Surgem, no mundo todo, startups que
facilitam — e, em alguns casos, barateiam — a contratação de
seguros.
São Paulo – O setor de seguros
sempre foi visto como o mais enfadonho do mercado financeiro. Fazer
um seguro — algo corriqueiro nos países desenvolvidos — ainda não
faz parte da cultura de milhões de brasileiros: os detalhes das
apólices parecem difíceis e muitos preferem não “arriscar” pagar
por algo que, idealmente, não será usado.
Esse setor também tem menos
atrativos para os funcionários, já que os salários — e os bônus —
costumam ser menores do que os pagos pelos bancos.
Mas eis que a tecnologia está
ajudando a dar uma chacoalhada nesse mercado. Empreendedores
brasileiros vêm seguindo a tendência que surgiu nos Estados Unidos
e na Europa de montar startups que facilitam — e, dependendo do
caso, barateiam — a contratação de seguros.
Uma das mais recentes é a Segurize,
lançada em novembro de 2016. A empresa criou um aplicativo de
vendas voltado para profissionais de qualquer setor que estejam
atrás de uma renda extra: eles podem se cadastrar no aplicativo e
indicar potenciais clientes para a Segurize.
Quando os indicados compram os
seguros da empresa, os cadastrados recebem “pontos”, que podem ser
convertidos em dinheiro ou produtos, como celulares e televisores.
“Somos como o Uber dos seguros”, diz Keyton Pedreira, fundador da
Segurize, referindo-se ao aplicativo de transportes.
A ideia de criar a Segurize surgiu
quando Pedreira e seu principal sócio, Renato Cordeiro,
participaram de um curso para empreendedores, promovido por EXAME,
no qual mentores — em geral, presidentes de empresas — ajudam
empresários a traçar estratégias ou resolver problemas de seu
negócio.
Quando iniciaram o curso em agosto
deste ano, eles já eram donos da Mondial Prev, uma empresa de
softwares para corretoras de seguros.
Os sócios queriam desenvolver novos
produtos para atrair clientes. Foram orientados por Walter Schalka,
presidente da fabricante de papel e celulose Suzano.
No processo, o trio chegou à
conclusão de que seria melhor montar um negócio novo com maior
potencial de crescimento. Os cadastrados só indicam os clientes: as
vendas são fechadas por corretores da Segurize (no mercado
brasileiro de seguros, toda a intermediação da venda das apólices
deve ser feita por um corretor).
A Segurize é uma das poucas
startups voltadas para quem quer trabalhar no mercado de seguros. A
maioria das insurtechs — como estão sendo chamadas as empresas de
tecnologia que atuam nesse setor — oferece serviços para os
clientes.
As pioneiras foram as empresas de
cotação de preços, como a Bidu e a Minuto, fundadas há cerca de
cinco anos. Seus sites e aplicativos permitem pesquisar preços, mas
nem sempre é possível contratar um seguro online: em alguns casos,
o cliente precisa esperar o telefonema de um corretor para fechar
negócio.
Segundo executivos do setor, o
modelo foi pensado de forma a não contrariar os corretores. Marcelo
Blay, presidente da Minuto, diz que o brasileiro gosta de conversar
com alguém para entender os detalhes das apólices e ter um apoio
quando ocorre um sinistro.
As startups criadas mais
recentemente permitem a contratação online. É o caso da Youse, que
recebeu um investimento de 500 milhões de reais da Caixa
Seguradora, subsidiária da Caixa Econômica Federal.
O interesse de empreendedores e
potenciais investidores no mercado de seguros é explicado pelo
crescimento desse setor em meio à recessão. As receitas aumentaram,
em média, 10% ao ano desde 2014, e executivos do setor esperam uma
expansão de 8% a 10% neste ano.
“Historicamente, corretoras e
seguradoras não investem em tecnologia, e o resultado disso são
sistemas muito defasados. Essa é uma boa oportunidade para o setor
se modernizar”, diz Luis Ruivo, sócio da consultoria PwC no
Brasil.
No exterior, as insurtechs
começaram a surgir há mais de uma década. No ano passado, fundos de
capital de risco aplicaram quase 3 bilhões de reais nessas empresas
lá fora e estima-se que 10% das vendas de seguros sejam feitas por
meio de insurtechs.
No Brasil, onde o movimento é mais
recente, essas startups são responsáveis por menos de 1% das
vendas, e a maioria dos negócios está sendo financiada pelo capital
dos donos.
Um exemplo é a Thinkseg, fundada
por André Gregori, ex-presidente da seguradora do banco BTG
Pactual, com outros três sócios, que investiram 30 milhões de reais
na empresa. Seu produto é um aplicativo que acompanha o
comportamento dos motoristas — monitora dados como a quilometragem
percorrida, a velocidade e o local de estacionamento.
O plano é vender o aplicativo (que
está em fase de testes na cidade de São Paulo) para as seguradoras,
que poderão usar as informações para dar descontos a quem dirige
melhor — e cobrar mais de quem faz muita barbeiragem. Para o
cliente, vale a pena ser monótono.