De cada R$ 100,00 recebidos pelas
operadoras de planos de saúde por meio de mensalidades, nos 12
meses encerrados em março deste ano, R$ 98,00 foram destinados
essencialmente para custear as despesas assistenciais e
administrativas. As associadas da Federação Nacional de Saúde
Suplementar comprometeram, em média, 98,2% da receita de
contraprestações com a despesa total, equivalente a R$ 53,4
bilhões, nesse período. Já entre as demais operadoras não
associadas à Federação, a despesa total consumiu 101,7% da receita
de mensalidades.
Os dados fazem parte da mais
recente edição do “Boletim da Saúde Suplementar – Indicadores
Econômico-financeiros e de Beneficiários”, publicado pela FenaSaúde
com base nas informações extraídas dos sistemas de informação da
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Segundo a publicação,
o faturamento das operadoras de planos de saúde associadas à
FenaSaúde atingiu R$ 54,3 bilhões nos 12 meses encerrados em março,
o que representa uma alta de 14,3% na comparação com igual período
anterior.
Apesar do crescimento das
despesas, as associadas à Fenasaúde apresentaram resultado
operacional positivo de R$ 1 bilhão. Ao contrário das empresas não
associadas, que tiveram resultado operacional negativo no valor de
R$1,3 bilhão. De acordo com o presidente da FenaSaúde, Marcio
Coriolano, as operadoras de planos e seguros de saúde vêm
enfrentando uma escalada de crescimento das despesas assistenciais
per capita de seus beneficiários, que oneram os contratantes. “Isso
tenciona as necessárias negociações entre as operadoras e empresas
contratantes com vistas aos reajustes anuais”, diz.
Reajuste insuficiente
Na apresentação da nova edição do
boletim, Coriolano ressalta que, em junho deste ano, a ANS fixou em
13,55% o índice máximo de reajuste a ser aplicado aos planos
individuais ou familiares contratados a partir de janeiro de 1999,
ou adaptados à Lei 9.656/98. “Cabe ressaltar que este não é um
índice de preços, mas um índice de despesa, composto pela variação
de preços dos serviços de assistência à saúde e pela variação de
frequência de utilização desses serviços e, ainda, pelos efeitos
combinados dessas duas variações”, diz.
Segundo o dirigente, esse índice
é insuficiente para as operadoras cobrirem os expressivos aumentos
das despesas assistenciais per capita.”A variação da despesa
assistencial per capita, inadequadamente chamada de inflação
médica, é, em média, duas vezes superior à inflação que mede os
demais preços da economia”, afirma.
Um fator que também pesa sobre os
custos é o aumento de idosos entre os beneficiários. De acordo com
o boletim, nos planos de assistência médica o número de
beneficiários com 60 anos ou mais de idade totalizou 6 milhões e
cresceu 4,2% em março de 2015, na comparação com igual mês de 2014.
Nos últimos anos, a participação de beneficiários com 60 anos ou
mais tem crescido acima das demais faixas etárias. Por outro lado,
houve redução do ritmo de crescimento de beneficiários mais jovens,
até 19 anos, e dos beneficiários em idade ativa, de 19 a 59
anos.
Para conter os preços
Em entrevista à imprensa,
Coriolano afirmou que o setor estuda medidas para conter a inflação
médica. Entre as propostas da Federação para conter o avanço dos
preços, está a redução do ritmo de ampliação das coberturas
obrigatórias, exigidas pela ANS; a remuneração dos profissionais
por performance e não por número de atendimentos, como é
atualmente; e a criminalização das indicações médicas
abusivas.
Em artigo recente publicado na
imprensa, Renato Merolli, presidente da Confederação Nacional de
Saúde registrou que “a saúde não tem preço, mas tem custos”.
Segundo ele, manter um hospital, por exemplo, torna-se uma tarefa
dispendiosa quando se olha para números como o da tributação sobre
medicamentos, que chega a 31%. “Os impostos, por sinal, são uma das
principais razões do alto custo da prevenção e tratamento de
doenças no país”, disse.
Considerando o crescimento de
13,5% no número de empregos gerados pelo setor no último ano,
atingindo mais de 105 mil postos de trabalho, e mais a participação
do setor de 10% do PIB, ele aponta a saúde como prioridade. “São
números que por si só deveriam colocar a Saúde com um lugar cativo
na mesa de discussão sobre a economia brasileira”, disse.