As
doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) têm aumentado sua
importância em todo o mundo, inclusive no continente
latino-americano. Apesar de doenças como dengue, malária,
tuberculose ainda tem grande impacto na saúde da população, as
doenças cardiovasculares, o câncer, o diabetes e as doenças
pulmonares crônicas assumem importância cada vez maior.
No
entanto, as abordagens ainda são pontuais, fragmentadas e, em
geral, atingem apenas uma fração da população-alvo. Como resultado,
constatamos a alta prevalência de complicações como insuficiência
renal crônica, amputação de membros, cegueira, insuficiência
respiratória que deterioram a qualidade de vida das pessoas e levam
os custos assistenciais a níveis insustentáveis.
Neste
contexto, atividades como o telemonitoramento de pacientes ou o
acesso a medicamentos isoladamente não atingem o resultado
desejado. Estudos demonstraram que o desenho de um sistema de saúde
que envolve o auto-cuidado apoiado do paciente, a preparação
adequada da linha de cuidados, o apoio na tomada de decisões
baseadas em evidências científicas e o uso de um sistema de
informações clínicas, principalmente com um prontuário eletrônico
integrado é efetivo na melhoria da saúde e da qualidade de vida das
pessoas.
Como
exemplo, apesar da linha de cuidados para o diabetes tipo 2 estar
bem estabelecida, recente pesquisa da UNIFESP avaliando 22 centros
em 10 cidades constatou que pouco mais de um quarto dos diabéticos
estavam com a doença controlada e quase metade tinham sinais de
retinopatia e neuropatia, ou seja, já com complicações da
doença.
Recentemente realizou-se o Segundo Forum
Latino-Americano de Doenças Crônicas: Resultados em Saúde, Tomada
de Decisões e Gestão de Risco de Enfermidades reunindo na cidade do
México, especialistas das áreas público e privada de todo o
continente. Constatou-se que há experiências exitosas com o uso da
tecnologia, estratégias de prevenção, modelos preditivos, economia
da saúde no apoio à tomada de decisões e gestão do conhecimento.
Constatou-se também a importância de maior integração para adoção
de modelos adequados à cultura e condições sócio-econômicas do
continente que, provavelmente, serão mais eficazes do que a adoção
de modelos utilizados na Europa e, principalmente nos Estados
Unidos onde há um sistema de saúde diverso à cobertura universal
que tem sido a tendência em muitos países da America
Latina.
Em
nosso país, somente a integração da assistência e da prevenção com
a adoção de modelos como o de cuidados crônicos permitirá atingir
resultados mais efetivos. Neste contexto, o setor saúde terá que
incluir as empresas (e o ambiente de trabalho) com stakeholders
importantes também na gestão de doenças crônicas que não deve ser
restrita às unidades de saúde, hospitais, clínicas, operadoras de
saúde ou consultórios médicos.