O atendimento está ruim e a quantidade de reclamações é recorde,
mas os custos dos planos de saúde continuarão a pesar no bolso dos
consumidores. Os próximos reajustes nas mensalidades serão sempre
acima da inflação. Foi o que declarou o diretor de Fiscalização da
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Eduardo Sales, em
audiência pública ontem, na Câmara dos Deputados, que reuniu
representantes das operadoras e de associações de médicos. A
justificativa apresentada pelo diretor da agência, encarregada de
proteger o consumidor, é de que o setor depende de equipamentos e
insumos hospitalares importados.
“Todos os reajustes foram e permanecerão acima da inflação.
Isso acontece em qualquer lugar do mundo”, disse Sales. Ele
informou que o último aumento anual foi em torno de 7,69%, enquanto
a inflação dos 12 meses anteriores ficou em 5,6%.
Sales revelou que, atualmente, existem quase 30 mil processos
administrativos contra as operadoras de planos, instaurados a
partir de denúncias de clientes que tiveram procedimentos recusados
pelas empresas. Mas ele minimizou a situação. “Reclamações
sempre teremos, porque os interesses são conflitantes. Como
conciliar ótimo atendimento com menor preço e ótima remuneração
para os prestadores de serviços”, admitiu o diretor do órgão,
conhecido por defender mais os interesses das administradoras do
que os dos consumidores.
O presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Cid
Célio Carvalhaes, não poupou críticas à agência reguladora. Segundo
ele, a ANS falha na hora de fiscalizar as empresas, que escondem os
verdadeiros números do setor sob o argumento de sigilo. “Elas
arrecadam R$ 74 bilhões por ano e dizem gastar R$ 58 bilhões com as
consultas e procedimentos médicos. Sobram R$ 14 bilhões, sobre os
quais não se sabe bem o destino”, criticou.
Nos cálculos do diretor-executivo da Federação Nacional de Saúde
Suplementar (FenaSaúde), José Cechin, as sobras não vão para o
bolso dos gestores. Dos R$ 74,1 bilhões, a maior parte é para
cobrir despesas com os atendimentos médicos, despesas com
funcionários e pagamento de impostos, entre outros itens. Segundo
ele, sobram R$ 735 milhões de resultado operacional. “Para chegar à
lucratividade, teríamos que dividir o resultado pelo patrimônio
líquido. E só a ANS conhece esses números”, esquivou-se Cechin.
A audiência pública foi convocada pelo deputado federal
Valadares Filho (PSB-SE) para debater a qualidade do atendimento
dos planos. Na justificativa para o requerimento, ele citou a série
de reportagens publicadas pelo Correio que mostram o caos em que
está mergulhado o sistema de atendimento privado, que lidera o
ranking de reclamações do Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor (Idec) há mais de 10 anos. Não só os consumidores se
queixam dos atendimentos. A rede conveniada de médicos está em
guerra aberta com as operadoras em busca de reajuste do honorário
pago pelas consultas médicas, que varia de R$ 35 (nas operadoras
menores) a R$ 42 (nas grandes). O preço é igual ou inferior a
serviços realizados por profissionais de nível fundamental e médio,
como de higiene pessoal, limpeza e conservação de imóveis, corte de
cabelos e depilação.
As operadoras são acusadas de exigir, de forma velada, a
limitação no tempo de internação dos pacientes e restringir exames.
Segundo as associações de médicos em Brasília, as empresas se negam
a pagar 30% dos procedimentos realizados, alegando serem
improcedentes.