Após o golpe de 2016, O SUS está em
risco. O governo golpista de Temer está sucateando nossa saúde
pública. Eles fizeram isso ao aprovarem a PEC da Morte, que congela
novos recursos por 20 anos para saúde. Além disso, ainda temos a
proposta de flexibilizar as exigências e a revisão da lei de
atendimentos para os planos de saúde e, agora, as tratativas nada
transparentes da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) de
aprovação do pagamento de franquia e coparticipação dos planos.
A ideia é que o cliente contrate um
determinado valor no plano com uma determinada lista estabelecida
de exames e consultas – estão propondo, por exemplo, quatro
consultas por ano com médicos generalistas; um teste de glicemia
por ano; exame de mamografia a cada dois anos – e, caso haja um
evento em que seja necessário utilizar um serviço que não faça
parte dessa lista estabelecida, o cliente paga a mais por isso. Ou
seja, na verdade, o usuário não sabe o quanto vai gastar com o
convênio. Estão tratando saúde como um carro: para acionar o
seguro, só pagando franquia.
Em 2018, completamos 30 anos da nossa
Constituição e, com ela, o trigésimo aniversário do SUS, uma das
políticas mais importantes e ousadas já aplicadas no país, criado
com a concepção de garantir saúde universal e gratuita, sendo um
direito das pessoas e dever do Estado.
O SUS, com todos os problemas que tem,
significou incluir mais de 60 milhões de brasileiros que não tinham
acesso à saúde. Antes dele, a saúde era segmentada e proporcionada
pelo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
(INAMPS), no qual os atendimentos eram restritos aos cidadãos que
contribuíam com a previdência social, ou seja, só quem tinha
direito à saúde era quem possuía carteira assinada.
Nessa época, ocorreram diversos
acontecimentos que mostram o risco de quando o dinheiro move a
saúde, como, por exemplo, a contaminação generalizada de diversas
doenças – HIV, Hepatites, entre outras – através dos bancos de
sangue, já que não havia regulação pública na época. Além dos
escândalos denunciados, como enriquecimento através de fraudes em
internações hospitalares e consultas. E, também, da “teoria” de
cuidar de doenças e não da saúde das pessoas.
Nesses 30 anos, o SUS ajudou na forte
redução da mortalidade infantil, chegamos a mais de 90% das
mulheres que passaram a ter os partos em ambientes hospitalares,
redução da incidência da tuberculose, criamos o maior programa de
combate à Aids, o programa de transplantes – sendo o maior público
e gratuito do mundo -, o atendimento de saúde bucal, o programa
Saúde da Família – que teve um grande impulso com o Programa Mais
Médicos -, que hoje atende mais de 60% da população brasileira,
entre tantos outros avanços.
Tenho orgulho de, ao longo da minha
vida, ter lutado por um SUS de mais qualidade. Desde que era
estudante de medicina, quando participei da luta da derrubada dos
vetos, no governo Collor, da criação da Lei Orgânica do SUS. Já
médico residente em infectologia, participei da luta contra a Aids
e do acesso universal e gratuito no SUS. Quando coordenei o grupo
de medicina tropical da USP, no interior da região amazônica,
participei da sua construção junto às comunidades indígenas e
ribeirinhas, para os desafios de um sistema de saúde para a
dimensão daquela região.
Fui ministro da Saúde e secretário de
Saúde da maior cidade do país e pude colaborar com a criação de
diversas políticas públicas já citadas.
Apesar disso, ainda há muitos desafios
a serem superados. O principal deles é o pouco investimento em
saúde pública. Além disso, até hoje, não ficou claro qual é a
relação do setor público e os vários interesses privados em cima do
SUS, o que faz com que eles ganhem muito dinheiro às custas do
sistema.
No fim das contas, é o seguinte: com o
SUS sucateado, as pessoas usarão todas as suas economias para pagar
por um plano de saúde e, caso haja uma eventualidade que o plano
não cobre, a pessoa paga a mais para ter o atendimento.
Os planos de saúde já tentaram lucrar
muito com o SUS e isso está vindo à tona meses depois de o Supremo
Tribunal Federal (STF) determinar, por unanimidade, conservar a lei
que obriga os planos a ressarcirem o SUS nos atendimentos
realizados a seus clientes em toda a rede pública do país.
Significando que quando uma pessoa que
tem plano de saúde é atendida no setor público, a ANS deve
notificar as operadoras para que elas realizem os pagamentos dos
procedimentos médicos em até 15 dias. A Lei nº 9.656/1998, dessa
obrigatoriedade, era contestada pelos planos.
Há um jogo combinado no governo Temer
que garante o favorecimento do setor privado, do mercado
financeiro, e é triste ver o mesmo congresso que criou o SUS, com
os atuais deputados e senadores, permitir essa tragédia. A
impressão que tenho é que não temos mais parlamentares que defendam
a saúde pública.
Nenhum país no mundo, com a dimensão
do nosso, assumiu como desafio fazer com que a saúde seja um
direito das pessoas, que é fruto de um movimento da Reforma
Sanitária, um projeto ousado e uma conquista da classe
trabalhadora.
A saúde gratuita para todos, através
de um sistema público, é a melhor forma e com menor custo para o
país de cuidar das pessoas, para reduzir as desigualdades e também
gerar uma atividade econômica desenvolvimentista.