Com o diagnóstico de 20 a 30 casos confirmados de suspeitas de
dengue por dia, em cada posto de saúde de Campo Grande, autoridades
da área já se preparam para enfrentar nova epidemia da doença, além
de estudar a possibilidade de decretar estado de emergência.
A exemplo do 'caos' que ocorre na cidade, segundo a gerente da UPA
(Unidade de Pronto Atendimento) Vila Almeida, Patricia Monteiro, 35
anos, é o fluxo de pacientes, que dobrou no local nos últimos
dias.
Ela acrescentou que os médicos locais estavam atendendo 11
pacientes por hora e, depois desses 10 dias de muita reclamação,
tumulto e demora no atendimento, a gerência exigiu aumento na
equipe, assim como ocorre em outras unidades.
A UPA atendia com cinco médicos clínicos gerais, além dos outros
profissionais, sendo que começou a ter sete a sua disposição.
Segundo a gerente, são profissionais novos, que passaram por um
treinamento e, a partir de agora, terão contrato de no mínimo seis
meses com a prefeitura.
“A demanda aumentou expressivamente. No dia 2 de janeiro de 2012
tivemos 360 pacientes atendidos, já no dia 2 de janeiro de 2013,
tivemos 660”, explica a gerente. Ela também contou que foram
montados oito novos leitos de reidratação no setor de estabilização
da unidade para abrigar pacientes que estão com suspeita da
dengue.
Plano de enfrentamento à dengue
Em razão da intensa demora no atendimento em unidades de saúde
da capital, estão sendo realizadas várias reuniões. Nesta
sexta-feira (4), está programado um encontro para os profissionais
tomarem consciência sobre o Plano de enfrentamento à dengue
elaborado pela Prefeitura Municipal.
O secretário de Obras e Infraestrutura, Semy Ferraz, anunciou na
manhã de hoje (4) que a partir do final de semana serão
disponibilizadas três equipes, com três pás-carregadeiras e seis
caminhões com caçambas para dar suporte aos bairros de campo grande
no combate à dengue.
Segundo Semy, a partir de segunda-feira (7), 90 pessoas devem ser
mobilizadas para fazer mutirão em três bairros considerados focos
de dengue. Essas pessoas já trabalham pela prefeitura e deverão
permanecer três meses atuando nesta força-tarefa.
O prefeito Alcides Bernal (PP) estuda diversas medidas de
combate à dengue. Ele pensa até em reforço da Força Aérea e já
criou uma Comissão de Combate à Dengue. A Comissão, que engloba
diversos secretários, já estuda decretar estado de emergência para
facilitar as contratações de pessoas para atuar no combate à
doença.
Pacientes aguardam mais de seis horas para atendimento em dia de
tumulto
A maioria das pessoas que está no Posto de Saúde reclama de dor no
corpo, cefaléia (dor de cabeça), e diarréia. “Não é fácil, porque
além dos sintomas tradicionais, alguns pacientes aparecem com dores
abdominais o que também pode ser confundido com infeção bacteriana
ou virose”, explicou a gerente Patrícia.
É o caso da universitária Geisseli Leite Pinheiro, de 21 anos,
com suspeita de dengue hemorrágica. Ela compareceu ao Posto de
Saúde no dia 31 de dezembro para confirmar a suspeita. “Fizeram
comigo a prova do laço, e apareceu mais de 20 pintinhas, o que
confirma a suspeita de dengue. Porém, no outro dia, eu fiz o
hemograma (exame de sangue) e foi dito que eu estava com infecção
bacteriana. Mesmo com febre, dor de cabeça, e nos olhos”, contou a
universitária.
Geisseli contou que no dia 31, chegou 14h40 ao UPA Vila Almeida
e foi atendida apenas seis horas depois, por volta das 20h40. “Eu
já tive dengue uma vez, foi muito difícil. Não tinha médico. Pelo
que está escrito nas diretrizes do SUS (Sistema Único de Saúde), o
médico só pode sair quando chegar outro. Mas não é o que acontece
aqui no Posto”, desabafa.
Visita do Secretário ao UPA, após diversas denúncias no 1° dia
do ano
A universitária também contou que no dia seguinte (1), quando
foi buscar o resultado do seu exame, eram tantas reclamações, que o
secretário de Saúde, Ivandro Correa Fonseca, foi ao local para
averiguar o que estava acontecendo.
A demora também é motivo de reclamação da secretária
odontológica, Marlene Adalva, de 46 anos. “Eu e minha filha
estávamos com suspeita de dengue. No dia 31, esperamos várias horas
para sermos atendidas. O descaso maior foi com minha filha, até que
ameacei chamar a imprensa. Eles tiraram o soro da menina as 12h e
ela ficou com a agulha fincada nos braços até as 15h. Quando eu fui
reclamar, me disseram que todos os médicos estavam no setor de
emergência. Mas se eles começaram a atender, eles tem que
terminar”, relata indignada a secretária.
A própria recepcionista do UPA Vila Almeida disse que 80% das
pessoas que chegam ao local reclamam dos sintomas da dengue. Ela
disse que nunca viu nada igual durante esses três anos de serviço,
acreditando estar vivendo a epidemia.
“Como a demanda está grande, tem pessoas que realmente ficam 6h
aguardando”, explica a gerente do Vila Almeida. Os funcionários do
UPA alertam que há quatro casos de classificação: vermelha (grave)
é atendimento imediato, amarelo (muitas dores) demora de 30min a
1h, verde (dores e estável) até três horas, azul (casos mais
simples, como trocar receita) leva até 6h.
Prevenção e limpeza
A gerente do Vila Almeida aproveita a oportunidade para alertar
as pessoas sobre a importância da prevenção. “O que realmente
resolve para acabar com essa doença é a precaução, limpando o
quintal de casa e o terreno. Mas isso parece que as pessoas não
estão fazendo”, alerta Patrícia.
Em dezembro de 2012 foram 59 casos de dengue confirmados, mais duas
mortes que estão sendo investigadas. A secretaria de saúde está se
preparando para não repetir a epidemia 2007 e 2010, quando foram
diagnosticados cerca de 40 mil casos em Campo Grande.
“As agentes comunitárias de saúde Arlinda Ayala de 38 anos, e
Cassia Silva de Sales, 23 anos, dizem que as pessoas ainda estão
muito descuidadas com relação à doença. Elas fazem visitas mensais
no bairro Zé Pereira.
“Nós fazemos uma visita ao mês nas casas e a desculpa é sempre a
mesma. Eu não limpei porque esqueci, isso deve ser da chuva. A
teimosia das pessoas está custando caro. Só quem já pegou dengue é
um pouco mais cuidadoso”.