ma mulher na 25ª semana de gravidez corre
contra o tempo para fazer com que o plano de saúde dela cumpra uma
decisão da Justiça e dê autorização para uma cirurgia no feto,
ainda no útero da mãe. A operação para conter os efeitos da
mielomeningocele precisa ser feita até esta segunda-feira (4).
O bebê da administradora de
empresas Luciane Pinheiro, de 37 anos, tem uma malformação que
deixa a medula espinhal exposta e permite que líquido suba para o
cérebro, causando hidrocefalia (leia mais abaixo). A
família acredita que a cirurgia custaria R$ 180 mil e, por isso,
não pode arcar com o valor.
A intervenção foi marcada para
as 19h30 desta segunda, mas, até a última atualização desta
reportagem, não havia sido autorizada pela Amil. A decisão obtida
pela mãe na Justiça prevê multa de R$ 100 mil para a empresa caso a
cirurgia não seja feita até esta data.
Em nota enviada
ao G1 às 11h38 desta segunda (4), a Amil
disse que "a cobertura solicitada não é prevista" no contrato da
cliente ou no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar. "No
entanto, a cirurgia foi liberada nesta segunda-feira (4), em
cumprimento à liminar judicial, conforme informado à cliente",
completou a empresa.
Apesar de morar em Brasília,
Luciane passou em São Paulo a semana de espera pela autorização,
pois não há profissionais habilitados para fazer o procedimento no
Distrito Federal. Para esta cirurgia intrauterina, são necessários
oito médicos – três especialistas em neurocirurgia e cinco em
cirurgia fetal –, além de equipamento qualificado.
A administradora viajou para São
Paulo há uma semana, em 27 de maio. A cirurgia deveria ter sido
feita, com urgência, no dia 28, mas o plano de saúde negou a
autorização. A gestante, então, entrou na Justiça.
A decisão favorável a ela, em
medida de urgência, foi proferida no dia 29, estabelecendo 4 de
junho como data-limite para a intervenção. Mesmo assim, nada foi
feito. O plano de saúde argumenta que o procedimento não é previsto
nas resoluções da Agência Nacional de Saúde (ANS).
"O médico
marcou a cirurgia para as 19h30 do dia 4, no limite, porque a gente
não tem autorização ainda. Eu preciso estar internada ao meio-dia
para conseguir fazer a preparação."
O juiz Leandro Borges de
Figueiredo, da 8ª Vara Cível de Brasília, decidiu pela urgência do
caso porque a cirurgia dentro do útero da mãe só pode ser feita até
a 26ª semana de gestação. Por isso, esta segunda-feira é
considerada a data-limite para intervenção.
Em sua decisão, Figueiredo
afirmou que, como a cirurgia intrauterina é o tratamento indicado
para preservar a saúde do bebê, "o fato de o procedimento não
constar nas Resoluções da ANS não implica, por si só, exclusão da
cobertura do plano".
Na argumentação, o magistrado cita a Súmula 102 do Tribunal de
Justiça do DF, no qual ficou estabelecido que "havendo expressa
indicação médica, é abusiva a negativa de cobertura de custeio de
tratamento (...) por não estar previsto no rol de procedimentos da
ANS".
A mielomeningocele (nome
científico da espinha bífida) é uma malformação dos ossos da coluna
vertebral, que não se fecha totalmente e deixa a medula espinhal
exposta. Fetos com essa anomalia podem desenvolver hidrocefalia –
acúmulo de fluido no crânio, aumentando a pressão sobre o cérebro –
e perder a capacidade de andar.
Segundo a advogada Polyana
Mendes Mota, que trabalha no caso, esta foi a primeira vez que o
TJ-DF autorizou uma cirurgia fetal de espinha bífida ainda no útero
da mãe.
“Demos ênfase ao perigo da
demora, que era muito gritante. A Luciane vai fazer a cirurgia no
última dia do prazo. Se ela não fizer agora, não poderia mais
fazer, e a filha dela nasceria com uma anomalia que poderia ter
sido minimizada”, disse a advogada.
A cirurgia deve ser feita entre
a 19ª e a 26ª semana. A condição pode ser descoberta a partir da
12ª semana, mas a médica que acompanhava o pré-natal de Luciane não
identificou alterações na medula espinhal do bebê. Só quando a
administradora estava com 22 semanas e 5 dias da gestação de Maria
Alice é que a médica avisou que havia um problema.
"Descobri
tarde. Meu prazo foi muito apertado, com muito estresse, desgaste
emocional e desgaste financeiro", disse a mãe.