Evento no RJ
quer esclarecer fatores de risco para a população. Em países
desenvolvidos, coração mata 30% das mulheres
A
Sociedade de Cardiologia do Estado Rio de Janeiro (Socerj) promove
nesta terça-feita (11), em parceria com o Instituto Nacional de
Cardiologia (INC), uma campanha de prevenção da saúde
cardiovascular da mulher. O evento ocorrerá no Largo do Machado, na
zona sul da cidade, e se integra à programação do Dia Internacional
da Mulher, comemorado no último sábado (8).
Segundo a cardiologista Ana Patricia Nunes de
Oliveira, do Departamento de Cardiologia da Mulher da Socerj, o
objetivo do evento é esclarecer a população sobre os fatores de
risco da doença cardiovascular. Ana Patricia disse que, além das
causas genéticas, que não podem ser modificadas, existem fatores de
risco em que, se houver uma intervenção, pode-se reduzir a
incidência de casos de doença cardiovascular. Entre eles, citou a
hipertensão, diabetes, sobrepeso, obesidade e hábitos como
tabagismo e alcoolismo.
“Se a
gente consegue controlar esses fatores em pessoas que são de risco,
a gente consegue ter um controle mais efetivo. Isso a gente observa
nos países mais desenvolvidos”, disse a médica. Ela acrescentou que
a doença cardiovascular responde por até 30% da mortalidade nesses
países, com a mesma proporção em mulheres em decorrência das
mudanças de hábitos de vida e da inserção cada vez maior no
ambiente de trabalho.
Ana
reiterou que onde ocorre um controle mais rigoroso dos fatores de
risco, os novos casos da doença são amenizados. Segundo ela, no
Brasil, a assistência primária à saúde é muito precária. Por isso,
alertou que não se deve apenas tomar o remédio contra a
hipertensão.
“Precisa tomar o remédio de hipertensão e ter a
pressão bem controlada, nos níveis ditos normais de 12 por 8″,
explica a médica. “É preciso ter o controle adequado da glicemia,
dos níveis de colesterol; orientação nutricional, orientação da
perda e manutenção da perda de peso. São fatores muito básicos, de
atenção primária à saúde, mas que precisam ficar muito bem
esclarecidos, porque é a manutenção dos valores no longo prazo que
vão começar a ter impacto na redução das doenças
cardiovasculares”.
Além
de mais barata e eficaz, a prevenção é ainda mais importante entre
as mulheres, nas quais a incidência dessas doenças é mais precoce,
advertiu a cardiologista, “devido à epidemia de obesidade, por uso
de métodos contraceptivos, por toda essa atmosfera propícia em que
a mulher está se envolvendo”.
Números da Organização Mundial da Saúde (OMS)
indicam que os problemas cardíacos respondem por 8,5 bilhões das
mortes entre mulheres de todo o mundo. Um estudo da Universidade
Federal de Santa Catarina de 2011, citado pela Socerj, indicou que
as doenças cardiovasculares representam 36,9% das mortes em
mulheres, contra 28,8% em homens. Outra pesquisa recente da
American Heart Association mostra que 60% das mulheres desconhecem
as doenças cardiovasculares.
Ana
Patricia explicou que as doenças cardiovasculares causam mais
mortes nas mulheres do que nos homens por uma questão anatômica.
“As coronárias nas mulheres são mais finas. Elas são mais propensas
a sofrerem alterações. Ou seja, você vai ter uma menor proteção no
leito coronariano da mulher”.
Ela
esclareceu que, até os 50 anos, a mulher tem uma proteção natural
do estrógeno. Quando as mulheres entram no período de menopausa,
começam a aparecer casos de doença cardiovascular. A médica
observou, porém, que, mesmo em mulheres mais jovens, isso pode
ocorrer. “É o ambiente hormonal que protege a mulher e ela deixa de
ter essa proteção fisiológica”.
Fatores típicos da vida moderna, como estresse,
sobrepeso, fumo e ansiedade contribuem para o aumento de casos de
doença cardiovascular nas mulheres. O acúmulo de tarefas pelas
pessoas do sexo feminino, dentro e fora de casa, faz com que as
mulheres tenham uma resistência orgânica menor que os homens,
embora elas tenham uma resistência física e psíquica
maior.
“Mas
do ponto de vista anatômico, elas terminam sendo mais vulneráveis”.
Há, ainda, a influência da gestação que pode resultar em doenças
hipertensivas que aumentam a probabilidade de a mulher vir a se
tornar hipertensa no futuro, “que está muito relacionada com o
sobrepeso”, disse Ana Patricia.
A
Socerj estima que 250 mulheres participarão da campanha, que
oferecerá exames gratuitos durante toda a manhã, no Largo do
Machado. Serão medidos peso, altura e circunferência abdominal das
mulheres que comparecerem ao local, que terão verificadas também a
pressão arterial, antes de serem submetidas à dosagem rápida de
colesterol, triglicerídeos e glicose.
Em
seguida, elas passarão por orientação de médicos da Socerj e do
INC. Além disso, o evento terá uma estrutura da Ordem dos Advogados
do Brasil, Seção Rio de Janeiro (OAB-RJ) que oferecerá informação
sobre os direitos jurídicos da mulher.