Queda da atividade
econômica e redução de viagens levam seguradoras a baratear
produtos para movimentação de cargas; outro foco é agilizar a
contratação e criar prêmios flexíveis
Diante da perspectiva de um segundo
ano consecutivo com o Produto Interno Bruto (PIB) negativo, o que
se vê, na prática, é a redução de viagens e do volume de carga
transportado por empresas de pequeno e médio portes pelas
rodovias.
Com o menor faturamento dessas
empresas, as seguradoras passaram a oferecer soluções
personalizadas, de rápida contratação, com taxa mensal do seguro
(chamada de prêmio) mais acessível para caber no bolso desse
público.
Por lei, os transportadores são
obrigados a pagar o seguroRCTR-C (Responsabilidade Civil do
Transportador Rodoviário de Cargas). Trata-se de uma cobertura para
a proteção do transportador e também do proprietário da mercadoria.
Esse seguro garante ao transportador rodoviário o reembolso do
valor da carga a ser indenizada ao embarcador (dono da carga), caso
ocorra algum acidente à carga durante o transporte, como colisão,
tombamento, abalroamento (choque violento com objeto ou veículo),
capotagem, incêndio ou ainda explosão.
Segundo o superintendente líder de
práticas de transporte da Marsh Corretora e Consultoria de Risco,
Sérgio Caron, o seguro obrigatório RCTR-C e o RCF-DC (Seguro
Facultativo de Responsabilidade Civil do Transportador Rodoviário
por Desaparecimento de Carga) são os dois principais produtos de
prateleiras nas seguradoras que operam seguro transporte no País,
aproximadamente 15 empresas.
Calculando riscos
O RCF-DC cobre o desvio das
mercadorias transportadas devido a furto ou roubo. Pode ser
contratado em conjunto com o seguro obrigatório (RCTR-C) ou de modo
isolado. A contratação de ambos varia conforme o “bolso” do
transportador.
Do total de transportadores do
País, nem todos contratam o seguro obrigatório, correndo o risco de
serem multados por desrespeito à legislação vigente. Não há números
oficiais, mas, com base no dia a dia da corretora, Caron explica
que, de cada três transportadores que contratam o seguro
obrigatório, apenas um deles aceita o seguro facultativo RCF-DC.
“Há um potencial de crescimento enorme desses produtos entre
pequenas e médias empresas”, avalia o executivo da Marsh.
Algumas seguradoras apresentam
planos mínimos para cada tipo de seguro (RCTR-C ou RCF-DC), que
varia de R$ 300,00 a R$ 1 mil por mês, a serem pagos pelos
transportadores de empresas de pequeno porte. O cálculo do valor do
seguro mensal, pago pelo transportador à seguradora, vai depender
do risco da carga (eletroeletrônicos, carnes, calçados, móveis), do
gerenciamento de risco contratado (rastreadores com GPS para
proteção da carga e do caminhão) e do número de viagens realizadas
ao longo do mês.
“No primeiro quadrimestre desde
ano, fechamos o RCTR-C com algumas transportadoras de pequeno porte
que nunca tiveram o seguro obrigatório”, conta o superintendente da
área de transportes da Liberty Seguros, Marcos Siqueira. “Há um
potencial enorme de crescimento do seguro obrigatório,
principalmente nas cidades distantes das capitais, em diferentes
estados”, diz.
Siqueira explica, sem divulgar
valores, que o seguroRCTR-C na Liberty foi precificado de acordo
com a realidade do mercado para atrair o segmento, ou seja, leva em
conta o momento de crise e de menor faturamento dos
transportadores.
Apólice imediata
No fim de junho, entrará em
funcionamento um sistema on-line na Liberty Seguros para a emissão
imediata da apólice de seguro para os transportadores de pequeno
porte. Hoje, a emissão leva cinco dias após o pagamento. “Estamos
nos organizando há um ano e meio com investimentos em processos,
novo sistema, equipe especializada e atendimento rápido e fácil em
diferentes cidades do Brasil”, afirma Siqueira. “Queremos que as
empresas de transporte de pequeno porte representem 50% da nossa
carteira de transportes”, completa.
Atualmente, a Liberty Seguros já
oferece seguros personalizados para pet shops, consultórios,
escritórios e outras atividades. “Queremos aproveitar nossa
expertise em nichos específicos também no segmento de
transportadores de empresas de menor porte, que levam móveis,
calçados, autopeças e outros produtos a diferentes partes do País.
Normalmente, esse transportador aproveita uma viagem para carregar
várias mercadorias”, diz o executivo da Liberty.
Produtos na mira
De longe, o meio de transporte mais
utilizado para cargas no Brasil é o caminhão – muito superior aos
transportes realizados por embarcações, mesmo quando se trata de
cargas internacionais para países vizinhos. Por esse motivo, os
riscos de colisões, tombamento, furtos e roubos de cargas ficam na
mira das seguradoras quando se trata do seguro transporte.
Apesar da menor atividade econômica
no País e do aumento do número de desempregados, os roubos e
acidentes não registraram variação significativa. Nas seguradoras,
o índice de sinistralidade acima dos 70% costuma ser um indicativo
de alerta. Em 2015, o indicador de sinistralidade sobre o prêmio
ficou na faixa de 64% (seguro de transporte nacional e
internacional para todos os portes de empresa), segundo dados da
Superintendência de Seguros Privados (Susep).
Cargas com produtos eletrônicos e
de informática em geral, produtos farmacêuticos, cigarros,
autopeças e alimentos integram o ranking dos produtos mais roubados
nas rodovias brasileiras, de acordo com o relatório Annual Brasil
Cargo Theft Report, de 2015. O estudo é divulgado pela Freightwatch
International SCIC.
Novidades
Chamados de Siga Bem Seguro, os
dois produtos RCTR-C e RCF-DC da seguradora Yasuda Marítima, para
proprietários de carga e para transportadores de pequenas empresas,
foram lançados em maio deste ano, prometendo agilidade e
atendimento especializado nas ocorrências de roubos e de acidentes
pelas rodovias do País. Os contratos padronizados para esse público
permitem que a contratação do seguro seja feita em, no máximo, três
dias.
O seguro facultativo RCF-DC da
Yasuda Marítima cobre eventuais riscos por conta do roubo de cargas
transportadas, roubo por ameaça grave ou violenta (como extorsão ou
sequestro do motorista), além do chamado desaparecimento de carga,
quando o veículo – caminhão, carreta, bitrem ou treminhão, por
exemplo – é levado.
Atualmente, os transportadores de
pequenas e médias empresas representam fatia de 15% da carteira de
seguro transporte da seguradora. “Nossa intenção é que esse
segmento alcance 30% até o fim de 2016″, afirma o diretor da área
de seguro transportes da Yasuda Marítima, Adailton Dias.
O RCTR-C da Yasuda Marítima cobre a
movimentação anual de carga de até R$ 500 milhões, com prêmio
mínimo variável. “Constatada a redução da movimentação de carga
pelo transportador, diante do momento difícil e fraco do mercado, a
Yasuda Marítima prevê o pagamento de um prêmio mínimo pelo
cliente.
A estratégia ajuda o transportador
nos meses mais difíceis. Em vez de R$ 1,5 mil por mês, será cobrado
R$ 700,00 mensais. Se o transportador está movimentando bem, a
Yasuda Marítima vai cobrar a taxa normal da apólice”, explica
Dias.
Umas das novidades oferecidas pela
Yasuda Marítima nesses produtos padronizados ao transportador é a
possibilidade de gerenciamento de risco (monitoramento do veículo
por GPS, por exemplo ) realizado por uma empresa parceira. “É
possível contar com toda a parte de inteligência em um só local”,
diz o diretor da Yasuda Marítima