Pelo menos 37% da população
brasileira, ou 60 milhões de pessoas, relatam sentir dor de forma
crônica, aquela que persiste por mais de três meses, de acordo com
estudo feito pela Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (SBED), a
Universidade Federal de Santa Catarina, Faculdade de Medicina do
ABC e uma clínica de tratamento da dor. A Região Sul é a mais
afetada (42%), seguida do Sudeste (38%), Norte (36%), Centro-Oeste
(24%) e do Nordeste (28%). Foram entrevistadas 919 pessoas em todas
as regiões.
Por causa da importância e do impacto da dor na vida dos
indivíduos, o tema é discutido no Congresso Singular-Sobramid
(Sociedade Brasileira de Médicos Intervencionistas em Dor), em
Campinas (SP). O encontro, que
começou ontem (19) e vai até o dia 22, é o maior sobre o tema no
país este ano. Serão mais de 180 atividades, com a presença de 20
conferencistas internacionais. Entre os destaques estão Menno
Sluijter, o primeiro a descrever a radiofrequência pulsada para o
tratamento da dor, e Gabor Racz, responsável pelo desenvolvimento
da adesiólise percutânea. Ambos farão procedimentos cervicais,
torácicos, lombares e sacrais durante o congresso.
Segundo o presidente da Sociedade
Brasileira de Médicos Intervencionistas em Dor (Sobramid), Paulo
Renato Fonseca, a dor crônica é tão nociva que pode prejudicar a
rotina do indivíduo e estar ligada à depressão, a transtornos de
ansiedade e até ao suicídio. “A dor, de modo geral, talvez seja
umas das situações humanas que mais causam sofrimento. Não só a dor
causa um sintoma desagradável em quem está doente, mas traz
repercussões biológicas, psicológicas, sociais, espirituais,
isolamento, sentimento negativo e problemas de ordem familiar”.
De acordo com o médico, é preciso
tratar a dor com vários profissionais da saúde e médicos
intervencionistas que fazem procedimentos para melhorar o sintoma,
que interfere diretamente na capacidade de trabalho do indivíduo.
“Imagine uma pessoa que tem dor todo dia, o dia inteiro, durante
meses. Certamente vai sofrer impacto. Existe um custo para o
sistema de seguridade social que tem de arcar com a invalidez
temporária, parcial ou definitiva desses pacientes severamente
doentes”.
Entre as dores mais comuns estão a
lombar, nas articulações, face, boca, pescoço, dores de cabeça,
enxaquecas, neuropatia. Para prevenir as dores, os médicos indicam
a prática de exercícios, correção postural, alimentação adequada,
vacinação (em especial contra herpes zoster), controle do peso e de
doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. Ao mesmo tempo em
que as dores sinalizam doenças, podem agravar condições crônicas e
gerar quadros de sedentarismo e obesidade.
Segundo Fonseca, todos os tratamentos
para dor crônica estão disponíveis tanto no Sistema Único de Saúde
(SUS) quanto nos planos de saúde. "Muitas pessoas acham que são
procedimentos de alta tecnologia, caros e não são. São
relativamente baratos. Alguns são caros, mas a maioria não é". Ele
ressaltou que as técnicas intervencionistas ajudam a reduzir o
consumo de analgésicos.
"Uma das novidades a serem tratadas no
congresso é a chegada da medicina regenerativa, que utiliza
células-tronco, plasma rico em plaquetas, que são substâncias
retiradas do próprio corpo da pessoa que podem ser utilizadas para
dor. Teremos também a presença de 15 estrangeiros que mostrarão
novas tecnologias”.