Apesar do aumento expressivo do número de beneficiários dos
planos de saúde a cada ano, a Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS) desconhece o tamanho da rede prestadora de serviços e sua
capacidade de atender a demanda crescente. O único dado de que
dispõe é número de leitos de hospitais privados, que aumentou 3,6%
no ano passado, abaixo da taxa de usuários, de 8,7% — a maior desde
2000. “O que constatamos é que a ANS não sabe a dimensão da
rede prestadora de serviços, e isso é necessário para ela atuar de
forma adequada e obter o equilíbrio do sistema”, afirma a
professora e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ligia Bahia.
“A ANS tem que fazer o monitoramento dessa rede”,
emenda o superintendente executivo do Instituto de Estudos de Saúde
Suplementar (IESS), Luiz Augusto Carneiro. Ele reconhece que os
dados existentes são precários. Em reunião com dirigentes do órgão
regulador na semana passada, o IESS, ligado às operadoras, ofereceu
cooperação técnica para medir o tamanho da rede assistencial.
Carneiro destaca que o fato de um hospital ter determinado número
de leitos e de médicos não significa que é suficiente para atender
a demanda, pois o mesmo pode ter contrato com vários planos de
saúde.
Há ainda casos de estabelecimentos que atendem convênios e são
também filantrópicos, ou seja, parte de seus leitos destina-se a
pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). “O governo tem que
assegurar aos beneficiários dos planos que a operadora tem rede
adequada. A empresa não tem como saber se determinado hospital
credenciou outros convênios naquela mesma cidade. Quem tem que
acompanhar isso é a ANS”, cobra Carneiro. Para ele, o problema
de acesso aos serviços dos planos de saúde deverá ser maior nas
classes C e D, que têm os planos mais baratos.
Vácuo legal
Para o vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM),
Aloísio Tibiriçá, a oferta disponível não é capaz de atender ao
crescente número de usuários e ela tende a encolher ainda mais se
não houver acordo entre os médicos, estabelecimentos de saúde e
operadoras. Os profissionais querem que a ANS regulamente a forma
de reajuste anual dos honorários dos serviços, tal como faz no caso
das mensalidades dos planos individuais. As empresas são contra.
Alegam que isso vai provocar aumentos maiores das mensalidades.
Para Ligia Bahia, grande parte do conflito hoje entre médicos e
operadoras vem da ineficiência da agência de regulamentar essa
relação. “A ANS não cumpre seu papel”, critica. O
presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Cid
Carvalhaes, defende a necessidade de um novo marco regulatório para
o setor. Ele espera que a subcomissão criada pela Comissão de
Seguridade e Família da Câmara proponha as novas regras. “Por
enquanto, é apenas um desejo”, comenta.