Em
2014 e 2016, o Brasil vai estar no centro das atenções mundiais. A
Copa do Mundo de futebol e as Olimpíadas são os maiores eventos
esportivos do planeta tanto em público quanto em cifras: estima-se
que quase metade da população mundial tenha visto ao menos 1 minuto
de reportagens sobre a Copa de 2010 na África do Sul. No Brasil,
espera-se que os dois eventos atraiam investimentos da ordem de US$
60 bilhões. O mercado de seguros tem papel fundamental na proteção
desses recursos.
Alguns riscos são evidentes como os relacionados
à construção de novos estádios e a melhora dos existentes, dos
aeroportos e das vias de rodagem. Outros são menos óbvios: em 1950,
a Escócia desistiu de participar da Copa do Mundo no último momento
e a Itália veio fortemente desfalcada depois que um acidente aéreo,
no ano anterior, matou vários de seus jogadores. Em 1972, na
Olímpiada de Munique, um ataque terrorista vitimou diversos membros
da delegação israelense.
Atualmente, há produtos de seguros adequados para
cobertura da grande variedade de riscos envolvidos em eventos
esportivos deste porte. As apólices de riscos de engenharia,
acidentes pessoais e responsabilidade civil cobrem ampla gama de
eventos, desde a saúde dos atletas e segurança dos espectadores até
impactos negativos sobre os lucros dos investidores devidos ao não
comparecimento de protagonistas (cobertura “No Show”), a atrasos
por imprevistos climáticos e até cancelamento do evento.
Os
seguros são contratados não apenas pelos organizadores, mas também
pelas empresas participantes e pelos patrocinadores. O mercado de
seguros brasileiro já sente o impacto positivo gerado pelas obras
de infraestrutura necessárias à Copa do Mundo e às Olimpíadas.
Prova disso é a expansão dos prêmios arrecadados com o seguro
garantia que objetiva assegurar o cumprimento integral de contratos
privados, públicos ou de licitações nos prazos e custos previstos.
Em 2013, tais prêmios ultrapassaram a marca de R$ 1 bilhão, cerca
de 50% acima do que era faturado em 2010. Mais a frente, espera-se
grande incremento dos seguros de acidentes pessoais e viagens em
função da grande quantidade de pessoas afluindo às cidades
hospedeiras.
Um
fato, entretanto, preocupa a todos, investidores nacionais e
estrangeiros, governos, atletas e expectadores: as condições de
segurança face à onda de agitação social e politica no Brasil, em
particular, as manifestações contra os elevados gastos
governamentais para a realização desses eventos esportivos Tais
agitações podem ter implicações de longo alcance sobre o setor de
seguros. A Copa do Mundo pode ser seriamente abalada se as
manifestações populares se tornarem violentas. Nesse caso, é de se
esperar impacto financeiro negativo sobre ampla gama de receitas,
desde a emissão de bilhetes de entrada até direitos de TV,
patrocínios, merchandising e hospedagem. Segundo Lloyd’s de
Londres, no caso improvável de cancelamento por razões de tumultos,
as importâncias seguradas podem ser superiores a US$ 500 milhões.
Tal soma, entretanto, não chega perto do valor total em risco. Na
Olimpíada de Londres, por exemplo.
A
Swiss Re estimou que as perdas totais para redes de TV,
organizadores locais, federações esportivas e anunciantes em caso
de cancelamento atingiram de US$ 5 a US$ 6 bilhões. Não há no
mercado de seguros mundial capacidade para segurar plenamente
riscos dessa magnitude. Felizmente, para aqueles com interesses
financeiros nos jogos, a aquisição de seguros empresarias ocorre
geralmente de três a cinco anos antes da sua realização. Isto
significa que é pouco provável que os recentes tumultos no Brasil
tenham afetado a extensão das coberturas ou levado a exclusões de
risco ou aumentos de preço. Porém, para as seguradoras que já
assumiram o risco, a situação é preocupante.
É
claro que elas esperam ações adequadas de contenção de tumultos a
serem postas em prática pelos organizadores dos eventos e
investidores, mesmo por que, por contrato, tais agentes (segurados)
têm o dever de tentar mitigar as perdas potenciais. De qualquer
forma, acredita-se que, como tem acontecido, o governo brasileiro
seja capaz de manter os protestos sob controle e realizar os jogos
com sucesso. Os governos sabem que arriscam suas reputações quando
se dispõem a hospedar esses megaeventos.
Consequentemente, procuram fazer o melhor para
transcorram sem incidentes. Com exceção das duas guerras mundiais,
não existe registo de incidentes que tenham provocado o abandono ou
cancelamento de Copas do Mundo ou Olimpíadas e o mesmo é esperado
para o Rio de Janeiro e o Brasil. Quanto ao mercado de seguros, não
há dúvida de que ele vai estender adequada capacidade de proteção
de riscos a quem demandar e responder aos fatos de modo correto,
como aconteceu das outras vezes.