A Justos nem começou sua operação, mas já acumulou R$ 212
milhões em aportes de fundos como Kaszek e de fundadores de
negócios como Kavak e Nubank
O
investimento em startups brasileiras está acelerado – e
40% do dinheiro colocado pelos fundos de capital de risco está
concentrado em startups de serviços financeiros. A Justos, uma
startup que vai oferecer seguros de automóvel com preços baseados
no comportamento dos motoristas, é o exemplo mais recente da aposta
dos fundos de venture capital.
A
insurtech anunciou nesta segunda-feira (25) a captação de uma
rodada série A de R$ 197 milhões (US$ 35,8 milhões). O investimento
foi liderado pelo fundo Ribbit Capital (que tem no portfólio
startups como Brex, Coinbase e Cora) e acompanhado pelos fundos
SoftBank Latin America Fund (Gympass, Loggi, Rappi) e GGV (Frubana,
Idwall, Loggi). Investidores de uma rodada anterior de R$ 15
milhões redobraram as apostas: os fundos BigBets e Kaszek, assim
como David Velez (CEO do Nubank) e Carlos Garcia Otatti (CEO da
Kavak).
Ao
todo, a Justos captou R$ 212 milhões com investidores. Os recursos
estão sendo usados em contratações e tecnologia para finalmente
começar a operação do aplicativo até o final deste ano.
O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo
do InfoMoney, conversou com o cofundador Dhaval
Chadha sobre o tamanho de mercado dos seguros e quais os planos da
startup depois do novo aporte. O mercado é grande e com
oportunidade de digitalização e crescimento. Mas já existe
competição com outras startups de olho na mesma oportunidade.
Oportunidade em seguros
digitais e flexíveis
O
setor de seguros é gigante: foram receitas de R$ 172,6 bilhões
apenas nos sete primeiros meses de 2021, segundo a Confederação
Nacional das Seguradoras (CNseg). Mas a presença desses produtos
entre a sociedade brasileira ainda é baixa, mesmo no conhecido
seguro de automóvel. 70% dos carros registrados no
Brasil não têm um seguro.
A
Justos foi criada pelo espanhol Antonio Molins, pelo indiano Dhaval
Chadha e pelo mexicano Jorge Soto Moreno. Eles se conheceram quando
estavam no Vale do Silício, trabalhando para empresas como Airbnb,
ClassPass e Netflix. Quando decidiram empreender juntos, Chadha se
lembrou dos oito anos em que morou no Brasil. Como mexicano, Moreno
também conhecia o mercado latino-americano. Para a Justos, a
resposta para ampliar as contratações do seguro automóvel no país
está em processos mais simples e preços mais acessíveis.
Dhaval
Chadha, Antonio Molins e Jorge Soto Moreno, da Justos
(Divulgação)
O
usuário baixará o aplicativo e colocará dados como CPF, CEP e placa
do carro para receber a cotação padrão de seguro automotivo da
startup. Segundo Chadha, o preço ficará cerca de 15% menor do que o
visto nas seguradoras tradicionais de partida.
A
Justos conseguirá fornecer um desconto adicional também de até 15%,
após coletar dados de 80 quilômetros de direção. A startup realiza
medições a partir dos smartphones dos usuários para definir seu
perfil de direção, o risco associado e a precificação mais adequada
para ele. Alguns pontos analisados serão aceleração, velocidade
médias, freadas bruscas e se a pessoa fala no celular enquanto
dirige.
“Todo mês, o usuário tem a oportunidade de ganhar um desconto que
será aplicado no pagamento do mês seguinte”, explica o cofundador.
No total, será uma redução de até 30% no preço do seguro auto.
No
momento, a Justos está com uma lista de espera de 12 mil usuários.
Eles já podem fornecer seus dados de comportamento pelos
quilômetros rodados. Os bons motoristas entram em uma “lista VIP”
da Justos, garantindo um desconto adicional assim que o aplicativo
começar a operar.
O
Brasil tem mais de 110 insurtechs, segundo um estudo feito pela
empresa de inovação Distrito em janeiro de 2020. Alguns exemplos de
startups de seguros que também oferecem seguros automotivos são
Pier, Thinkseg e Youse. A Pier aposta em coberturas mais essenciais
para reduzir os preços, deixando de cobrir colisões parciais e
cobertura de terceiros, por exemplo. A Thinkseg olha para
quilômetros rodados para definir seu preço, priorizando quem usa o
automóvel de forma mais flexível. Por fim, a Youse aposta na
contratação de planos com coberturas customizadas. Todas as
empresas oferecem contratações digitais.
“Colocamos como primeiro diferencial nossa tecnologia de medição e
comunicação de informações; essa telemetria se reflete nos preços.
Um segundo diferencial é a experiência do usuário em receber sua
cotação customizada e em contratar o seguro com menos tempo de
espera e com um atendimento bem humanizado”, diz Chadha.
Investimentos e planos
acelerados
Em
novembro de 2020, os fundadores assinaram um acordo para
investimento de R$ 15 milhões na ideia. O aporte semente foi
liberado pelos fundos Big Bets e Kaszek Ventures. O Big Bets tem no
portfólio startups como ChatPay, Conta Simples e Lemon. Já o Kaszek
Ventures foi criado pelos cofundadores do Mercado Livre Hernán
Kazah e Nicolas Szekasy e investiu em mais de 75 startups, muitas
delas unicórnios brasileiros. Alguns desses fundadores de startups
bilionárias também participaram do investimento na Justos como
anjos. É o caso de Carlos Garcia, da Kavak; David Vélez, do Nubank;
Patrick Sigrist, do Ifood; e Sergio Furio, da Creditas.
O
principal foco do aporte foi ampliar a equipe da insurtech e
desenhar os processos de avaliação e concessão do seguro auto. A
Justos esperava captar uma nova rodada apenas depois do lançamento
do apliativo – mas o crescimento da lista de espera provocou uma
antecipação. O investimento série A veio apenas 11 meses depois do
primeiro aporte (conheça
os estágios de crescimento de uma startup).
Os
novos R$ 197 milhões serão usados para continuar contratações, para
entrar em novos ramos de seguros e para expandir
geograficamente.
A
Justos tem 30 funcionários e espera chegar a 50 deles no final de
2021, e a 200 no final de 2022. O próximo ano será dedicado a
expansão pelo Brasil, enquanto 2023 será marcado pela chegada da
Justos ao mercado mexicano. Por fim, a Justos está de olho em
verticais como seguro residencial e seguro de vida também a partir
do próximo ano. Mas a startup terá de, ainda em 2021, provar seus
diferenciais de preço e de experiência do usuário.