A alta dos investimentos não se
refletiu em melhores condições na principal unidade da corporação.
No Hospital Central, no Estácio, pacientes denunciam a falta de
insumos básicos e de estrutura para realização de exames.
A Polícia Militar do Rio
diminuiu seu efetivo em 2017, mas aumentou em mais de 24% os gastos
com saúde ao longo do ano. Ao todo, foram aplicados 48,422 milhões
no custeio de remédios, equipamentos hospitalares e serviços
médicos destinados ao atendimento de policiais ativos, inativos e
seus dependentes. Na comparação com 2016, os gastos aumentaram em
quase R$ 10 milhões nas unidades de saúde da corporação, que
incluem dois hospitais gerais, três policlínicas e diversas
unidades primárias localizadas nos próprios batalhões da PM.
Enquanto isso, a instituição perdeu quase mil homens. A tropa, que
tinha pouco mais de 46 mil militares, ficou com 45 mil. Os dados
fazem parte de um levantamento feito pela CBN com base em
informações do Portal da Transparência do estado do Rio. A alta dos
investimentos não se refletiu em melhores condições na principal
unidade de saúde da corporação, o Hospital Central da PM, que fica
no bairro do Estácio. A mulher de um PM, que não quis se
identificar, conta que a unidade é marcada pela falta de estrutura
e pela dificuldade na realização de exames.
"O atendimento em si, com relação aos profissionais, não é
tão ruim. O problema é a estrutura. A estrutura é precária. Nós
temos alguns hospitais que são até conveniados, mas são hospitais
que solicitam muitos documentos, é muito burocrático, e as unidades
dos hospitais são muito precárias. Muito precárias mesmo, com
relação à estrutura, com relação a exames, a todo tipo de
serviço."
A esposa de um outro policial militar da ativa conta que teve
que lidar com a falta de insumos quando deu à luz seu filho na
maternidade do hospital, há dois meses. Ela diz que outras mães
chegaram a criar um grupo de Whatsapp pra avisar umas às outras
sobre os problemas da unidade. Ela ressalta que os profissionais da
maternidade sempre foram atenciosos, mas faltavam insumos
básicos.
"Não tinha soro para limpar o nariz do meu filho, me deram
água porque não tinha soro. Não tinha papel higiênico lá no
banheiro, não tinha copo descartável, gaze não tinha. Não tinha
soro, não tinha nada. Eu lembro que meu marido teve que comprar
gaze e levar pra mim. Então esse investimento eu não
vi."
Ao todo, cerca de 250 mil pessoas, entre policiais e
dependentes, têm acesso aos hospitais e unidades de atendimento da
Polícia Militar. Para especialista em gestão pública de Saúde Ligia
Bahia, o aumento dos gastos da PM em 2017 pode estar relacionado à
crise econômica do estado do Rio. Ela diz que, devido à limitação
do orçamento doméstico, as famílias dos PMs que tinham plano de
saúde particular cortaram esse gasto e passaram a recorrer ao
sistema de saúde da própria corporação.
"Houve restrição salarial, relativamente o salário dos
funcionários públicos diminuiu. É uma categoria que está tendo que
cortar gastos, e, em momentos de recessão, o gasto com plano de
saúde é o primeiro que se corta. Isso deve estar acontecendo em
tudo que é sistema fechado, como esse da PM. O Rio faliu na saúde,
então as pessoas estão tentando se virar da maneira que
podem."
Procurada pela reportagem, a Polícia Militar não se
posicionou sobre as causas que teriam levado ao aumento dos gastos
com o Fundo de Saúde da corporação.