Idec
analisou contratos com até 30 usuários; em 91%, aumento superou
inflação
ANS
diz que a inflação dos serviços de saúde é maior que a geral, mas
que vai apurar eventual abuso por operadoras
Em um
ano, os planos de saúde coletivos tiveram aumentos de até 73%,
segundo levantamento do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor) a partir de dados da ANS (Agência Nacional de Saúde
Suplementar).
O
instituto analisou reajustes de 535 operadoras de saúde em planos
com até 30 usuários (que somam 88% dos contratos de planos
coletivos) de maio de 2013 a abril de 2014.
Em
91%, segundo o Idec, o aumento foi acima da inflação no período,
medida em 6,28% pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor
Amplo).
Os
dez maiores reajustes variaram entre 32% e 73% e atingiram 20.673
pessoas. O reajuste médio foi de 11%.
Esses
planos coletivos reúnem 3,3 milhões de pessoas, 8% do total
atendido por planos no país. Formados por pequenos grupos, acabam
tendo menor poder de barganha.
A ANS
não regula o percentual de aumento dos planos coletivos por meio de
um valor teto porque considera que são empresas lidando entre si em
igualdade de poderes (operadora e contratante).
“No
caso dos contratos de até 30 usuários, isso não se sustenta. O
poder de negociação é ínfimo frente às grandes operadoras”, afirma
Joana Cruz, advogada do Idec.
Os
planos coletivos com até 30 usuários têm restrições, como prazos de
carência, que não precisam ser seguidas pelos coletivos
empresariais.
As
características são parecidas com as de planos individuais, com a
diferença de que os últimos têm aumentos regulados pela ANS. No
período analisado pelo Idec, por exemplo, o teto foi de
9,04%.
“Os
planos falsos coletivos são arapucas”, diz Mario Scheffer,
professor da USP e que pesquisa o tema. Segundo ele, esse modelo
cresceu pela ausência de regulação e pouca oferta dos
individuais.
“Esses consumidores estão à mercê das operadoras,
enfrentando aumentos abusivos e sem nenhuma garantia de que isso
não vá continuar no futuro”, afirma Joana Cruz.
ANS
Em
nota, a ANS diz que a inflação de serviços de saúde cresce em
proporção maior que a inflação geral e, por isso, não seria correto
associar o reajuste de planos de saúde ao índice de
inflação.
“Enquanto o índice de inflação é um índice de
preços, o de planos de saúde é um índice de valor [variação da
frequência de uso do serviço e dos custos em saúde e da
incorporação de tecnologias].”
Segundo a agência, em 2013 entrou em vigor uma
resolução que permitiu o agrupamento desses pequenos contratos e
uma mudança na forma de reajuste, o que teria protegido 144 mil
consumidores. “Eles não tiveram aumento anual acima de 20%, como
haviam tido antes.”
A ANS
diz ainda que investigará situações de divergência e valores de
reajustes extremos e, se comprovados, poderá punir operadoras. O
consumidor que se sentir lesado pode ligar para o Disque ANS (0800
701 9656).