A irmã Márcia Aparecida Brito,
diretora da escola Jesus Maria José, em Santo Amaro, zona sul da
capital paulista, conta que, neste ano, chegou a atender cinco
famílias na mesma semana em busca de seguro educacional por causa
de desemprego. Em 2015, essa quantidade de procura não ocorria nem
em um mês.
“Alguns pais chegavam chorando na
escola sem saber o que fazer e, quando conheciam o seguro, iam
embora chorando de alegria pela tranquilidade”, diz ela. “A gente
entende que o seguro é bom para a escola e também para os
alunos.”
O produto adotado cobre três
mensalidades. Garante a continuidade do mesmo serviço –se o aluno
estuda em tempo integral, seguirá nessa modalidade, por
exemplo.
A escola conta com o seguro desde
2012, mas a partir deste ano ampliou a cobertura para as outras
onze unidades pelo país. Agora, são 6.000 alunos segurados.
A contratação custou entre 1% e 2%
por mensalidade. Segundo a direção, o valor é absorvido na planilha
de custos das escolas.
Na educação básica, o seguro contra
o desemprego é vinculado ao responsável financeiro –em geral, os
pais dos alunos. Isso também pode ocorrer no ensino superior, mas é
menos comum, segundo corretoras e escolas.
Até setembro, o valor gasto com
seguros educacionais foi de R$ 34 milhões em todo país. Já é 19%
superior ao total registrado em 2015 –em valores atualizados pela
inflação.
Comparando setembro com o mesmo mês
do ano passado, a alta é de 62%. Os dados são da Susep
(Superintendência de Seguros Privados).
As empresas seguradoras que
oferecem o ramo educacional já pagaram, até setembro deste ano, R$
24,4 milhões em indenizações. É mais que o dobro do pago até
setembro de 2015, quando as indenizações somaram R$ 12,1 milhões
(em valores corrigidos pela inflação), segundo estatísticas da
Susep (Superintendência de Seguros Privados), autarquia do
Ministério da Fazenda.
NECESSIDADE
O analista de sistemas Fábio Luiz
da Silva, 43, perdeu o emprego em julho deste ano, após 26 anos de
trabalho na mesma empresa. Foi o seguro educacional que garantiu a
manutenção dos dois filhos na escola dirigida pela irmã Márcia, o
que lhe deu estabilidade para procurar emprego.
“Estou mandando currículos, ainda
não consegui uma oportunidade, mas esses meses de mensalidades
pagas dá um alívio momentâneo para procurar emprego”, diz Silva,
morador da zona sul da cidade de São Paulo.
Até agora, Silva não cogita
transferir os filhos para a rede pública e gratuita. “Pelas
dificuldades que o ensino público tem, vale o esforço para tentar
oferecer uma educação melhor para eles”, diz.
De acordo com a Fenep (Federação
Nacional de Escolas Particulares), cerca de 10% dos alunos deixaram
as escolas particulares no início de 2015 e 2016. “Também houve
transferências para escolas particulares mais baratas”, diz Amábile
Pacios, da Fenep.
Aos 36 anos, a profissional de
recursos humanos Fabiana Mello nunca tinha ficado desempregada. Com
a crise, a empresa do setor automotivo em que trabalhava promoveu
um grande corte e ela acabou desempregada em julho deste ano.
‘ALÍVIO’ No mês seguinte, as
mensalidades de R$ 546 na escola do filho Victor, 12, já estavam
garantidas pelo seguro. “Sou divorciada e a única com renda na
família. Quando percebi que meu filho estava garantido, deu um
alivio”, diz. O menino estuda com bolsa no colégio Anchieta, em São
Bernardo do Campo.
O “alívio” foi essencial para
conseguir um reposicionamento no mercado de trabalho antes mesmo de
o prazo de seis meses do seguro vencer. “Dei sorte de conseguir me
recolocar rapidamente, tenho amigos que estão há meses
procurando.”
Para Muricio Della Gatta, da
corretora QH Care, com 520 instituições no portfólio, tem havido
uma mudança de planejamento nas escolas. “Não é só a crise, mas a
cultura de prevenção vem melhorando”, diz.