Uma pesquisa da Associação Paulista de
Medicina constatou que 96% dos usuários de planos de saúde do
estado de São
Paulo tiveram alguma dificuldade na hora de usar o
serviço.
Esse é o serviço que deixa 100% feliz
só quem não precisa usar.
“Até agora, eu não precisei de coisas
mais especificas, então para mim está bom, está tranquilo”.
Mas para não usar, é caro.
“Gasto em média R$ 1 mil. Não acho que
vale a pena porque esse valor todo é só o valor fixo, fora a
coparticipação. A gente usa pouco, na verdade, e quando precisa tem
o valor agregado e vê que é bem pesado daí”, disse a professora
Karen da Rosa.
A acupunturista Marliete Rodrigues
paga, mas não teve quando precisou usar.
“Eu tive que ir no hospital público porque o convênio que eu já
estava pagando há dois meses não estava atendendo por causa da
carência”.
Um grupo que faz parte dos 11 milhões de brasileiros que usaram
plano de saúde nos últimos dois anos foram ouvidos em uma pesquisa
encomendada pela Associação Paulista de Medicina.
Eles relataram principalmente demora
para marcar consultas, dificuldade para agendar exames, longa
espera no pronto atendimento, falta de hospitais para a internação,
demora para a aprovação de cirurgias.
Se 96% dos entrevistados relatam
alguma dificuldade com os serviços contratados, os pesquisadores
concluem então que os problemas com os planos de saúde na prática
viraram regra. Afetam quase todo mundo. E o que chama a atenção é
que a piora na avaliação coincidiu justamente com o período de
grandes reajustes nos preços das mensalidades.
“Isso também é resultado da omissão
da ANS, que não regula nem
fiscaliza adequadamente o setor”, afirma Mário Scheffer, professor
da faculdade de medicina da USP.
É, mas a pesquisa mostra que pode ser
ruim ficar sem.
“Ter que chegar às cinco da manhã para
pegar uma senha e conseguir uma consulta”, diz o professor José
Gomes Pedrosa Neto.
Médicos dizem que o SUS não tem
equipamentos adequados para exames e que é difícil internar um
paciente.
“A saúde suplementar não olha esse
sistema com uma parte integrante do sistema de saúde como um todo.
Ela trabalha muito com a lógica de lucro, de negócio comercial”,
disse Florisval Meinão, diretor da Associação Paulista de
Medicina.
A endocrinologista Ana Paula Pirró foi
da rede credenciada de uma seguradora por 20 anos.
“Mandaram uma cartinha que em 60 dias
eu não era mais credenciada e cortaram o meu contrato assim do
nada”.
Os médicos reclamam também da
interferência das seguradoras no tratamento, mas nem querem falar
do valor que recebem por cada consulta.
“Da vergonha falar o preço que a gente
recebe por consulta”, disse Ana Paula.
O que dizem os citados
A Federação Nacional de Saúde Suplementar declarou que os planos de
saúde estão longe de liderar os rankings de reclamações e que, em
2017, o setor apareceu na 17ª posição do Sistema Nacional de
Informações de Defesa do Consumidor.
A Associação Brasileira de Planos de Saúde informou que o lucro dos
últimos cinco anos foi baixo por causa do aumento do custo médico
hospitalar.
O Ministério da Saúde informou que o orçamento para saúde cresceu
50% em sete anos e que aumentou mais de 600% o número de leitos
para casos graves.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar declarou que adotou medidas
para melhorar a qualidade do atendimento dos planos de saúde como,
por exemplo, a definição de prazos máximos para a realização de
consultas, exames e cirurgias.