Com crise, número de
beneficiários de planos de saúde privados diminuiu
Tema
extremamente sensível, que todos os anos mexe com a opinião pública
nacional, o reajuste dos planos de saúde privados é um
assunto delicado, que envolve situações e realidades
diferentes.
O
Brasil tem atualmente perto de 48 milhões de beneficiários de
planos de saúde privados. Este número já esteve acima de 50
milhões. A queda é decorrência da crise econômica que atingiu o
país em 2015 e da pandemia do coronavírus, que gerou
desemprego recorde no ano passado. Em 2020, o total de
beneficiários chegou a 47 milhões, ou 3 milhões a menos do que
antes da crise de 2015. Esses números são importantes porque
mostram como a renda das pessoas e o preço dos planos têm impacto
direto no total de beneficiários cobertos por eles.
É
comum os planos de saúde privados serem atacados por políticos,
líderes de classe, sindicalistas, órgãos de defesa do consumidor,
prestadores de serviços ligados ao setor etc. De outro lado, os
planos de saúde privados aparecem regularmente entre os sonhos de
consumo do brasileiro. E a sua oferta nos pacotes de benefícios
oferecidos é um dos grandes diferenciais na contratação de pessoal.
Quer dizer, de zero ao infinito, o céu é o limite, o que torna o
tema altamente polêmico.
O
que é certo é que é um produto com fortíssima carga social e, por
isso mesmo, altamente emocional. E isso tem consequências,
inclusive na sua judicialização.
Brasil tem hoje quase 48 milhões de
beneficiários de planos de saúde privados Foto: Hélvio
Romero/Estadão
Não cabe discutir aqui se a lei dos
planos de saúde é boa. Ela não é boa, mas é a que temos, assim, os
planos de saúde precisam ser vistos dentro do contexto real, e não
num universo ideal, longe do dia a dia das pessoas. Neste cenário,
a primeira verdade insofismável é que a capacidade operacional do
sistema é limitada por dois fatores: o número de beneficiários e a
capacidade de custeio. Isto impede que os planos gastem mais do que
faturam, sob risco de quebrarem.
Os
planos de saúde se baseiam, essencialmente, no mutualismo. São um
grande fundo, composto pelo pagamento proporcional de seus
beneficiários, com a missão de amparar, nos termos do contrato, as
necessidades de saúde dos integrantes do grupo que precisem de
atendimento.
Para
que os planos possam cumprir sua missão, é indispensável que tenham
faturamento capaz de suportar o custeio do atendimento à saúde,
despesas administrativas e comerciais, carga tributária e o
superávit necessário para investimentos e remuneração do capital.
Se o plano não operar nessas condições, será deficitário e, em
algum momento, não conseguirá atender seus stakeholders.
De
outro lado, a capacidade de custeio da sociedade também é limitada.
Hoje, o universo segurável é de mais ou menos 50 milhões de
pessoas, que não dispõem de recursos infinitos para pagar sua
operadora de saúde, ainda que a maioria dos planos seja bancada
pelas empresas empregadoras.
É aí
que a sintonia fina precisa ser regulada com enorme sensibilidade.
Não adianta o plano querer cobrar o que quiser, e não adianta o
beneficiário querer ser atendido como bem desejar. Essa conta não
fecha. Então, a pergunta a ser respondida é como delimitar o
aumento ideal, dando o preço justo para o serviço oferecido. Ou
seja, o máximo de cobertura pelo mínimo de preço.
Para
isso, é indispensável a transparência da operação. Cada plano de
saúde tem uma realidade única, só sua e de seus segurados. Aumentos
lineares podem ser injustos, ao beneficiarem um plano com custo
baixo e onerar outro com custos mais elevados.
Dentro do princípio da mutualidade, o modelo perfeito seria a
divisão das despesas pelo total dos beneficiários, encontrando-se,
assim, o custo unitário da operação. Sobre este valor seriam feitos
os acertos para mais ou para menos, decorrentes das características
de cada segurado ou grupo de segurados. E essa conta deveria ser
aberta, explicando cada passo da operação.
De
toda forma, é bom lembrar que, com mais de 600 operadoras
cadastradas, a concorrência não permite que os planos reajustem
seus preços em patamares exorbitantes. Quem fizer isso corre o
risco de sair do mercado.
*SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR
ADVOCACIA E SECRETÁRIO-GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS