A Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS), reguladora do setor de planos de saúde, está
completando 18 anos, e este é um marco a ser celebrado.
Uma comparação entre como era o setor
antes do marco regulatório e da ANS e como está hoje mostra o
quanto já se evoluiu. Claro que ainda há muito o que ser feito,
cabendo à agência regular, normatizando, fiscalizando e
incentivando o setor a prover serviços de maior qualidade. Todavia,
mesmo tendo consciência de que é preciso aprimorar o setor, não se
pode esquecer ou perder a perspectiva do quanto já se caminhou.
Antes do marco regulatório e da
criação da ANS, as operadoras de planos de saúde podiam estabelecer
quantidades máximas de procedimentos, prazos máximos de internação
e períodos de carência alongados. Estabeleciam, por exemplo, número
máximo de 10 consultas no ano e 5 dias de UTI. Frequentemente,
excluíam cobertura de algumas doenças, como o câncer. Ou, nas
letras miúdas dos contratos, cobriam doenças, mas não o
procedimento necessário para tratá-la (por exemplo, diziam cobrir
doença renal, mas excluíam hemodiálises ou limitavam a quantidade
de hemodiálises).
Não foram raros também os casos de
operadoras que surgiam, coletavam mensalidades de vários clientes
durante período de tempo em que a maioria estava em carência e
depois sumiam do mercado, deixando aquela população
desassistida.
Hoje, a realidade é outra. Se um
cliente de plano precisa de internação hospitalar, ele ficará
internado pelo tempo que for preciso para sua recuperação, não
podendo haver limite de dias. Os prazos de carência foram
padronizados e limitados a períodos efetivamente necessários para
reduzir a seleção adversa.
O rol de coberturas mínimo obrigatório
para os planos de saúde não permite restringir-se doenças e busca
compatibilizar a necessária atualização tecnológica dos
procedimentos em saúde com a sustentabilidade setorial.
Já o processo de registro e concessão
de autorização de funcionamento das operadoras, além da regulação
econômico-financeira, vem saneando gradativamente o mercado,
promovendo uma gestão mais profissional e prudente dos recursos e,
portanto, tornando o setor mais solvente.
Isso importa para garantir a
assistência à saúde em momento incerto no futuro, já que a
mensalidade é paga antecipadamente e, na maior parte dos casos, a
expectativa do beneficiário é manter um contrato de plano de saúde
de longo prazo.
Regular esse mercado, com um conjunto
de interesses tão complexo, abrangendo consumidores, entidades
contratantes, profissionais de saúde, clínicas, laboratórios,
hospitais e os entes regulados (operadoras de planos de saúde), é
um grande desafio. Como agente público, a ANS não se fecha às
críticas, procurando entendê-las e, quando é o caso, buscando
correções e aprimoramento institucional.
Gerenciar ou regular sistemas de saúde
é missão hercúlea em todos os países, sejam sistemas públicos ou
privados, e não seria diferente aqui. Ao longo dos anos, a Agência
foi aprimorando o seu processo regulatório, em linha com as
melhores práticas. Para isso, melhorou seus canais de comunicação,
ampliou o acesso à informação, fez parcerias com órgãos de defesa
do consumidor e incentivou a implantação de ouvidorias em todas as
operadoras. Por meio de suas câmaras técnicas, comitês, consultas e
audiências públicas, fez da participação social e do diálogo um
mecanismo para mediar e estreitar o relacionamento com o setor e a
sociedade.
A ANS de hoje é resultado de todos que
trabalharam e trabalham na Agência, uma instituição construída
coletivamente.
E a sua missão institucional (de
promover a defesa do interesse público na assistência suplementar à
saúde, regular as operadoras setoriais inclusive quanto às suas
relações com prestadores e consumidores e contribuir para o
desenvolvimento das ações de saúde no País) é materializada pelo
trabalho sério e dedicado de servidores, colaboradores e dirigentes
ao longo desses 18 anos.
Para os próximos anos, diante das
novas tecnologias e do envelhecimento populacional, uma das
principais questões que surgem é: como viabilizar o acesso aos
serviços de assistência à saúde que tendem a encarecer?
No caso da assistência privada à
saúde, a ANS vem assumindo protagonismo com uma agenda de
iniciativas que inclui: a promoção da concorrência através da
ampliação das possibilidades do consumidor mudar de operadora sem a
necessidade de cumprir novamente as carências estabelecidas na
legislação; a regulamentação da gestão de riscos que podem ser
compartilhados entre as operadoras com o intuito de reduzir o custo
de adequação à necessária regulação assistencial e econômica; e a
indução de uma mudança no modelo assistencial vigente fragmentado e
"hospitalocêntrico" para outro que se comprometa com a gestão de
saúde de forma integrada, com foco em linhas de cuidado, e que
invista na promoção da saúde e na prevenção de doenças.
É importante avançar nesses temas em
prol de uma saúde suplementar sustentável, mas sem deixar de lado
outros que tenham efeito também nos serviços públicos de saúde.
Diante dos desafios que temos na
assistência à saúde, é preciso rediscutir o que de fato é possível
termos como um sistema nacional, como incorporar novas tecnologias,
como financiar o seu acesso e quais as responsabilidades de cada um
(indivíduos, empresas, operadoras, profissionais de saúde,
prestadores de serviço, indústria de medicamentos e equipamentos e
governo).
Um bom desenho institucional,
legitimamente estabelecido e com os incentivos na direção correta,
é fundamental para viabilizar a assistência à saúde (pública e
privada) com qualidade e a um custo suportável para a
sociedade.
LEANDRO FONSECA é diretor-presidente
substituto da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar)