Os consumidores podem se preparar para
um aumento de dois dígitos nos planos de saúde individuais e
familiares este ano. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS),
órgão que autoriza o reajuste, não confirmou a alta de 14%
ventilada esta semana. No entanto, especialistas do setor estimam
que, para acompanhar a elevação dos preços médicos, a correção nos
valores dos planos pode chegar a 19%. Bem acima, portanto, da
inflação oficial. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em
2016, foi de 6,29%. Para 2017, a estimativa do Banco Central é de
3,6% e a do mercado, de 4,10%.
Conforme a ANS, o reajuste anual por
variação de custos dos planos de saúde individuais e familiares é
aplicado na data de aniversário do contrato. Para o período
compreendido entre maio de 2017 e abril de 2018, a correção “ainda
está em estudo”, informou, em nota. Para o mesmo período do ano
passado, a agência autorizou aumento de 13,57%.
Diferenças
A ANS alertou, contudo, que há uma
diferença entre o reajuste dos planos de saúde e os índices gerais
de preço. “A inflação medida por esses índices representa a
variação média de preços de diversos produtos e serviços que
compõem a cesta de consumo das famílias. No caso dos planos de
saúde, é contabilizado, além dos valores dos serviços médicos, o
aumento da frequência de utilização desses serviços”, afirmou.
“Além disso, novas tecnologias são incorporadas, o que impacta nos
reajustes”, emendou.
O diretor da Associação Brasileira de
Planos de Saúde (Abramge), Pedro Ramos, disse que o setor espera
uma correção média de 19%. “Isso é o mínimo para ajustar os planos.
Nos últimos 10 anos, não houve recomposição da inflação médica. No
ano passado, foi de 19%, e o governo autorizou 13,53%”, destacou.
Ramos explicou que os índices do custo de vida e de preços médicos
são distantes entre si em todos os países.
Conforme a Abramge, o envelhecimento
da população, a incorporação de novas tecnologias, além de
desperdícios e fraudes, são os principais motivos da escalada dos
custos médico-hospitalares. Os reajustes concedidos pela ANS não
acompanharam a disparada, justificou Ramos. “As operadoras absorvem
o deficit”, destacou. A redução da margem de lucro levou muitas
empresas à insolvência.
Os planos de autogestão, sem fins
lucrativos, também sofrem impacto do encarecimento da saúde, porque
a sinistralidade (utilização) influencia nos custos. A taxa geral
de sinistros é de 85,6%, porém, segundo a União Nacional das
Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas), nos convênios
autogeridos salta para 94,8%. “Buscar soluções para isso é
essencial, já que a modalidade de autogestão tem o melhor
custo-benefício. Não temos reajustes muito altos, já que não
visamos o lucro, no entanto, nossa carteira de idosos é a maior do
setor e só aumenta, o que eleva a sinistralidade”, avaliou o
vice-presidente da Unidas, João Paulo dos Reis Neto.