Ivor
Moreno projeta evolução do ramo atrelada à do setor de transportes
e sugere conscientização para aumentar penetração entre pequenos
transportadores
O
Head de Transportador e Inovação da Argo Seguros, Ivor Moreno,
projeta uma evolução do seguro de transportes atrelada ao
desenvolvimento do segmento de logístico, que está a todo vapor. “E
será a cada dia mais rápido, seja no micro processo (transporte por
drone, bicicleta, patinete) ou no macro (navios e aviões cada vez
maiores)”, destaca.
“Os
aspectos burocráticos se tornarão mais dinâmicos, digitais e
acessíveis. Operações com transferência de dados via API, por
exemplo, já foram desenvolvidas e adequadas aos clientes e
companhias”, explica.
Moreno afirma que é necessário mais conscientização para que o
seguro alcance um grupo maior de pequenos transportadores, mas que
“a situação já foi muito pior”. “Infelizmente, é comum buscarem
proteção somente após algum problema e não como prevenção”. O
executivo diz ainda que o segmento foi rápido para se adaptar ao
boom do e-commerce. “Se o mercado demanda alteração, sempre haverá
seguradora disponível para executar”, garante.
Por
fim, avalia que o mercado de transportes reagiu à falta de
segurança que prejudicou o desenvolvimento do seguro de transportes
no Brasil durante muitos anos. “Temos uma das mais sofisticadas
indústrias de proteção ao transporte de mercadorias, com um
ecossistema único’.
Veja
os principais trechos da entrevista exclusiva para o site do
Sindseg SP.
Sindseg SP: A falta de segurança prejudicou o
desenvolvimento do seguro de transporte rodoviário durante anos no
Brasil. Como é o ambiente hoje? A tecnologia permitiu avanços no
gerenciamento de risco? Seguradoras, embarcadores e transportadores
estão alinhados nesse sentido?
Ivor
Moreno: Há duas situações muito particulares que precisamos
considerar para seguir em uma linha de entendimento nesse
sentido.
– Situação de transporte de cargas no Brasil
– Dinâmica do mercado de seguros.
Na
primeira situação, temos um país com dimensões continentais em que
quase todo o transporte de cargas é feito por rodovias. Esse
cenário aumenta o risco considerando a frequência dos eventos,
quando falamos de acidentes, mas atenua do ponto de vista de
grandes catástrofes já que as mercadorias estão pulverizadas em
muitos caminhões.
Sobre a segurança, temos talvez uma das mais sofisticadas
indústrias de proteção ao transporte de mercadorias. Todo o
ecossistema que se desenvolveu no mercado brasileiro é único,
obviamente que por pura necessidade nossa. Há diversos tipos de
proteção desenvolvida, desde acompanhamento de veículos por escolta
aérea (helicópteros) até microchips, instalados em cargas para
pontuarem a localização física daquele bem em eventual acionamento.
Também vemos a sociedade, de certa forma, através da segurança
pública, se debruçando e discutindo cada vez mais esta mazela em
foros específicos.
Isso
demonstra que o mercado (principalmente embarcadores e
transportadores) está se conscientizando que só com proteção é
possível concluir essa etapa fundamental da indústria (transportar
o bem de um lugar a outro).
É
importante entender que tudo isso não aconteceu por uma exigência
do mercado segurador que, talvez, tenha estimulado, mas não é
motivador isolado do ecossistema de segurança desenvolvido no
Brasil. É uma necessidade do segmento logístico se adaptar à região
para conseguir cumprir a sua função.
É
possível que em um passado não tão distante, algumas seguradoras
eram restritas ao segmento de transportes, mas do ponto de vista da
indústria do seguros, isso não é necessariamente relevante. A
indústria de seguros vai sempre adaptar suas taxas à realidade do
mercado. Se não houvesse segurança, as taxas de seguro seriam muito
mais altas, mas ainda assim haveria seguradora ofertando condição.
Provavelmente não teria consumidor para a condição oferecida.
Nesse sentido, o segmento apresenta hora taxas mais altas e
escassez na oferta, o que estimula os segurados melhorarem os seus
riscos; e hora taxas mais baixas e excesso de oferta, o que, pelo
oposto, promove segurados menos atentos ao risco. Esse movimento
sempre vai existir, é um ciclo conhecido na indústria de seguros e
o que muda de uma linha de seguros para outra é a velocidade do
ciclo.
Nesse momento, podemos afirmar que estamos caminhando para um
mercado com excesso de capacidade e taxas baixas. Provavelmente, em
pouco tempo estaremos novamente nos deparando com taxas altas e
falta de seguradoras, completando o ciclo do seguro e iniciando
outro. Com uma dinâmica mais rápida, é verdade, porque o segmento
de logística é um mercado de frequência e não de severidade.
Sindseg SP: Como a recente explosão no e-commerce impactou o
mercado? As seguradoras estavam preparadas para o fenômeno? Estão
conseguindo atender a demanda desse mercado? Quais as
características dos produtos mais demandados pelo
segmento?
Ivor
Moreno: As seguradoras se adaptaram muito rapidamente porque nossa
função é suportar e dar tranquilidade aos clientes. O seguro de
transporte deve garantir a integridade do bem transportado do ponto
A para o ponto B e isso não mudou. As mercadorias passaram a ir
direto para o consumidor final, mas essa foi uma adaptação muito
maior para o mercado logístico que fisicamente precisou se
adaptar.
Por
outro lado, em termos burocráticos – quantidade de documentos,
averbações, processos de sinistros -, o volume explodiu. Mas o
valor médio do sinistro diminuiu, já que o risco se pulverizou.
Claro que fizemos algum tipo de adaptação em nossos procedimentos,
como documentação mais simplificada, aperfeiçoamento dos sistemas
para processar a operação completa, mas isso dependeu mais das
características de cada companhia. Uma coisa é certa, no entanto:
se o mercado demanda alteração, sempre haverá seguradora disponível
para executar. Quem não se adaptar vai perder negócio, mas não vai
haver falta de oferta por alterações na dinâmica da logística.
Sindseg SP: O seguro de cargas chega ao pequeno
transportador? O que falta para o acesso ser maior?
Ivor
Moreno: É um ponto muito interessante e a situação já foi muito
pior. Hoje, há algumas situações que praticamente obrigam um
transportador a ter seguro, principalmente:
– emissão de conhecimento de
embarque eletrônico, registrado na Receita Federal;
–
inclusão do número da averbação de seguros no conhecimento de
embarque eletrônico.
Estas obrigações enquadram
praticamente 95% de toda operação de transporte rodoviário no
país.
Ainda assim, há muitas operações que não contratam seguro,
normalmente realizadas por pequenos e micro transportadores que
talvez sejam os que mais precisam de proteção. Para esses casos, a
conscientização é um caminho, mas hoje ela ocorre mais pelo
processo de sofrimento do que pelo do entendimento. Infelizmente,
muitos segurados buscam proteção somente após algum problema em
suas operações e não como prevenção.
Sindseg SP: Como será o mercado do seguro de
transportes em 10 anos? Quais são as tendências já
observadas?
Ivor
Moreno: Podemos afirmar que a evolução da logística não para e vai
ser a cada dia mais rápida, seja no micro processo (transporte por
drone, bicicleta, patinete) ou no macro (navios e aviões cada vez
maiores e com mais capacidade). E o seguro de transportes estará
sempre disponível.
Possivelmente, passaremos por um novo ciclo de seguros (comentado
na pergunta 1) com redução de taxas, com posterior aumento e
consequente nova redução. Enfim, o ciclo do seguros não deixará de
existir tal como a função do mercado de seguros de transporte que é
garantir a integridade da carga sendo transportada do ponto A ou
B.
É
certo que os aspectos burocráticos se tornarão mais dinâmicos,
digitais, acessíveis, acompanhando a evolução do segmento
logístico. Como por exemplo, operações com transferências de dados
via API já foram desenvolvidas e adequadas aos segurados e
seguradores.