Em entrevista
à Revista Saúde Business, o CEO da Great Place to Work Brasil, Ruy
Shiozawa, analisa a maturidade das empresas do
setor
No
final de março, na primeira edição do GPTW Maranhão, pesquisa que
reuniu as melhores empresas para se trabalhar na região, o
presidente da Great Place to Work, Ruy Shiozawa, estava ao lado de
um dos diretores de uma das empresas premiadas quando o executivo
mostrou o resultado de um post nas redes sociais que falava que a
companhia dele era uma das melhores para trabalhar. Cinco minutos
depois, o executivo já tinha recebido três currículos. “A primeira
conclusão é a diferença muito grande das melhores empresas e das
demais em termos de atratividade”, conta Shiozawa ao relembrar o
fato, uma semana depois quando esta entrevista foi realizada por
telefone. Na saúde, a atratividade é ainda maior, o que segundo ele
retrata a importância chave que os colaboradores têm no setor. Não
é apenas um trabalho, como analisa o executivo, é um compromisso em
salvar vidas e contribuir para a saúde das pessoas.
Este é o primeiro ano do estudo na área
de Saúde no Brasil. Como você avalia a maturidade da gestão de
pessoas no setor?
Talvez seja um dos setores que tenha
maior preocupação com esse tema. Como no produto final da empresa a
dependência de pessoas é muito grande, acho que essa preocupação
está sempre presente, pois é muito sensível. Se em outros segmentos
o serviço na ponta sai com o problema vai dar um impacto, mas como
estamos falando da saúde das pessoas, a sensibilidade desse tema
nesta área é muito maior. Mesmo antes de ter a lista de saúde, na
lista nacional já tínhamos uma representação do setor. E esse
processo [parceria IT Mídia e Great Place To Work] vai ajudar a
reforçar mais ainda, fazendo com que outras empresas que ainda não
estejam no mesmo patamar, comecem a se preocupar com esse assunto.
Na lista da Melhores Empresas para se Trabalhar no Brasil deste
ano, das 130 premiadas, 14 são do segmento.
As empresas do ranking de Saúde em 2013
tiveram, em média, 113 candidatos para cada vaga aberta, número 24%
acima das premiadas na lista nacional. Como você avalia
isso?
Uma análise importante é a diferença
significativa de atratividade, independentemente do setor, é se a
empresa tem um bom ambiente de trabalho. Um exemplo, na primeira
premiação regional do Maranhão o pessoal começou a postar nas redes
sociais. Cinco minutos depois de um dos diretores de uma dessas
empresas ter postado, ele já tinha recebido três currículos. A
primeira conclusão é a diferença muito grande das Melhores Empresas
e das demais em termos de atratividade e essa diferença de saúde em
relação à média do Brasil volta ao ponto da importância das pessoas
na área de saúde. Ou seja, talvez tenha um “gap” até maior entre as
melhores e as demais na área de saúde, pois ainda se tem ambientes
muito ruins com jornadas exaustivas, pessoas com três ou quatro
empregos que correm para lá e para cá; chega uma hora que a
qualidade do serviço está caindo, ele [o profissional] está fazendo
um trabalho automático. Por outro lado, quando as pessoas percebem
que lá tem um ambiente legal, essa atratividade fica mais forte.
Isso reforça a importância do trabalho focado na saúde.
Como você analisa o impacto na
cadeia?
Quando se tem um ambiente melhor
dentro da empresa, [a pessoa] se sente mais bem tratada, mais
estimulada e mais engajada no seu trabalho e vai gerando serviços
internos e externos melhores. Então, quanto mais essa engrenagem
funcionar, a chance da ponta ser melhor é muito grande. Ligado a
isso, é interessante o fator de retenção neste segmento. Quando se
pergunta ‘por que você fica na empresa?’, 41% das pessoas das
premiadas do setor de saúde responderam que ficam pela oportunidade
de crescimento e desenvolvimento, 26% pela qualidade de vida e 16%
pelo alinhamento de valores, 14% remuneração e benefícios e 3%
estabilidade. O fator de retenção “alinhamento de valores”, ou
´estou nessa empresa porque o trabalho tem um significado’, na
pesquisa nacional é de 12%, na área de saúde é 16%, mostrando que
se tem mais gente que está engajada com o propósito de saúde:
‘estou aqui porque estou salvando vidas’ ou ‘contribuindo com a
saúde das pessoas’, ou ainda, ‘por mais que seja difícil, o meu
trabalho tem um significado especial’.
Os CEOs de Saúde permanecem mais tempo no
cargo com nove anos contra sete anos do ranking nacional. Como
podemos avaliar esse dado? Positivo ou
negativo?
Positivo. No mundo (a média global) é
4,8 anos e no Brasil (a média nacional) é de 2,5 anos, o que quer
dizer que somos mais nervosinhos aqui, ou seja, se o ‘cara’ sentou
na cadeira e não deu resultado, troca. Comparando a média nacional
com o ranking das melhores do Brasil pulamos de 2,5 para 7 anos, ou
seja, uma relação intrínseca entre as duas coisas: o CEO fica mais
tempo e consegue fazer um trabalho mais profundo de melhorar o
ambiente de trabalho, melhorar os resultados e vai ficando. De 2,5
para 7 é um salto muito grande. O resultado de venda, por exemplo,
talvez se consiga mexer muito de um mês para o outro, já a gestão
de pessoas, como depende da formação e do desenvolvimento, é mais
um pano de fundo. Ou seja, esse dado mostra que se o CEO está há
mais tempo, consegue implementar um melhor ambiente de trabalho e,
consequentemente, fica mais tempo (na posição).
Comparando a porcentagem entre homens e
mulheres, elas são a maioria nas empresas de saúde e também nos
cargos de liderança. Mas entre as empresas do ranking apenas sete
ocupam o cargo de CEO. Essa é uma realidade brasileira ou
setorial?
É uma realidade brasileira. No Brasil
é menor a quantidade de mulheres, percentualmente o número de
mulheres que está na primeira posição é menor, então isso é um
amadurecimento de mercado. Se compararmos esse dado com 10 anos
atrás, ele já evoluiu muito. A saúde reflete a mesma coisa, tem
mais mulheres em cargos de gestão porque tem mais mulheres na área,
mas ainda estão um pouco atrás [nos cargos de alto escalão]. Mas
claramente há uma evolução. Um tempo atrás quando colocávamos uma
mulher numa posição de gestão e primeiro nível, na realidade se
procurava uma mulher com perfil mais masculino, aquela que
“brigava” e “chutava a porta”. Hoje, não só estão aumentando o
número de mulheres como também as empresas estão aproveitando o
perfil feminino, que é a capacidade de fazer múltiplas coisas ao
mesmo tempo. Isso é uma característica bem feminina que vem da
maternidade, pois se é mãe, se cuida da casa e vai trabalhar, são
sempre múltiplas coisas e isso se reflete no ambiente de trabalho.
Quando se tem mais coisas para fazer, se delega mais e se treina
mais, ou seja, se treina a empregada, a secretária e a equipe, pois
ela sabe que precisa das pessoas para todas essas funções
acontecerem. Em resumo, nos últimos anos aumentou a presença
feminina nas empresas e aumentou o percentual de mulheres na
liderança.