Recentemente, mais de 150 países foram
afetados por ataques cibernéticos, o que foi considerado o maior
ataque de hacker da história. O vírus utilizado para a ação, um
ransomware, bloqueia os computadores e, para que os usuários voltem
a acessá-los, é pedido um resgate. Ainda é cedo para calcular os
prejuízos.
Segundo Flavio Sá, gerente de Linhas
Financeiras da AIG Brasil, “a série de ataques levantou novamente
um alerta para o mundo inteiro a propósito dos enormes impactos que
um ciberataque pode causar, além do grau de vulnerabilidade que as
empresas, sejam elas públicas ou privadas, apresentam”, afirma.
E não há exceção. “Todos estão
expostos. A maioria das pessoas possui um smartphone com uma grande
quantidade de dados. Informações bancárias, cartões de crédito,
prontuário médico, fotos, e-mails, etc. Ataques de hackers como o
caso recente, onde os dados são sequestrados através de
criptografia, podem acontecer com qualquer pessoa”, informa Gustavo
Galrão, superintendente de Financial Lines & Liability da Argo
Seguros.
Para Ana Albuquerque, gerente de
Linhas Financeiras da Willis Towers Watson, “essa exposição costuma
variar muito de setor para setor e até mesmo de empresa para
empresa, pois ela depende dos processos de segurança que as
companhias tomam e até mesmo da cultura criada internamente para a
proteção de seus dados sigilosos”, explica. Galrão acrescenta: “no
caso das empresas, todas elas certamente têm algum nível de
exposição. Além do ataque de ransomware, o vazamento de dados de
clientes pode gerar perdas e danos para estes. Isso pode resultar
em reclamações e processos judiciais por parte de clientes, como
por exemplo, no caso de vazamento de prontuário médico de
hospitais”.
Ele avalia que a situação é tão séria
que a regulamentação sobre a segurança de informações é muito
rígida nos Estados Unidos. “Pelas leis americanas, vazamento de
dados de clientes devem ser notificados apropriadamente a todos os
clientes afetados, e a empresa fica responsável pelo monitoramento
da utilização desses dados para evitar fraudes futuras”, diz.
Gerente de Produtos Financeiros da Aon
Brasil, Maurício Bandeira, diz que o dano máximo a uma empresa em
decorrência de um ataque de hacker é um assunto que vem sendo
discutido cada vez mais, principalmente no Brasil. “Por não termos
uma legislação específica sobre vazamento de dados que trata das
responsabilidades e procedimentos”, acrescenta.
Segundo ele, “nós como corretores e
consultores de seguros estamos nos aprofundando no assunto,
procurando nos atualizar, e até levar de uma maneira educacional
para as empresas os reais riscos e como uma apólice de seguro pode
mitiga-los.” Flavio Sá explica que existem variadas formas de
ameaças, tanto internas como externas. “As internas, por exemplo,
podem ser oriundas de atos dolosos e/ou negligentes de
funcionários. As externas são baseadas em ações de terceiros que
tentam invadir sistemas para obter informações ou paralisar as
operações das empresas, como o que aconteceu neste caso recente”,
especifica. Cálculo Especialista em risco cibernético da JLT
Brasil, Marta Helena Schuh, expõe que ainda é cedo para avaliar os
prejuízos com os recentes ataques. “Uma consultoria americana já
avaliou a perda em torno de US$ 4 bilhões. Porém, ainda há o
período de investigação para apontar quais foram as reais
deficiências dentro dos sistemas e isso tudo gera custo”,
explica.
De acordo com ela, quando se fala em
prejuízo decorrente de ataques cibernéticos ele vai além do
tangível. “Pois devem ser consideradas, por exemplo, a paralisação
das atividades e a interrupção de negócios que realmente causam um
dano à receita da empresa”, exemplifica. Avaliação similar faz Ana
Albuquerque. “Ainda é muito difícil avaliar esses danos.
Provavelmente, ainda levará algum tempo para avaliação de todas as
perdas que o mercado sofreu, uma vez que algumas reclamações
decorrentes deste fato podem surgir somente no futuro”,
ilustra.
Alerta Segundo Flávio Sá, “se
comparado a outros mercados mais maduros, a penetração do seguro
cibernético no Brasil ainda é pequena. O principal motivo é a falta
de conhecimento sobre o tamanho e os impactos do risco, o que vem
mudando e evoluindo nos últimos anos. Ainda temos o projeto de lei
em aprovação referente à proteção de dados pessoais, que será um
impulsionador para o mercado”, prevê.
Para ele, “o desenvolvimento do marco
civil da internet e a educação para ajudar as empresas a
responderem ameaças por meio da transferência de risco e a
exposição que muitas empresas brasileiras têm quando fazem negócios
com outros países (os quais têm leis rigorosas de proteção de dados
e de privacidade) ajudarão a aumentar a consciência sobre os riscos
cibernéticos e a demanda pela cobertura tende a crescer ainda mais
rapidamente nos próximos anos”.
Sobre o mesmo tema, Bandeira conta
que, pela falta de uma legislação específica sobre vazamento de
dados, algumas questões podem ser endereçadas ao Código Civil e ao
Código de Defesa do Consumidor, e até à apelidada Lei Carolina
Dieckmann, que tipifica os crimes por meios digitais. “O momento é
interessante para discutirmos uma legislação específica, cada vez
mais é a hora do governo parar para discutir esse assunto”,
defende.
Na JLT, Marta Helena Schuh conta que a
procura pelo produto tem crescido muito. “A JLT foi pioneira ao
desenvolver a cobertura de cyber quando teve o bug do milênio (no
ano 2000). E aqui no Brasil nós temos percebido aumento de procura
pelo seguro até porque, na grande maioria das empresas, os ativos
passaram a ser digitais. Um banco que não tem seu sistema operante,
consequentemente, terá uma perda direta de receita muito maior que
se uma de suas agências pegasse fogo”, compara. E nas palavras de
Galrão, existe uma série de medidas que podem ser implementadas
pelas empresas e pessoas para aumentar a proteção aos ataques
cibernéticos. “Obviamente a necessidade de controle maior ou menor
dependerá do tipo da atividade e da atratividade que os hackers têm
sobre as informações ou possibilidade de obter vantagens sobre
determinada organização”, complementa.
“Infelizmente, ataques dessa natureza
servem como um alerta para as empresas e fazem com que elas busquem
mais informações de como se precaver e se segurar se sofrerem
ataques desse tipo. Nesse sentido, entendemos que o seguro pode ser
um grande aliado para diluir os prejuízos em caso de cyber
ataques”, afirma Ana Albuquerque. Ainda de acordo com ela,
“anualmente os crimes cibernéticos causam perdas bilionárias às
companhias e já são considerados uma das cinco maiores exposições
das empresas. Por sua vez, as seguradoras encaram os ataques
virtuais tão danosos quanto desastres ambientais. Atualmente existe
o produto específico para mitigação do risco de ataques
cibernéticos”.
Flávio Sá enfatiza que com o
incremento dos ataques cibernéticos, é preciso que as empresas
criem uma cultura de entendimento de riscos, desenvolvendo uma
gestão específica para esse fator. “Além das medidas tecnológicas
para prevenir os ataques, o seguro é uma recurso importante para
minimizar riscos e o impacto de um ataque cibernético”,
acrescenta.
Marta Helena Schuh destaca que o
seguro cibernético é bastante abrangente, tailor made, para cada
cliente. “A partir das informações de cada empresa, seus sistemas e
sua política, serão avaliadas quais são as coberturas indicadas
para a sua atividade. A ideia é exatamente auxilia-la quando há a
necessidade de desembolsar um valor que não estava previsto no seu
orçamento”, diz em relação aos limites e coberturas.
Bandeira complementa esclarecendo que
“o clausulado é único para as três seguradoras que operam com o
produto para riscos cibernéticos. A partir desta base, nós
entendemos a necessidade dos clientes, o que a apólice oferece para
adaptá-la melhor às suas necessidades. O trabalho que temos feito é
de entendimento do risco, acerto do produto dentro do que é
possível e toda a questão de alinhar a empresa sobre como ela
utiliza a apólice”, explica. Para finalizar, ele diz que a análise
do risco engloba várias situações que só é possível conhecê-las
junto ao cliente até para a compreensão de qual seria o limite de
cobertura mais próximo ao ideal. “Não existe uma fórmula matemática
que muitas vezes se tem no seguro de property ou de risco de
engenharia. Mas se consegue chegar a um valor de limite contratado
muito próximo do ideal que a empresa necessita”, conclui.
Incidentes cibernéticos Conforme dados
do CPqD, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações,
em 2015, globalmente, os incidentes cibernéticos cresceram 38% e no
Brasil esse percentual foi bem maior: 274%.
O Brasil ocupa a 8º lugar dentre os
países com maior atividade maliciosa no mundo e é o 5º dentre os
países com maior tráfego de e-mails maliciosos. Mesmo assim, apenas
três em cada dez empresas brasileiras reconhecem ameaças
cibernéticas como algo que possam impactar suas atividades. E de
acordo com o relatório anual Norton Cyber Security Insights, da
Symantec, no ano passado no Brasil, os ataques virtuais afetaram
42,4 milhões de pessoas, somando um prejuízo de cerca de R$ 33
milhões no total.