A OMS (Organização Mundial da Saúde) retirou a transexualidade
da lista de doenças mentais na nova versão da Classificação
Internacional de Doenças, a CID-11, divulgada nesta segunda-feira
(18).
A transexualidade, porém, continua na CID, como incongruência de
gênero, dentro da categoria de condições relativas à saúde
sexual.
Segundo a OMS, há claras evidências científicas de que não se
trata de doença mental, mas os cuidados de saúde a essa população
podem ser oferecidos de forma melhor se a condição estiver dentro
da CID. A mudança, diz a organização, pode ajudar a reduzir o
estigma.
A incongruência de gênero é caracterizada pela incompatibilidade
marcada e persistente entre o gênero vivido por uma pessoa e o
gênero atribuído a ela.
A lista orienta e padroniza a classificação de doenças em todo o
mundo, é peça fundamental para as estatísticas de saúde e, em
muitos países, é também a base para a oferta de tratamentos por
planos de saúde. Sua última versão, o CID-10, é de 1990.
Com a transexualidade ainda dentro da CID, dissipa-se o temor da
perda de cobertura por cobertura pelos sistemas de saúde. No
Brasil, por exemplo, os transgêneros têm direito a cirurgias de
mudança de sexo e outras terapias no SUS.
Para a cirurgia de troca de sexo no SUS, a pessoa precisa ser
avaliada, durante dois anos, por uma equipe multidisciplinar que
incluir psiquiatra, cirurgião, psicólogo, endocrinologista e
assistente social.
A lista, segundo a OMS, foi atualizada para o século 21 e
representa avanços importantes na medicina e na ciência.
O manual de distúrbios mentais (DSM, na sigla em inglês), da
Associação Americana de Psiquiatria, por exemplo, já incluiu a
homossexualidade como doença mental, mas a retirou em 1987.
Histeria, normalmente atribuída às mulheres, esteve no DSM até
1980.
O manual também já classificou a identidade transgênero como
desvio sexual em 1968. Em 2013, mudou para disforia de
gênero.
O anúncio da OMS antecipa a apresentação da nova CID na
Assembleia Mundial da Saúde de 2019. A lista, porém, só deve entrar
em vigor mesmo em 2022.
A adoção depende de cada país —ainda há alguns usando a CID-9 e
até a CID-8. A 10, lançada em 1990, foi implementada pela
Tailândia em 1994 e pelos EUA apenas em 2015.
Na nova lista, são 55 mil códigos de doença, contra 14 mil da
anterior.
Outra mudança significativa é a inclusão, pela primeira
vez, do vício em video game na lista, como transtorno de
comportamento. A mudança havia sido anunciada em janeiro.
O transtorno é caracterizado por um padrão de jogos persistente
ou recorrente e que se manifesta pela perda de controle sobre a
frequência, intensidade ou a duração dos jogos e pela prioridade
aos jogos em detrimento de outras atividades e interesses da vida.
As características normalmente são mais evidentes depois de pelo
menos 12 meses.