Até a Copa do Mundo, a
maioria das vezes que o Itaú Unibanco aparecer no horário nobre da
televisão vai ser para falar de seguros. Normalmente focado em
crédito e opções de investimentos – vide a divertida esquete “manja
debêntures?” -, a publicidade do banco voltada para a área vem em
linha com a nova ordem do grupo para sua operação de seguros:
explorar o canal bancário e aproveitar melhor a própria base de
clientes.
O Itaú está no meio do
processo de venda de sua operação de seguros de grandes riscos,
segmento em que o Bradesco reduziu significativamente sua exposição
nos últimos anos e em que o Banco do Brasil divide o risco com a
Mapfre.
A nova postura do Itaú
no mercado de seguros parece fechar um ciclo de reposicionamento
dos grandes bancos na área, que tem o Bradesco como referência: a
operação de seguros da instituição responde por 30% do lucro do
conglomerado há anos. O canal bancário ganhou maior destaque,
porém, depois da abertura de capital da BB Seguridade, que mostrou
como esse é um negócio rentável – o retorno sobre o patrimônio da
companhia gira na casa dos 40%.
O alcance da venda de
seguros entre clientes de bancos no Brasil é muito baixo, segundo a
agência Standard and Poor’s (S&P). “Isso significa que ainda há
muito espaço para crescer”, diz Amalia Bulacios, analista da
agência. Segundo ela, em países em que o mercado de seguros é mais
maduro esse percentual chega a 30% dos clientes de
bancos.
No Brasil, quem chega
mais perto desse percentual é o Bradesco, em que 25% dos clientes
têm algum produto de seguros do banco. No Itaú, essa fatia fica
entre 20% e 25%, segundo Fernando Teles, diretor executivo da área
de seguros do Itaú. Ele ressalta, porém, que esse percentual é
muito disperso entre os produtos de seguros. “Há seguros em que o
alcance dentro da base do banco chega a 50% e tem outros que são
bem menores, como o seguro viagem.” Na BB Seguridade, o espaço de
crescimento é ainda maior, com 13% dos clientes do banco com
apólices.
Segundo Ângela de
Assis, diretora de operações da BB Seguridade, dos 60 milhões de
clientes do banco, entre 15 milhões e 18 milhões têm alta propensão
de consumo de seguros. “Chegar a 25% dos clientes do banco é um
número factível, na nossa visão”, afirma.
Esse canal é tão
relevante que tem até um nome próprio em inglês: “bancassurance”,
uma mistura das palavras “bank” e “insurance”. Segundo Amalia, a
queda da rentabilidade na concessão de empréstimos tem levado os
bancos a diversificar suas receitas, e o “modelo de bancassurance
tem se mostrado bom nisso”.
Apesar do ainda grande
espaço para crescimento, o balcão do banco já é hoje o principal
canal de comercialização de apólices no país. A S&P estima que
próximo de 60% de toda a receita de prêmios de seguros seja
originada em instituições financeiras.
Os grandes bancos,
porém, têm mudado a forma como fazem negócio em seus balcões,
focando na distribuição dos produtos e deixando o gerenciamento do
negócio com parceiros. Na BB Seguridade, por exemplo, o BB tem
parceria com seguradoras especialistas para cada área de negócios.
Já o Itaú tem uma “joint venture” com a Porto Seguro para as
carteiras de seguros de residência e automóvel, em que a margem é
bastante apertada. O Bradesco atua sozinho na área.
O modelo de
distribuição de seguros dentro da agência do Bradesco também se
diferencia dos demais concorrentes. Enquanto BB e Itaú capturam os
ganhos da comercialização das apólices com uma corretora dentro de
suas estruturas, o Bradesco escolheu ter corretores independentes
lotados nas suas agências – para quem paga uma taxa de corretagem,
remuneração essa que o BB e o Itaú mantêm dentro de
casa.
“O gerente do banco
tem diversas atividades no dia a dia, o que dificulta ter
conhecimento profundo de um produto mais complexo de seguros, por
isso é necessária a figura do especialista”, diz Marco Antonio
Rossi, presidente da Bradesco Seguros e vice-presidente do banco. A
instituição tem 35 mil corretores credenciados, mas não informa
quantos atuam dentro das agências.
Já no BB e no Itaú é
necessário incentivar a força de vendas a oferecer seguros. Nesses
dois casos, o modelo é parecido: a venda de apólices faz parte da
composição de produtos que o gerente tem que vender, do bolo de
metas a cumprir. “E caso de um gerente que tenha alto nível de
cancelamento de apólice, isso conta de forma negativa para o seu
resultado, o que desincentiva a venda por impulso”, diz Teles, do
Itaú.