Em semanas recentes, o Brasil assistiu
a mais uma prova de que parte expressiva da classe política não
pode ser levada a sério e muito menos merece novo voto de
confiança, muito menos nosso voto. A Câmara e o Senado aprovaram
projetos que custarão aos cofres públicos mais de R$ 100
bilhões.
Bom seria se o
destinado pelos nobres parlamentares fosse revertido a áreas
sociais, como Educação, Segurança e nossa combalida Saúde. Só que
não é o que ocorreu. O dinheiro que agora vaza do caixa da União
faz parte de política de privilegiar potenciais financiadores de
campanhas eleitorais. Ou seja, os senhores deputados e senadores
resolveram fazer cortesia com o chapéu alheio, mais especificamente
com o nosso.
Um dos projetos
aprovados garante vantagens tributárias a indústria de
refrigerantes da Zona Franca. A farra fiscal também contempla
perdão de dívidas a produtores rurais.</CW>
Não é exagero dizer
que a irresponsabilidade atinge as raias da loucura. Há uma
propositura que permite a criação de até mais 300 municípios. Isso
significaria mais câmaras de vereadores, mais vereadores, novos
prefeitos e vice, secretários disso e daquilo, funcionários
públicos aos milhares, só para dizer o mínimo. O que teríamos de
menos, como sempre, seriam recursos para investir na modernização
do Brasil, nas necessidades de nossa população e na moralização da
máquina pública.
Como médico, claro que
sempre presto atenção redobrada ao campo da Saúde. Obviamente não
passamos incólumes. Parte de gestores e políticos já conseguiu
favorecer o lobby dos planos de saúde. Com origem nos corredores do
Ministério da Saúde, sem consulta aos órgãos de defesa do
consumidor, a associações de pacientes e às entidades médicas, a
Agência Nacional de Saúde Suplementar, a ANS, autorizou na semana
passada a venda de planos de saúde com franquia ou no sistema de
coparticipação.
A implicação desta
norma é que os pacientes, além das mensalidades caríssimas, terão
de pagar por fora uma série de procedimentos, exames, hospitais e
consultas. Só quem ganha com esses novos planos são as empresas,
que engordarão ainda mais seus balanços já biliardários.
A mulher, a criança,
os idosos e os portadores de doenças crônicas serão atingidos no
peito. Caso não tenham dinheiro para pagar parcela substancial de
seus tratamentos, fora as mensalidades caríssimas (repito), terão
de largar a saúde suplementar e entrar na fila do Sistema Único de
Saúde, que hoje está à beira de um colapso por subfinanciamento
estatal.
E já que chegamos
neste ponto, mais um motivo para indignação. A mesma base
governamental que, pouco mais de um mês atrás, anunciou que cortará
de áreas sociais (Saúde, inclusive) R$ 9,5 bilhões para tapar o
rompo causado pela redução do preço do óleo diesel, acaba de
aprovar uma medida provisória que anistia as multas de
caminhoneiros (traduza-se, os empresários do setor responsáveis
pelo blackout que passou o País), gerando mais um buraco nos cofres
públicos.
O que você me diz? Já
começou a escolher em quem votará em outubro? Pois reflita mais e
tome cuidado.