As novas regras de estímulo ao
parto normal para os associados aos planos de saúde, divulgadas
nesta semana, preveem que as operadoras não serão mais obrigados a
pagar por cesarianas desnecessárias. Apesar de a Agência Nacional
de Saúde Suplementar (ANS) julgar que essa é a opção pela saúde da
mulher e do bebê, movimentos feministas e o Conselho Federal de
Medicina (CFM) acham que a nova regra fere a autonomia da mulher na
escolha do parto.
O diretor adjunto de Produtos da
ANS, João Barroca, acredita que o direito à escolha deve ser
relativizado diante do direito à saúde. “Ninguém vai contra a
cesariana, desde que haja indicação do procedimento cirúrgico. A
opção é pelo direito à saúde”, defendeu Barroca. Para ele, aos
poucos, a cultura do parto natural ganhará mais força no Brasil. As
operadoras de plano de saúde apoiaram as novas regras.
A ideia é que, em pouco menos de
seis meses, quando a Resolução Normativa 368 começar a ser
obrigatória, o parto normal será a regra, enquanto as cesarianas só
serão feitas com indicação clínica, quando há riscos para o bebê ou
para a mãe. Atualmente, o índice de partos cirúrgicos na saúde
suplementar é 84%, enquanto na rede pública não passa de 40%. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o índice de
cesáreas não ultrapasse os 15%.
Segundo o Ministério da Saúde, a
cesariana, quando não tem indicação médica, ocasiona riscos
desnecessários à saúde da mulher e do bebê, aumentando em 120 vezes
a probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido e
três vezes o risco de morte da mãe.
Com a vigência da norma, os médicos
terão, por regra, de preencher um documento que relata a evolução
do trabalho de parto da mulher, e, caso não haja condições para o
parto normal, estará registrado o motivo. Este documento será
necessário para que o médico seja pago pela operadora de plano de
saúde, mas, em casos de urgência e em que a cesariana é
recomendada, anteriormente ao trabalho de parto, o médico poderá
justificar.
Segundo Mauro Ribeiro,
vice-presidente do CFM, há mulheres que, por motivos pessoais,
escolhem ter o filho por cesariana, e dar o direito de o plano de
saúde não pagar pela cirurgia agendada é violar a autonomia da
mulher. “Como negar à mulher o direito dela de escolher como quer
ter o filho?”, indagou.
Ribeiro reconhece que o índice de
partos cirúrgicos no Brasil tem que cair, mesmo assim, ele avalia
negativamente a nova resolução. “[Para estimular o parto natural]
precisamos de pré-natal de qualidade, que os planos de saúde tenham
clínicas obstétricas com equipes de plantão, é preciso ter
condições”.
O vice-presidente reconhece que há
médicos que optam por fazer o parto cirúrgico por comodismo, pois,
enquanto este é agendado e rápido, o normal pode acontecer a
qualquer momento, e, muitas vezes, leva mais de dez horas para a
conclusão. Na avaliação de Ribeiro, o governo está
responsabilizando injustamente os médicos pelo alto índice de
partos cirúrgicos, e deixando de lado pontos importantes como a
falta de uma estrutura que estimule o parto natural.