Expectativa com eventos esportivos, PAC e pré-sal não se
concretizaram e setor teve volume menor de prêmios
O atraso no cronograma das principais obras de infraestrutura do
País decepcionou a demanda por seguros de grandes riscos ao longo
de 2012. Atraídas pelos grandes contratos, as seguradoras que
vislumbraram nos projetos dos jogos mundiais, do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC) e do pré-sal uma fonte alavancadora
de negócios tiveram de se contentar com um volume menor de prêmios
disputado em um cenário bastante competitivo que pressionou para
baixo as taxas praticadas no setor.
O seguro garantia, considerado um dos ramos com o futuro mais
promissor no âmbito das grandes obras por garantir que elas sejam
concluídas conforme previsto no contrato, amargou queda de 7,51%
nos prêmios emitidos de janeiro a setembro, para R$ 565,178
milhões, segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep). No
caso das apólices de riscos de engenharia, que oferecem proteção
para incêndio e erros de execução, entre outros problemas que podem
ocorrer durante a construção, a queda acumulada neste ano é ainda
maior. Foram R$ 468 milhões em prêmios, declínio de quase 15%.
"O atraso nas obras do PAC e também nos projetos da Copa fez com
que a expectativa de negócios para o mercado de seguros em 2012 não
acontecesse. Isso provocou uma dilatação no prazo do fechamento dos
negócios", avalia Renato Rodrigues, diretor de riscos especiais
da
Liberty Seguros.
Além de frustrar a demanda de seguros, a demora dos projetos
também já começa a preocupar o mercado, segundo o executivo, em
relação a um possível aumento da sinistralidade. Isso porque,
embora parte das obras tenha data para serem concluídas, a pressa
no andamento do projeto para a conclusão dentro do prazo
estabelecido pode resultar em falhas na execução das obras e um
maior volume de sinistros no médio e longo prazos.
A SulAmérica, por exemplo, reduziu o seu apetite pelo setor de
grandes riscos depois de duas apólices bilionárias, uma da
hidrelétrica de Jirau e outra de um terminal portuário da Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN), terem resultado em brigas judiciais.
"As seguradoras têm de estar atentas à qualidade da informação.
Assumir grandes riscos também significa pagar sinistros de grande
monta", lembra Eduardo Takahashi, diretor de risk management da
corretora Marsh Brasil.
Cenário. Mas, mesmo com as expectativas frustradas, as seguradoras
seguem otimistas em relação ao ano de 2013. A razão é que, com os
atrasos na agenda dos projetos, ainda há pela frente um grande
volume de obras para saírem do papel, não só no próximo exercício,
mas também ao longo dos demais anos.
Dentre as áreas mais promissoras para o mercado de seguros em
2013, de acordo com executivos do setor ouvidos pelo Estado, estão
rodovias, portos, aeroportos, telecomunicações com a implantação
comercial da tecnologia 4G, energia, petróleo, além da indústria
pesada que reúne os investimentos em papel e celulose, siderurgia,
mineração e outras. Só a primeira fase do Programa de Investimentos
em Logística prevê investimentos de R$ 133 bilhões em rodovias e
ferrovias que a partir do ano que vem vão fomentar a infraestrutura
do País. Há também expectativas quanto às medidas para concessão de
portos previstas para serem anunciadas em breve, e que devem
superar os R$ 70 bilhões nos próximos anos.
Diante disso, algumas seguradoras já estão sentindo uma maior
demanda no número de consultas para 2013. Segundo Edson Toguchi,
superintendente de grandes riscos da Allianz Seguros, a procura de
construtoras e empreiteiras por apólices de grandes riscos tem
crescido na esteira dos projetos previstos. Para atender à demanda,
a seguradora prepara até mesmo novos produtos e coberturas de
seguros voltados especialmente para os projetos de infraestrutura.
Sem dar mais detalhes, ele adianta que as novidades serão lançadas
em 2013.
Já a Liberty Seguros foi buscar a expertise da seguradora
norueguesa Norwegian Hull Club (NHC). Ambas firmaram recentemente
uma parceria cujo objetivo é ofertar apólices para o segmento de
embarcações especializadas no atendimento à indústria de petróleo
da costa brasileira. "Os negócios neste segmento são muito grandes,
com apólices de US$ 300 milhões de valores em risco", justifica
Rodrigues, da Liberty.
Apetite estrangeiro. Interessadas em abocanhar uma fatia dos
seguros de grandes riscos, mais seguradoras e resseguradoras devem
continuar desembarcando no Brasil. Argo Brasil, Essor Seguros, a
francesa Axa, a americana Starr Companies e também a britânica
Torus Insurance integram a lista de companhias que estão de olho
nesse mercado. Isso porque, além dos grandes riscos envolvidos nas
obras de infraestrutura, os projetos também devem impulsionar,
segundo executivos do mercado, o segmento corporativo, com demanda
para seguros de vida e acidentes pessoais.