Debate
mostrou articulação de parlamentares que apoiam propostas. No
entanto, governistas temem impacto orçamentário da
medida
Participantes da comissão geral que discutiu a
jornada de 30 horas semanais para profissionais da enfermagem,
realizada nesta quarta-feira (21) no Plenário da Câmara, defenderam
a aprovação da proposta que garante esse direito à categoria (PL
2295/00).
O
deputado André Moura (PSC-SE), que pediu a realização do debate,
adiantou que na próxima terça-feira (27) irá monitorar na reunião
de líderes a posição de todos os parlamentares que se manifestaram
favoravelmente ao projeto. “Vou observar a posição de cada um; é
muito fácil vir aqui discursar”, sustentou.
O
presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, ressaltou estar
tentando construir um consenso para que o projeto possa ser pautado
e aprovado. De acordo com o presidente, o assunto “demanda costuras
políticas, acordo com o governo”. Alves garantiu que está
discutindo o assunto com vários líderes partidários e
representantes do Executivo.
Impacto
O PL 2295 já foi aprovado no Senado e
está pronto para ser votado no Plenário da Câmara desde 2009. Em
2012 chegou a entrar na pauta, mas a sessão caiu por falta de
quórum. De acordo com o deputado Mandetta (DEM-MS), a razão para
que a proposta não seja votada “tem nome, sobrenome e CPF, e fica
no Palácio do Planalto”.
Segundo a presidente da Federação Nacional dos
Enfermeiros (FNE), Solange Aparecida Caetano, tanto o governo
quanto as instituições privadas e filantrópicas alegam que a
redução da jornada teria impacto de R$ 13 bilhões anuais. De acordo
com a representante dos enfermeiros, no entanto, “esse cálculo não
é verdadeiro”.
Dados
apresentados pelo supervisor Técnico do Departamento Intersindical
de Estatística e Estudos Socioeconômico (Dieese), Max Leno de
Almeida, corroboram a posição de Solange Caetano. O técnico
explicou que o Dieese realizou um estudo que abrange o período de
2009 até hoje em parceria com o departamento de economia do
Ministério da Saúde para avaliar o impacto financeiro da demanda de
enfermeiros.
Conforme Almeida, o aumento de gasto, mesmo com
encargos empregatícios, seria de R$ 6,4 bilhões anuais. Esse valor
representa menos 2% de incremento no custo atual de salários e
encargos, segundo diz. “Mesmo levando o setor privado e o
filantrópico em consideração, o impacto final é da ordem de 8%
sobre a folha de pagamentos atual”, acrescenta.
Contingente
profissional
Ainda conforme o técnico do Dieese, a
aprovação do projeto levaria à geração de 43 mil novos empregos
para profissionais de enfermagem. Esse, aliás, representa outro
argumento do setor privado e filantrópico para questionar o projeto
das 30 horas.
Único
representante do setor na comissão geral, o diretor-executivo da
associação Nacional dos Hospitais Privados (Anaph), Carlos Eduardo
Figueiredo, afirma que a medida iria causar escassez de
profissionais qualificados. Em seus cálculos, a aprovação das 30
horas semanais geraria a necessidade de 235 mil novos
profissionais. “De onde tiraremos esse contingente de que o mercado
necessita?”, questionou.
Mas,
o secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Saúde (CNTS), Valdirlei Castagna, rebateu a informação de
Figueiredo. Conforme sustenta, o Brasil conta com aproximadamente
1,8 milhão de auxiliares, técnicos e enfermeiros para 840 mil
postos de trabalho. “Um milhão de trabalhadores está em outras
atividades porque as casas de saúde não pagam salário digno e a
jornada é estressante”, justificou.
Defesa
Vários parlamentares, entre eles a
deputada Carmem Zanoto (PPS-SC), ressaltaram que durante a campanha
presidencial, a então candidata Dilma Rousseff assinou um
compromisso de apoiar iniciativas legislativas que garantissem 30
horas semanais para a enfermagem. “A categoria exige o cumprimento
do compromisso agora, não em 2015; chega de promessas”,
reivindicou.
Líder
do PCdoB, a deputada Jandira Feghali (RJ) mostrou-se confiante na
aprovação da proposta. “Tenho certeza absoluta que, se esse projeto
vier a Plenário, passará; temos de negociar com governo Dilma, que
é progressista”, sustentou.
O
líder do PT, deputado Vicentinho (SP), que disse ser favorável ao
projeto, se propôs a negociar sua aprovação com o Executivo. “Quero
ajudar a ter o nosso governo conosco pela aprovação deste projeto;
a defesa das 30 horas não é nenhuma maldade contra grupos privados,
contra prefeitos, mas a favor dos profissionais da enfermagem”,
argumentou.