O Jornal Nacional mostra um problema
que atinge milhões de brasileiros: como é difícil conseguir um
plano de saúde individual. Nós conversamos com especialistas e
representantes do setor para entender por que eles estão cada vez
mais caros e raros no mercado.
No Senado, pelo menos 40 propostas
querem mudar regras de planos de saúde. Por exemplo, tabelar o
reajuste anual dos planos coletivos como acontece com os
individuais.
Na Câmara, são mais de 150 projetos. O
deputado Rogério Marinho, do PSDB, preparou um relatório a partir
destes projetos. Entre outras propostas, ele cria a obrigação de
oferta de planos individuais, o que não está previsto em lei hoje.
Mas não mudou nada nas regras dos coletivos.
O relatório está pronto para ser votado na comissão especial que
discute planos de saúde.
No plano individual, quem determina o
valor do reajuste anual é a Agência Nacional de Saúde (ANS). O
contrato só pode ser interrompido em caso de fraude ou falta de
pagamento.
No plano coletivo, negociado entre
operadora e empresa, o reajuste é estabelecido entre as partes, sem
interferência da ANS, e o contrato pode ser interrompido no fim de
um ano.
Essas diferenças criaram um
desequilíbrio. Os planos individuais, que têm muita regulação,
sumiram. Quem precisa de um plano individual sabe que são poucas as
opções e os preços, muito altos. As operadoras oferecem apenas os
planos coletivos, que têm baixa regulação. Estes são feitos
diretamente com empresas e rendem muito mais.
A prestação da Érica, cliente de plano
coletivo, passou para R$ 600 e ela teve de cancelar. “Deixei de
continuar alguns tratamentos, algumas consultas interrompi pela
falta do plano mesmo”, conta Érika Silva, técnica de Gestão
Educacional.
Especialistas defendem que a lei
precisa acabar com os falsos planos coletivos, um contrato com um
grupo de pessoas, muitas vezes da mesma família, como se fosse um
contrato empresarial e que pode não ser renovado no aniversário ou
ter um reajuste alto, deixando o beneficiário na mão.
Lígia Bahia, professora da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que a oferta
do plano individual tem de ser obrigatória e a preço acessível: “As
empresas fizeram um truque. Elas deixaram de vender planos
individuais e passaram a vender esses planos que são planos falsos
coletivos. Quem os compra são praticamente indivíduos e famílias.
Então, nós temos planos individuais. Mas não funcionam com as
garantias dos planos individuais”.
A Fenasaúde, que reúne as 23 maiores
operadoras e seguradoras, diz que não há um acompanhamento dos
custos dos procedimentos de saúde, que são altos e que tornam os
planos individuais inviáveis. Segundo a federação, os
reajustes autorizados pela ANS não são suficientes para acompanhar
os custos.
“Com a regulamentação da ANS onde ela
impôs reajuste aquém do necessário para repor os custos dessas
empresas, dos serviços, houve um desinteresse. As empresas não vão
trabalhar com prejuízo. O nosso problema é custo. Eu preciso ter,
nós precisamos ter o apoio de políticas de governo que façam essa
coordenação dos custos na assistência médica”, destaca Solange
Beatriz Mendes, presidente da Fenasaúde.
Em 2000, quando a agência foi criada,
o mercado tinha mais de 2 mil operadoras. Hoje, tem menos de 800;
266 concentram 42 milhões de beneficiários. De um total e 47
milhões de beneficiários, apenas 9 milhões estão em planos
individuais. Um número que vem caindo.
A ANS afirma que ter mais planos
coletivos que individuais é um movimento natural do mercado, mas
diz que vem fazendo novas regras para estimular a oferta de
individuais.
“Incentivar a concorrência no setor, especialmente através da
portabilidade de carências, permitindo que haja uma mobilidade
maior do beneficiário de uma operadora para outra, caso ele esteja
mais ou menos satisfeito com os serviços prestados por essa
operadora. Sem fazer intervenções que podem causar impactos
negativos, conduzir o mercado a esse fim de voltar a comercializar
planos individuais com mais intensidade”, comenta Rodrigo Aguiar,
diretor de Desenvolvimento Setorial da ANS.
A comissão especial da Câmara que
trata dos planos de saúde ainda não marcou uma data para votar o
relatório do deputado Rogério Marinho.