O conflito é inerente à natureza
humana. Desde que nos autointitulamos seres com consciência e, por
conseguinte, dignos de expressar nossos desejos e interesses, o
conflito passou a ser uma constante entre as relações, visto estes
mesmos objetivos, comumente, não convergirem. E isto é bom!
Baseado no mesmo princípio de que a
evolução biológica só ocorre graças às mutações, os conflitos
servem como combustível para impulsionar nossa capacidade de
pensar, questionar e comunicar.
Há de se pontuar que o bom conflito é
diferente de confronto. Conflito é quando duas ideias distintas
sobre uma mesma situação podem promover a avaliação de uma solução
mais adequada. Já o confronto pode ser definido como embate, o
choque – algumas vezes acompanhado de violência, no qual através da
força um indivíduo, por exemplo, tenta sobrepor seus interesses
perante aos do outro.
Isto posto, há de se promover a
discussão sobre como os conflitos influenciam o ambiente
corporativo, mais especificamente, os projetos. Existe uma lógica
infalível em todo projeto. Este existe para mudar algo, seja criar,
melhorar, substituir. Fato é que nenhuma organização investe seus
recursos para manter tudo como está! E como dito em outras
oportunidades, a natureza humana tende a resistir à mudança, seja
por medo ou manutenção do conforto.
Se todo projeto muda e toda mudança
gera resistência, temos então o silogismo de que todo projeto é um
fomentador de resistências!
No ciclo de vida de um projeto, os
conflitos não tendem a aparecer mais comumente nas fases de Início
e Planejamento do projeto por uma razão simples. Nestas fases, você
ainda não está mudando nada no cenário onde o projeto está
inserido.
Normalmente, é na fase de Execução que
a coisa pega. É nesta hora que a equipe do projeto – de criação,
melhoria ou substituição – começa a pôr em campo os requisitos e
características esperadas pelo investidor. Neste ambiente cabe,
invariavelmente, ao líder do projeto ser o atento observador de
todos os possíveis conflitos que possam vir a surgir nos rumos da
empreitada.
Embora fosse o ideal, não se deve
esperar deste profissional a serenidade de um monge budista. Alguns
dos princípios da inteligência emocional como resiliência e
assertividade na tomada de decisões, muito desejáveis, não são tão
facilmente encontrados em um mundo cada vez mais competitivo e
veloz. Mas isto não pode ser desculpa para a negligência diante dos
conflitos. Ao líder do projeto é necessária esta capacidade de
percepção da dimensão e da intensidade do conflito, a fim de que se
busque a estratégia mais aplicada para cada caso.
As técnicas de resolução de conflito
se misturam com técnicas de negociação, geralmente muito estudadas
por profissionais de vendas que buscam vencer as resistências em
prol dos seus objetivos.
No diagrama abaixo, ROBBINS (1)
definiu cinco estágios do processo do conflito dignos de estudo por
todos aqueles que entendem a necessidade (ou oportunidade) de
vencer os embates que previsivelmente surgem no decorrer dos
projetos.
[1] ROBBINS, Stephen P. Comportamento
Organizacional. [S.l.]: Pearson Prentice – Hall, 2005.
As conceituações das estratégias
do estágio III (Intenções) de administração de conflitos merecem
serem destacadas para análise:
Competição – quando se busca convencer
a outra parte de uma determinada posição, independentemente dos
possíveis impactos que isto possa causar naquele envolvido.
Colaboração – busca um resultado que
seja benéfico para todas as partes envolvidas.
Compromisso – é quando se busca que as
partes envolvidas cedam, cada qual, parcialmente de suas posições
originais em prol de um resultado comum.
Não enfrentamento (ou Evitação) – é a
proposta de evitar todo e qualquer envolvimento com o conflito,
chegando, eventualmente, até a negar sua existência.
Acomodação – busca apaziguar a
situação de conflito, abrindo mão de sua posição na busca de
tranquilizar a situação.
É óbvio que o entendimento destas
estratégias não deve ser um trilho limitador. Ninguém acorda um dia
e define a si mesmo: “Hoje, vou resolver meus conflitos por
colaboração”.
Como dito, cada situação deve merecer
uma estratégia específica e eficaz para tirar o melhor da
oportunidade e viabilizar que seu projeto progrida com baixo nível
de stress entre os envolvidos e com qualidade nas entregas.
Dito isto é possível sim, extrair
ótimos resultados de conflitos. Como na sabedoria popular, duas
cabeças pensam melhor que uma, logo, podemos perceber que as
distintas soluções pensadas pelos integrantes de um projeto podem
se complementar de alguma forma, ou ainda, identificar a
incompreensão de alguma parte do processo ou da própria importância
do mesmo. Estas são oportunidades para alinhar as mensagens e
esclarecer todos os pontos para o bom andamento do projeto,
evitando que venham a ser desenvolvidos confrontos ou embates. Bons
conflitos e ótimos projetos!
Ramiro Rodrigues é Project Management
Officer da ARCON.