Maria Inês Schmidt, da UFRGS, apresentou
no Epivix 2014 indícios de que uma epidemia avassaladora da doença
se aproxima
Dados quantitativos podem revelar muito de
cenários relacionados a possíveis endemias, epidemias e surtos em
todo o mundo. Entretanto, somados às análises de pesquisadores
envolvidos em investigações por mais de 20 anos, fortalecem essas
perspectivas. Esse é o caso de Maria Inês Schmidt, da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, que proferiu a conferência “Diabetes:
uma epidemia em câmera lenta?”.
Sob três caminhos que se relacionam
no destino final, Maria Inês iniciou sua participação no Epivix
2014, apresentando correntes de estudos que colocavam essa
afirmativa de epidemia do diabetes ainda como uma incógnita; outros
que sinalizavam e defendiam que esses dados não passavam de um
artefato estatístico; e ainda os que afirmavam que realmente
estamos vivendo uma epidemia em câmera lenta (expressão essa
utilizada por Margareth Chan quando apresentou o problema das
doenças crônicas na ONU em 2011).
“Será que estamos vivendo realmente
uma epidemia? Se estamos, quais as causas e consequências? E como
podemos controla-la?” foram os pilares de sua
explanação.
Maria Inês apresentou muitas
informações para responder à primeira contestação como os dados
disponíveis no site da Federação Internacional de Diabetes, onde há
o Atlas de 2013 e o número de 382 milhões de pessoas com a doença,
e ainda a informação de que 46% dos casos não são diagnosticados.
“Esses dados não são para fazer nenhum tipo de advocacia do
diabetes, mas apenas para ilustrar esse cenário que defende essa
epidemia. Essa porcentagem de 46% também se deve ao fato de que o
diabetes tipo 2, como quase todas as doenças crônicas, tem uma fase
latente e depois uma fase em que já é chamado de diabetes por
atender a alguns critérios diagnósticos, quando permanece
assintomático podendo ficar assim por um período de 5 a 10 anos.
Depois vem a parte sintomática. É nessa fase que os diagnósticos
costumam a ocorrer”, explica.
“Estamos nos alimentando mal, isso é
fato. A população está mais obesa. Estamos sedentários. Mas também
precisamos refletir sobre como mudar esse cenário porque não são
mudanças individuais, mas que as sociedades criaram ao longo dos
anos. Não são as pessoas que têm diabetes, mas a sociedade que fica
doente”, ressaltou.
Maria Inês enfatizou que é preciso
olhar com atenção aos fatores causais, como a cesariana, com a qual
tem aumentado o risco de obesidade nas crianças. “O diabetes se
manifesta muito em sua morbidade. O diabetes tipo 2 tem
complicações crônicas que reduzem substancialmente a qualidade de
vida das pessoas. As complicações cardiovasculares são uma causa de
morbidade, difícil de retirar dos registros oficiais.
Ainda assim, pesquisas apontam uma
redução desses casos em vários países, devido às intervenções que
estamos realizando para reverter essa situação nas últimas décadas.
Entretanto há outras complicações, como exemplo, doença
cardiovascular periférica e neuropatia que são uma causa muito
importante de amputação de membros inferiores”, disse. Outras
consequências são as complicações renais, podendo levar o indivíduo
ao estágio renal crônico terminal em alguns casos.
E como podemos controla-la? Segundo
Maria Inês Schmidt, fazem-se necessárias três estratégias
fundamentais:
1) políticas públicas de promoção da
saúde que possibilite a todos, formas mais saudáveis de viver, e
com isso estaremos enfrentando várias epidemias de doenças
crônicas;
2) atenção integral a quem tem
diabetes (ênfase para terapias custo-efetivas, que aqui é
fundamental porque a carga vai crescer e o sistema de saúde vai
ficar sobrecarregado;
3) prevenção primária (mas não
daquela de chamar as pessoas nas ruas, nas comunidades, mas para
aquelas pessoas que estão no sistema de saúde por outras condições
como hipertensos, mulheres grávidas, obesos que apresentam alguma
morbidade associada.