Os recursos públicos para a saúde cresceram 231% em dez
anos. Juntos, governo federal, estados e municípios aplicam verbas
na ordem de R$ 260 bilhões. Sem planejamento e gestão, no entanto,
sempre será insuficiente. Com coragem, enfrentamos os obstáculos
para fazer as mudanças necessárias e ofertar um serviço mais
eficiente e de qualidade aos cidadãos. Com apoio dos gestores,
inauguramos um novo modelo de financiamento da saúde, voltado ao
melhor uso do recurso público. A proposta, em prática desde
janeiro, desburocratiza o excesso de normas e dá maior autonomia às
prefeituras ao mesmo tempo em que fortalece a adoção e o
cumprimento de metas regionais.
Estamos, com essa mudança, cumprindo a legislação do SUS que
estabelece o planejamento ascendente, ou seja, a definição dos
recursos de acordo com as necessidades e a organização dos serviços
em âmbito local e regional. Até então, eram as decisões do
Ministério da Saúde, distante da diversidade existente de Norte a
Sul do país, que orientavam a alocação de recursos. Este
entendimento do planejamento regional, inclusive, já foi cobrado
pelo Tribunal de Contas da União. Precisávamos mudar para atender à
lei e às necessidades da população e, desta forma, qualificar a
descentralização dos recursos.
Existiam 800 formas de transferência de recursos, regulamentadas
por portarias com mais de 1,2 mil artigos. O resultado eram verbas
paradas nas contas correntes dos estados e municípios – pelo menos
R$ 7 bilhões em 2017. Não era permitido ao secretário de Saúde, que
conhece a realidade do seu município e estado, alocar recursos nas
áreas prioritárias para a população de sua região. Por uma
contradição burocrática, o dinheiro ficava parado enquanto muitas
outras áreas necessitavam de recursos. Agora, unificamos os
repasses federais em duas formas: custeio e investimento. Com isso,
os gestores passam a ter maior poder de decisão na aplicação do
recurso, podendo alocar verbas com base na necessidade da sua
população e realidade local.
Não estamos abrandando as regras – pelo contrário: com mais
autonomia, os gestores terão uma responsabilidade ainda maior na
execução dos recursos, especialmente nos processos de planejamento
e gestão. Os planos de saúde plurianuais (para cada quatro anos),
elaborados por secretários de Saúde municipais e estaduais, terão
agora um papel fundamental para orientar a organização e a execução
dos serviços de saúde, a partir da previsão de quais ações serão
executadas e quais metas serão cumpridas, a cada ano, justamente
por quem está mais perto da população.
Esses planos serão discutidos com os conselhos municipais e
estaduais de saúde e também nas Câmaras Municipais e Assembleias
Legislativas estaduais. E, ainda no primeiro trimestre deste ano,
vamos colocar no ar um sistema, o E-SUS Gestor, para que os estados
e municípios possam incluir seus planos, a programação e as metas a
serem executadas, fortalecendo o processo de planejamento,
monitoramento e avaliação do seu desempenho. Além disso, a cada
dois meses estarão disponíveis por meio do Siops (um sistema
específico de informações sobre orçamento na saúde) informações
sobre o uso dos recursos federais, estaduais e municipais,
separados pelas grandes áreas da saúde: atenção básica, média e
alta complexidade, vigilância sanitária, vigilância em saúde e
assistência farmacêutica.
Todo este conjunto de informações poderá ser monitorado
periodicamente por órgãos de controle, Ministério da Saúde e o
cidadão, de forma absolutamente transparente. Com isso, vamos saber
não apenas se o recurso foi gasto, mas também se ele foi gasto da
forma adequada, ou seja, cumprindo a sua finalidade, as metas e
ações propostas para ampliar o acesso da população a exames,
diminuir a incidência de doenças ou mesmo aumentar a oferta de
serviços.
Esse novo formato foi amplamente discutido e aprovado na
Comissão Intergestores Tripartite (CIT), que reúne representantes
dos governos federal, estaduais e municipais. E, caso o gestor não
cumpra suas responsabilidades pactuadas em todas as áreas de
cobertura da saúde, o Ministério da Saúde tem autonomia para
bloquear os repasses da União.
Aos poucos vamos alçando novas metas e soluções. Enfrentamos os
desafios e não nos limitamos às dificuldades. Com uma gestão
austera, em 680 dias atingimos eficiência econômica de R$ 5 bilhões
com a revisão e negociação de convênios, contratos administrativos
e de compra de medicamentos, o que nos permitiu reinvestir tudo em
mais serviços de saúde, qualificando e ampliando a rede
assistencial, além de ofertar mais medicamentos à população.
O esforço para construir um SUS ainda melhor para os nossos
cidadãos é permanente. Nesta gestão, foram adotadas as medidas
necessárias para serviços de saúde integrados, mais acessíveis,
ágeis e eficientes. Este é o caminho escolhido em direção ao SUS
que queremos, fortalecido, e que garanta o bem-estar a todos os que
o procuram.
Ricardo Barros é ex-ministro da Saúde no Governo
Temer.