Por Fernanda
Fortuna. Engenheira Biomédica pela Universidade Federal do
ABC, Fernanda passou um ano na Escócia estudando Engenharia
Mecânica. Após retornar ao Brasil, emprendeu na área de robótica e
reabilitação. Apaixonada por tecnologia e saúde, hoje atua na
curadoria de conteúdo para os eventos Saúde Business Fórum,
Hospitalar e Healthcare Innovation Show.
Hoje 47 milhões pessoas contam com
o privilégio de poder acessar a saúde suplementar no Brasil, cerca
de 22% da população. O principal responsável por esse benefício são
os planos empresariais, que compõem quase 70% da carteira das
operadoras. Ainda é tradicional que se ofereça esse direito ao
trabalhador, porém, 3 em cada 10 empresas já enxugam essa
conveniência da folha de pagamento. Muitos sabem, o custo com a
saúde dos funcionários se tornou a segunda maior conta das
organizações.
Segundo a ANS, o ano de 2019 foi
bastante proveitoso na adoção de novas práticas pela Agência e no
estabelecimento e revisão de normativas que regulamentam o setor de
planos de saúde. O ano também se destacou pelo forte incentivo à
adoção de um modelo de assistência em saúde mais eficiente e
sustentável, com cuidado centrado no paciente, pelo crescente
índice de desfechos positivos na intermediação e solução de
conflitos entre beneficiários e operadoras, pelo investimento e
estímulo à adoção de boas práticas de governança com redução de
desperdícios e transparência.
Apesar das iniciativas serem
fundamentais, o setor enfrenta desafios, como o aumento, muito
acima da inflação, do financiamento dos serviços de saúde, o que
onera cada vez mais as empresas e os usuários. Também como fator de
aumento de custos pode-se listar o processo de evolução
demográfica, como o consequente envelhecimento da população, e a
tendência de maior utilização dos serviços de saúde de forma não
consciente. Como discurso em 2020, o portal Saúde Business adotou
como lema: paciente certo, no lugar certo, no tempo certo.
Um dos maiores desafios, de acordo
com Rafael Lucchesi, diretor-superintendente do Serviço Social da
Indústria (Sesi), é que a evolução dos custos não necessariamente
se reflete em melhoria da qualidade dos serviços. Muito pelo
contrário. Muitas vezes ela é causada por problemas do próprio
sistema, como desperdícios, fraudes e uso indiscriminado de
recursos.
Não é segredo que, nos últimos
anos, operadoras e prestadores têm se juntado para encontrar novos
modelos que atendam às necessidades dos beneficiários e promovam a
sustentabilidade do setor. Para isso, cada vez mais soluções de
tecnologia habilitam as operações das tendências. Nesse sentido, o
recurso mais importante dentro do sistema de saúde são os dados e
como estes podem trazer insights para soluções integradas.
O futuro do cuidado na saúde está
em trabalhar lado a lado com a tecnologia. Isso significa que os
profissionais de saúde, sejam na assistência ou na gestão,
precisam, em todos os níveis, estarem aptos e engajados em sua
adoção, para que as suas instituições se mantenham relevantes nos
próximos anos e ofereçam a sua melhor contribuição disponível.
No entanto, alcançar um sistema de
saúde eficiente não implica apenas na adoção de novas tecnologias.
É necessário uma estratégia digital clara, por exemplo, dentro dos
hospitais, entre os provedores e entre o sistema como um todo.
Intra-provedores, em dados, atuais e de histórico, acessíveis à
todos profissionais que interagirem com o paciente, promovendo
segurança e qualidade assistencial. Inter-provedores, com troca de
informações, como exames e diretrizes de cuidado em seus outros
pontos de jornada. E inter-players, incluindo o paciente, focando
na coordenação do cuidado, padronização de indicadores,
transparência e disponibilidade de dados. Como resultado, talvez o
índice custo-desfecho seja o mais importante nas relações de
escolha entre os beneficiários, prestadores e pagadores.
Como exemplo, em outubro de 2019, a
ANS lançou o projeto Modelos de Remuneração Baseados em Valor. A
iniciativa selecionou 13 projetos-pilotos de operadoras de planos
de saúde fundamentados em experiências que levem em conta os
resultados em saúde. “Temos hoje um ciclo vicioso onde o cuidado em
saúde é descoordenado e fragmentado, com duplicação de esforços e
sem previsão dos desfechos clínicos para a remuneração de
prestadores. A qualidade do que está sendo entregue e a satisfação
do beneficiário precisam ser consideradas”, disse Ana Paula
Cavalcante, gerente de estímulo à inovação e avaliação da qualidade
setorial da ANS
Outro projeto da ANS, em parceria
com o Hospital Moinhos de Vento, para citar, é o Consórcio de
Indicadores de Qualidade Hospitalar, que consiste em um conjunto de
indicadores que serão aplicados a 12 hospitais selecionados, em
todo Brasil. Lançado em agosto de 2019, o projeto vai atualizar e
ampliar o monitoramento dos desfechos através de uma ferramenta de
coleta de dados padronizada. O propósito é criar um sistema único
de avaliação da qualidade das instituições que permita
comparabilidade, identificação de boas práticas e pontos de
aprimoramento, desenvolvimento de políticas baseadas em desempenho
e disponibilidade de informações para a sociedade, possibilitando
maior poder de decisão sobre os serviços hospitalares
disponíveis.
Projetos assim são um grande passo
em direção a ações práticas e validação das discussões teóricas. O
setor de saúde suplementar passou por vários ciclos de priorização,
de ênfase na regulação assistencial e no acesso, ao foco na
regulação econômica. Todas as ações contribuíram para a
organização, modernização do setor e busca contínua pela
sustentabilidade.
De forma geral, as principais
discussões giram em torno da integração de dados para tomada de
melhores decisões como setor, do foco na saúde integral dos
beneficiários e coordenação de cuidado, da reflexão sobre modelos
organizacionais, e claro, sobre formas de se remunerar a partir de
desfechos clínicos, qualidade e segurança do paciente.