IT Mídia
reúne players do setor e academia para discutir principais
percalços do segmento, que apesar das dificuldades cresce a passos
largos
Em um
cenário sabido de envelhecimento da população e aumento das doenças
crônicas, a atenção domiciliar – conceito para promoção à saúde,
prevenção, tratamento de doenças e reabilitação desenvolvidas em
domicílio – se mostra em crescente descompasso com a realidade.
Diante do atual e futuro perfil demográfico e epidemiológico do
brasileiro, no caminho do setor há grandes dificuldades para o
desenvolvimento, entre elas a falta de regulamentação; riscos do
paciente internado em domicílio; formação profissional;
judicialização; o desconhecimento do paciente e de seus familiares
sobre a prática; e a ausência de articulação dos agentes envolvidos
na prestação de serviço – este último um problema já bastante
atual. Permeando tudo isso, uma palavra que poderia abarcar todos
estes problemas: a cultura, ou mais precisamente, a falta
dela.
Enquanto a prática é muito difundida em outros
lugares do mundo, como Estados Unidos e Europa, a cultura do home
care ainda é pouco conhecida no Brasil, e à ela se soma uma série
de confusões que começam pelo próprio conceito. Um exemplo é
abordar a atenção domiciliar e a internação como sinônimos da mesma
atividade. De acordo com o Núcleo Nacional das Empresas de Atenção
Domiciliar (NEAD), o “Atendimento Domiciliar” é a
visita ou procedimento, isolado ou periódico, realizado no
domicílio do paciente por profissional habilitado na área da saúde,
como alternativa ao atendimento ambulatorial, a paciente que não
necessite de hospitalização.
Já a
Internação Domiciliar é o serviço prestado no domicílio do
paciente, em substituição ou alternativo à hospitalização, por
equipe técnica habilitada e multiprofissional, da área da saúde,
com estrutura logística de apoio, integrado a um programa
específico com essa finalidade, realizado por instituição médica
prestadora de assistência domiciliar e, obrigatoriamente,
coordenada e supervisionada por médico, além de registrada no
Conselho Regional de Medicina. Ambos embaixo do guarda-chuva
“Atenção Domiciliar”.
Alguns dados também ajudam a ilustrar o tardio
desenvolvimento da prática no Brasil. De acordo com a Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em 2012, as internações
hospitalares somaram 7, 4 milhões, enquanto as domiciliares
contabilizaram 106 mil, números de um País em que a taxa de
ocupação hospitalar parece estar sempre no limite e as filas de
pacientes no atendimento público e privado traduzem os gargalos do
setor. É neste mesmo País, onde se prevê ainda mais
crescimento na área hospitalar prevendo atender uma demanda
crescente, que segundo levantamento da Associação Nacional de
Hospitais Privados (Anahp) precisará de 13,7 mil leitos até 2016,
caso o número de pessoas com plano de saúde aumente
2,1%.
Logicamente, a atenção domiciliar não resolverá
os problemas do setor ou como disse um dos debatedores, o
presidente do Sindicato Nacional das Empresas Prestadoras de
Serviço à Atenção Domiciliar à Saúde (Sinesad), Ari Bolonhezi: “ela
não é a panaceia para todos os males de saúde”, muito menos
atenderá aos problemas de saúde de todos os futuros pacientes
internados nestes novos leitos, porém, é preciso entender para onde
caminhará a estrutura de saúde que comportará um aumento
significante de idosos- segundo projeções do IBGE ela quadriplicará
em 2060, com uma população com mais de 65 anos que deve
passar de 4,9 milhões de pessoas (7,4% do total), em 2013,
para 58,4 milhões (26,7% do total), – e cuja 72% das causas de
mortes já ocorrem por doenças crônicas no Brasil, conforme o
Ministério da Saúde. Perfis estes comuns à atenção
domiciliar.
Para
promover o diálogo e o desenvolvimento da cadeia, o primeiro
Saúde Business Debate do ano reuniu além de Bolognesi, o
coordenador Geral do Curso de Enfermagem do Centro
Universitário São Camilo e Consultor em Gestão em Saúde pela Inova
Consultoria, Marcelo Chanes, a diretora presidente do Grupo
Hospitalar Santa Celina e membro do Conselho Diretor da Aliança
para a Saúde Populacional (Asap), Ana Elisa Siqueira, o diretor de
Comunicação da União Nacional das Instituições de Autogestão
em Saúde (Unidas) e Superintendente de
Autogestão e Marketing do Sepaco Marcos Anacleto e o professor na
Unifesp, especialista em Epidemiologia do Envelhecimento, Luiz
Roberto Ramos. O resultado do encontro você confere numa série de
reportagens durante esta semana.