Doutorando em Planejamento
Ambiental pelo PPE da COPPE/UFRJ e Engenheiro de Sistemas de
Informação, o professor e consultor Flávio Geraldo Nogueira acaba
de concluir o relatório Sustentabilidade em Seguros o Brasil. O
relatório teve o objetivo de avaliar a evolução dos riscos
relativos a fatores Ambientais, Sociais e de Governança (ASG) no
mercado brasileiro. E, entre as conclusões, afirma haver diversas
oportunidades para o desenvolvimento de novos produtos para riscos
ASG e uma relação positiva e significante entre o progresso
evolutivo e as práticas de sustentabilidade das seguradoras. Leia,
a seguir, a íntegra da entrevista concedida ao portal da CNSeg.
Quais os principais objetivos do
estudo?
Avaliar a evolução dos riscos
relativos a fatores Ambientais, Sociais e de Governança (ASG) no
mercado brasileiro. Buscar uma relação entre a evolução desses
riscos e a gestão de Sustentabilidade nas seguradoras. Identificar
oportunidades para o desenvolvimento de produtos ligados a esses
riscos. Avaliar a crença da indústria nas Mudanças Climáticas
Globais (MCG) e como as seguradoras estão se preparando para essas
mudanças. E identificar riscos associados às MCG e sua relação com
a subscrição hoje e no futuro.
E quais foram as principais
conclusões?
O nível do progresso evolutivo dos
riscos ASG no Brasil foi inferior ao dos mercados desenvolvidos e
superior aos em desenvolvimento (base UNEPFI 2009). Existem
diversas oportunidades para o desenvolvimento de novos produtos
para riscos ASG, identificados e com materialidade financeira.
Existe uma relação positiva e significante entre o progresso
evolutivo e as práticas de sustentabilidade das seguradoras. As
políticas de sustentabilidade em relação às operações, prestadores
de serviço e investimentos apresentaram níveis distintos. Os
profissionais do mercado creem na existência da mudança climática
global por influência humana. Os riscos climáticos já influenciam a
subscrição hoje e influenciarão ainda mais em dez anos. As
seguradoras já estão realizando mudanças em seus processos
relacionados a riscos climáticos, envolvendo diferentes
stakeholders. Entre outras conclusões, ficou demonstrado que o
instrumento de pesquisa é robusto e pode ser aplicado, de forma
simplificada, para um monitoramento continuado da evolução dessas
questões neste e em outros mercados.
No que se refere ao mercado, como
foi avaliado seu comprometimento com a questão da
sustentabilidade?
Desenvolvemos um questionário com
base nos 12 fatores de sustentabilidade propostos pela UNEPFI em
2009. Porém, olhando para “dentro” das seguradoras, ou seja, nas
operações, relações com prestadores de serviço e investimentos.
Para cada um desses fatores foi feita uma afirmação e os
participantes avaliaram por meio de uma escala likert de sete
pontos, sendo um para “discordo completamente” e sete para
“concordo plenamente”.
Por exemplo: para avaliar o
progresso em relação fator ambiental mudança climática global foi
perguntado: como o segurado gerencia os riscos associados às
mudanças climáticas (por exemplo, adaptação de construções a
vendavais, tempestades e outros eventos climáticos), incluindo a
gestão de suas emissões de gases de efeito estufa.
Para avaliar a prática nas
seguradoras perguntamos: aempresa/mercado onde trabalho possui
políticas específicas para redução das emissões de GEE em suas
operações; redução das emissões de GEE nos serviços dos seus
parceiros e prestadores de serviço; para alocar uma parcela dos
investimentos em negócios que mitiguem as MCG como projetos de
energia eólica ou reflorestamento. Este modelo permitiu não só
avaliar a prática nas seguradoras, como também buscar uma relação
entre o progresso evolutivo e a prática nas seguradoras que
demonstramos existir.
Que contribuições o estudo oferece
ao mercado?
Inicialmente, oferece um material
de estudo sobre o tema, suportado pela literatura mais recente, e
dados representativos sobre o mercado nacional. Foi identificado um
“gap” na evolução dos riscos ASG em relação aos países
desenvolvidos e uma sinalização dos participantes de que existem
vários grupos de produto para os quais os riscos apresentam
materialidade financeira, porém ainda não são oferecidos produtos.
Esses dados indicam oportunidades para o desenvolvimento de novos
produtos e sua devida regulação.
O modelo proposto pela UNEPFI em
2009 se mostrou robusto para o mercado brasileiro e descobriu-se
uma relação significante entre o progresso evolutivo e o
desenvolvimento, ou comprometimento, dessas práticas nas
seguradoras. Isso significa que as empresas podem utilizar esse
instrumento não só para avaliar como seus clientes e prospects
estão lidando com esses riscos, mas também se o seu desenvolvimento
interno esta compatível.
Para usar uma imagem popular se o
compararmos o segurador com um ferreiro em relação aos riscos ASG
poderemos dizer se o espeto é de “pau” de ferro ou de aço. Na visão
dos respondentes hoje esse espeto é de ferro.
Nessa avaliação surgiu também um
“gap” entre a percepção dos participantes em relação à aplicação de
parte das reservas em investimentos voltados para o desenvolvimento
e a sua distribuição efetiva. Essa questão é longe de ser simples,
mas, em minha opinião, deve ser debatida profundamente.
Finalmente, fizemos um estudo
pioneiro na análise do desenvolvimento em relação aos riscos
climáticos que indicou necessidade de maior divulgação e estudo
deste tema pelo mercado bem como um envolvimento maior de
outrosstakeholders como pode ser visto no relatório.