Não há razão para técnicos
altamente qualificados, como são os funcionários da Susep, se
julgarem mais competentes do que os profissionais das
seguradoras
A Superintendência de Seguros
Privados decidiu que as apólices de D&O não podem dar
cobertura para multas e danos ambientais. O seguro de D&O é o
seguro de responsabilidade civil que protege os gestores e
conselheiros de empresas dos prejuízos causados por eles, por atos
culposos de gestão, que causem perdas a terceiros, à própria
empresa, acionistas, funcionários etc. Dentro de suas atribuições,
o gestor pode tomar decisões que gerem multas contra ele ou contra
a empresa ou causar um dano ambiental. Então, por que a Susep se
imiscuiu no assunto, determinando que o seguro que protege o
administrador não pode indenizar estes eventos?
Se a seguradora decide oferecer
garantias mais amplas nas suas apólices e estas apólices estão
corretamente desenvolvidas, com clausulado e cálculos atuariais bem
elaborados e criteriosos, além de estar protegida por contrato de
resseguro, qual a razão para a autarquia decidir imperialmente que
esta ou aquela garantia não pode constar da apólice?
O risco é da seguradora. É problema
dela se vai ganhar ou perder dinheiro com os produtos que oferece
ao mercado. É evidente que os contratos de seguro necessitam de
parâmetros máximos e mínimos para proteger o consumidor. Também é
claro que existem seguros que, pela própria natureza, devem ter
suas condições integralmente dadas pelo órgão regulador. Mas são as
exceções.
Não há razão para técnicos
altamente qualificados, como são os funcionários da Susep, mas que
nunca enfrentaram a realidade do dia a dia do setor, se julgarem
mais competentes do que os profissionais das seguradoras e os
corretores de seguros, que estão na linha de frente e que entendem
melhor as necessidades dos consumidores. Não cabe a eles
decidirem que produto é bom e que produto é ruim para o mercado.
Quem tem que definir o que funciona ou não é o próprio mercado.
Aliás, não é por outra razão que o
setor de seguros é um setor regulado – como acontece no resto do
mundo –, mas no qual, no Brasil, não há tarifas obrigatórias,
exceto para alguns seguros obrigatórios. Se uma seguradora decide
desenvolver e colocar no mercado um seguro novo, ou com condições
diferentes das normalmente comercializadas, é problema dela. O
produto estando pronto, é evidente que deve ser registrado na
Susep, mas registrado é diferente de analisado e vetado pela
autarquia.
O registro se presta para que, em
caso de problemas entre a seguradora e o segurado, a Susep possa
verificar se a seguradora está agindo corretamente, se as leis de
proteção ao consumidor estão sendo respeitadas e se não há violação
das regras concorrenciais. Mais do que isso é perder de vista o que
realmente importa na vida de um órgão regulador.
A Susep, de acordo com a lei, é o
órgão executor da política traçada pelo Conselho Nacional de
Seguros Privados e fiscalizador da constituição,organização,
funcionamento e operações das empresas do setor. E é isso mesmo que
se espera que ele faça, como, aliás, tem feito já faz bastante
tempo. Mas aplaudir o excesso não é saudável. Não é saudável porque
interfere na vida empresarial da companhia e não é inteligente
porque a interferência acaba criando limitações para o
desenvolvimento de novos produtos, que prejudicam muito mais a
sociedade, que fica sem cobertura de seguro, do que as próprias
seguradoras.
A função primordial da autarquia
deveria ser a fiscalização da solvência e capacidade operacional
das companhias sob sua responsabilidade. Se elas têm capital e
reservas suficientes, se a política comercial é consistente com os
produtos, se não há aplicações de risco, se as informações
contábeis batem com a realidade, se não há a descapitalização da
empresa, saques sem origem, pagamentos injustificados, etc. Ir além
disto não acrescenta nada de bom para o setor. As seguradoras
perdem motivação, os segurados ficam sem alternativas, as
resseguradoras não oferecem o que têm de mais moderno, enfim, quem
sai prejudicado é o cidadão brasileiro, que fica com poucos seguros
à sua disposição.