FenaSaúde detalha motivos do reajuste
dos planos individuais autorizado pela ANS
Os custos da área de saúde não param
de crescer, por isso os reajustes dos planos de saúde continuam,
ano após ano, bem maiores que a inflação geral, mesmo em um cenário
de crise econômica que assola o país. A Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) divulgou, nesta sexta-feira (19), o índice
autorizado para o reajuste de planos de saúde individual e
familiar, fixado em 13,55%, que atingirá cerca de 8 milhões do
total de 47,5 milhões de beneficiários da saúde suplementar. De
acordo com levantamento da Federação Nacional de Saúde Suplementar
(FenaSaúde), a despesa assistencial per capita, em 2016, foi de
19,17%. Por sua vez, o VCMH (Variação de Custo Médico Hospitalar)
estimado foi de, aproximadamente, 20%, calculado em um conjunto de
planos individuais, segundo o Instituto de Estudos de Saúde
Suplementar em 2016.
Para a FenaSaúde, a situação é
prejudicial tanto para consumidores, que pagam mais caro por seus
planos de saúde para terem acesso a assistência privada à saúde;
quanto para as empresas de planos de saúde, que são obrigados a
custearem a escalada de custo do serviço de saúde – com os
atendimentos hospitalares e médicos –, a partir das mensalidades
desembolsadas pelos consumidores. Mesmo em um cenário de queda do
número de beneficiários (perda de 1,5 milhão em 2016), constatou-se
o aumento do número de procedimentos médicos (exames, consultas,
internações etc.) no mesmo período. Em 2015, foram realizados 759
milhões de exames e 267 milhões de consultas, em 2016, esses
números saltam para 917 milhões e 301 milhões, respectivamente.
“Para comprovar a pressão de custo que
atinge o setor, um exemplo é o teste Ergométrico Computadorizado,
precificado em média de R$ 241,26. Em 2016, foram realizados mais
de 3,8 milhões deste tipo de exame, aumento de 8% na comparação com
2015. Somente este crescimento (268 mil exames) representa um custo
estimado de R$ 65 milhões nas despesas das operadoras”, explica
Solange Beatriz Palheiro Mendes, presidente da FenaSaúde.
A executiva também ressalta que a cada
dois anos há uma atualização do Rol de Procedimentos da ANS com
novas inclusões para cobertura. Em 2016, por exemplo, foi
incorporado a Enzalutamida, medicamento oral para o tratamento de
câncer de próstata. O custo de um mês de tratamento com esse
medicamento é de, aproximadamente, R$ 14 mil.
Outro fator que favorece o aumento dos
custos no setor de saúde são as demandas de liminares judiciais.
Exemplos: o medicamento Spinraza, sem registro na ANVISA, demandado
para tratamento de distrofia muscular, com custo anual estimado de
US 1 milhão para o primeiro ano de tratamento, mais US 300 mil
anuais a partir do segundo ano de tratamento. Outro medicamento,
Sovaldi (Sofosbuvir), com registro na ANVISA, destinado ao
tratamento de hepatite tipo C, com custo de R$ 55 mil a R$ 80 mil a
caixa com 28 comprimidos, sendo que o tratamento se estende por
três meses. Ou seja, o custo apenas do medicamento para todo o
tratamento fica entre R$ 165 mil e R$ 240 mil.
No ano passado, o aumento de preços de
materiais, novas tecnologias, serviços hospitalares, medicamentos,
honorários médicos, exames, entre outros, impactam a inflação do
setor de saúde, em média, o dobro da inflação de preços. Para cada
R$ 100 recebidos pelos planos de saúde, as empresas do setor gastam
R$ 99,9 em despesas assistenciais, comerciais, administrativas e
com impostos.
“As operadoras administram os recursos
dos beneficiários para pagar todos os fornecedores da cadeia de
saúde: médicos, hospitais, laboratórios, tecnologias, medicamentos
obrigatórios, órteses etc. Estes agentes da saúde exercem pressão
sobre os preços e não se submetem à avaliação e às regras
estipuladas pela ANS. Toda essa complexa cadeia pressiona a alta
dos custos, sendo uma das causas dos reajustes dos planos de
saúde”, pondera a presidente da FenaSaúde.
A A despesa assistencial per capita,
pelos cálculos da FenaSaúde, cresceu 138,3%, de 2008 a 2016. Neste
mesmo período, a inflação medida pelo IPCA foi de 65,8% e o
reajuste autorizado pela ANS para os planos individuais foi de
104,2% acumulados no período. Não é de hoje que a FenaSaúde alerta
para a necessidade de combate às causas que impactam o reajuste dos
planos de saúde, em busca de oferecer o serviço para uma quantidade
maior de pessoas. Governo e a ANS precisam avançar nas medidas para
conter a expansão dos custos assistenciais.
Cinco fatores cruciais que impulsionam
o reajuste:
· Aumento do uso dos procedimentos e
recursos médicos, muitas vezes estimulado pelos próprios
prestadores de serviço. Cabe examinar se há necessidade para tal
ação que impõe ao paciente a realização de inúmeros exames.
· Modelo de remuneração dos
prestadores de serviços médicos baseado na quantidade de
procedimentos realizados. Ou seja, quanto mais pedidos de exames,
consultas e diversos outros procedimentos maior será o retorno
financeiro de médicos, hospitais, laboratórios etc.
· Desperdícios e fraudes dos recursos
no sistema de saúde – por exemplo, na realização de cirurgias com
uso de órteses e próteses sem a real necessidade clínica comprovada
(Máfia das Próteses).
· Incorporação acrítica de novas
tecnologias à lista obrigatória de procedimentos a serem cobertos
pelos planos. Nesse caso, o avanço da tecnologia é positivo para o
cuidado com a vida, mas é preciso analisar se a indicação tem um
equilíbrio entre seu custo e sua efetividade, ou seja, se tal
procedimento traz, de fato, um melhor resultado efetivo à
coletividade em comparação aos já presentes na lista. Toda inclusão
traz impacto – a longo prazo – ao valor das mensalidades dos
planos, já que a inserção de procedimentos não decorre da
substituição dos existentes anteriormente.
· Impacto da carteira de clientes no
reajuste dos planos de saúde: ou seja, perfis dos participantes;
recorte etário desses beneficiários; distribuição geográfica dos
planos; redes de prestadores de serviços médicos, se próprias ou
credenciadas; entre outros aspectos.