois os avisos poderão ser feitos por meio de chatbots, bem como o
socorro poderá ser prestado mais rapidamente e, posteriormente,
haverá análises sofisticadas que estudem o problema para que possa
ser, mais uma vez, minimizado.
Além da mudança de foco para a
prevenção, e não reparação, será evidente a necessidade de
adaptação a que estarão sujeitos os corretores, seguradoras e
prestadores de serviços, pois essas empresas vão centrar
primordialmente em processos para melhorar a experiência do cliente
em toda a jornada, desde a contratação, processos durante a
vigência da apólice, passando pelo sinistro, para, enfim, chegar à
renovação.
Dito isso, é importante frisar que
sim, a tecnologia é importantíssima, mas jamais a centralidade do
cliente pode ser perdida. E daqui a alguns anos, eles também irão
esperar processos diferentes, tais como: produtos sob medida,
preços acessíveis, técnicas invisíveis, simples e rápidas,
coberturas flexíveis e descontos progressivos por meio do uso de
programas de bom comportamento – APPs que darão dicas de saúde, de
direção etc. É um esforço perdido tentar ir contra os desejos dos
atuais clientes que já começam a dar pequenas sinalizações de suas
vontades. Não acompanhar isso será um grande problema para
pequenos, médios ou grandes conglomerados, pois serão atropelados
pelos fatos.
Só que não serão apenas os clientes
que terão benefícios com essas mudanças. As empresas, em especial
as seguradoras, também se beneficiarão imensuravelmente, já que o
uso de IA (Inteligência Artificial) irá redefinir a indústria de
diversas formas. A explosão de dados permitirá que as seguradoras
entendam melhor seus clientes, precifiquem de forma mais precisa e
prestem serviços instantaneamente, independentemente da situação.
Um exemplo claro disso é o uso de relógios que medem os dados
vitais de um segurado, e emitem alertas e recomendações quando algo
sair do habitual, como alterações drásticas em frequência cardíaca.
De novo, a prevenção sendo ator principal, e não coadjuvante.
Essas mudanças trarão impacto até
no conceito de risco e quem é responsável pelo quê. Afinal, quem
responsabilizar por acidentes com carros autônomos, equipamentos
agrícolas autônomos, drones ou robôs que fazem cirurgias? É algo a
ser pensado e explorado, ainda mais quando isso abrirá margem de
novas oportunidades para venda de produtos, serviços e canais de
atendimento e comercialização.
Só que os benefícios para as
seguradoras não se esgotam, já que é o momento de falar sobre a
subscrição de riscos. Algo que que não é tão claro atualmente, mas
irá passar por transformações nos próximos anos. Acredito que o
ponto principal será que grande parte da coleta de informações não
será mais necessária, pois os dados públicos e privados estarão à
disposição.
E não acabará aí: consigo prever a
inteligência artificial estabelecendo perfis de risco, cotações
instantâneas para todos os produtos, telemática e internet das
coisas gerando gigantescas bases de dados, aprimoramento de
produtos e precificação por meio de machine learning e por aí vai.
Confesso que dá certa ansiedade para saber quando tudo isso,
efetivamente, estará acontecendo.
Só que, mesmo em 2033, alguns
componentes ainda separarão os ganhadores dos perdedores. Quem não
incluir o elemento humano no relacionamento comercial, vai perder.
É certo de que não há tecnologia, nem algo próximo, que substitua a
empatia, emoção, paixão, criatividade, sentimento e solidariedade.
Difícil imaginar a tecnologia substituindo o calor humano, tão
necessário em momentos que precisamos do conforto de um ombro
amigo.
* Marcelo Blay é fundador e CEO da
Minuto Seguros, é formado em engenharia pela Escola de Engenharia
Mauá, com MBA em finanças pela FGV e especialização na Columbia
University (NY). Atualmente é o Coordenador da Comissão de Inovação
do Sincor-SP e membro da Comissão de Insurtech e Inovação da
Susep.