A
rápida digitalização da economia como resposta à política de
isolamento social e combate à Covid-19 teve como efeito colateral
um aumento expressivo dos ataques cibernéticos. O
chamado ransoware, invasão dos sistemas com posterior
pedido de resgate, disparou ao longo da pandemia e colocou todos em
alerta. No setor de seguros, uma das respostas à nova realidade é a
circular 638, da Superintendência de Seguros Privados (Susep) que
dispõe sobre requisitos de segurança cibernética a serem observados
pelas sociedades seguradoras.
“Há
um mundo novo que vem com novos riscos. Os ataques cibernéticos não
são uma ameaça, mas uma realidade. O regulador, naturalmente, reage
a este novo cenário, tomando o cuidado de adotar medidas que
impulsionem a transformação e não a retarde, de forma segura”,
comentou Victor de Almeida França, coordenador de Regulação de
Riscos Ativos e Controle Internos da Susep, ao participar do painel
“Segurança Cibernética”, na Conseguro 2021 da Confederação Nacional
das Seguradoras – CNseg.
O
representante da Susep apresentou dados sobre a intensificação dos
ataques cibernéticos, lembrando que o setor de seguros é bastante
visado por ser intensivo em dados. Em 2019, segundo levantamento da
Accenture, o custo médio de cada ataque no setor de seguros chegou
a US$ 15 milhões no mundo. No Brasil, o custo médio gira na faixa
de US$ 7 milhões anuais. Em relação às tentativas de ataque, foram
registradas no Brasil 8,4 bilhões de tentativas no ano passado,
contra 3,2 bilhões só no primeiro trimestre deste ano. “Os números
mostram que as coisas não estão melhorando e é preciso avançar na
proteção das informações”, ressaltou França acrescentando que
os ransowares, como os que tiraram do ar o STJ por 15
dias, e a utilização de dados em nuvem, pelo risco de algum
vazamento, preocupam o regulador.
Sobre a circular 638/21, o coordenador citou alguns pontos
importantes, como definir que a política de segurança cibernética é
complementar à política de gestão de risco, criar regras para
terceirização de serviços de armazenamento de dados, definir a
classificação de dados e situações de risco e dar diretrizes para a
implementação de processos de segurança cibernética, entre outros.
“Um ponto importante é que as seguradoras, quando forem alvo de um
ataque, terão que compartilhar as informações a respeito do
ocorrido, o que contribuirá para mitigar vulnerabilidades
semelhantes que possam existir em outros players.
Isto melhorará o risco sistêmico”, acrescentou.
Sylvia Varoto, presidente da Comissão de Assuntos Jurídicos da
FenSeg e superintendente Jurídica da Allianz Seguros, elogiou
a iniciativa da Susep. “É ótimo ter o órgão regulador ao nosso
lado, preocupado com o risco cibernético, isto nos dá mais
confiança no trabalho das seguradoras”, comentou a coordenadora do
painel, acrescentando que o setor de seguros ficou muito mais
exposto pela rápida digitalização dos processos ao longo da
pandemia.
Sobre o compartilhamento das informações dos ataques feitos às
seguradoras, que a Susep optou por deixar que as próprias empresas
definam o melhor modelo, Wagner Pereira, especialista em Cyber
Security da Zurich comentou que o tema já está em debate em
comissões temáticas da CNSeg. “O objetivo é que o
compartilhamento seja bastante técnico, mostrando qual o vetor de
ataque, o método usado e o ponto de vulnerabilidade daquela
seguradora”, explicou Pereira. “A troca de experiências vai
aumentar a segurança de todo o mercado segurador ao evitar que
aquele tipo de ataque por uma determinada vulnerabilidade se repita
em outra seguradora”.
O
executivo da Zurich lembrou que as seguradoras vêm investindo na
segurança de seus sistemas, mas que há muito a ser feito. “Não
basta ter uma equipe dedicada à segurança com riscos identificados
e mapeados, é preciso também ter um plano de ação para falhas, já
elaborado”, disse.
Em
relação ao desenvolvimento de coberturas voltadas para proteção dos
contra ataques cibernéticos, os painelistas lembraram que o caminho
ainda é longo e que o limite de aceitação do risco pode ser uma
dificuldade. “Existem vários tipos
de ransoware e alguns com exigências de
pagamento de resgates a valores enormes. Precisa ver se o mercado
segurador tem apetite para tanto risco ou se vai seguir com
sublimites para coberturas de ataques cibernéticos. É um debate
importante”, comentou Fred Ferreira, CEO da Austral
Seguradora. Ele acrescentou que antes de ofertar produtos
específicos, muitas empresas fazem uma consultoria com as
companhias para que elas melhorem e passem a ter um risco aceitável
pelo mercado.
Diego Massara, membro da Comissão de Assuntos Jurídicos da CNseg e
Superintendente Jurídico Corporativo da Junto Seguros, lembrou
que além da circular 638, que vai exigir adaptações das
seguradoras, outra ponto de atenção é a Lei Geral de Proteção
de Dados (LGPD). “Você deve ter um executivo responsável, uma área
dedicada à segurança, mas a responsabilidade é de todos. É
preciso proteger os dados dos clientes, mas também dos corretores,
colaboradores e outros prestadores de serviço”, comentou
Massara.
Sobre a circular 638, o executivo elogiou a iniciativa da Susep,
acrescentando que o primeiro passo e o mais essencial é mapear e
conhecer os riscos de cada companhia. “Risco ruim é risco
desconhecido. Temos novidades regulatórias, legais, e já sabemos
como caminhar”, concluiu.
· As
inscrições podem ser feitas em http://conseguro.cnseg.org.br/
· O evento vai
até 01/10
· A
programação completa está disponível em http://conseguro.cnseg.org.br/
Conseguro
2021
Quando: 27/09 a
01/10
Inscrições gratuitas: conseguro.cnseg.org.br
Horário: a partir das 10h em 27/09
e a partir das 11h nos demais dias
Contato: Mariza Louven
[email protected]