Você sabe o que cada candidato tem falado sobre
direitos LGBTI?
No último dia 15 de agosto, 13 presidenciáveis
realizaram seus pedidos de registro de candidaturas junto ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que agora analisa a
possibilidade de deferimento ou indeferimento de qualquer
candidatura que não cumpra com a legislação eleitoral.
A realização das eleições presidenciais em 2018
ocorre no mesmo ano em que o movimento social LGBT completa 40 anos
de história de luta por reconhecimento de direitos e cidadania–
movimento social que se inicia em 1978 denominado de movimento
homossexual, em um País que guarda em seu histórico períodos de
criminalização contra identidades que destoassem do considerado
“normal”.
Interessante ressaltar que foi somente em 1990,
portanto, há 28 anos, que a OMS (Organização Mundial de Saúde)
retirou a homossexualidade da lista de distúrbios mentais da CID
(Classificação Internacional de Doenças), reconhecendo, depois de
pressão política de movimentos sociais organizados e entidades
internacionais, a falha em se considerar uma identidade que se
torna social e política – especificamente após os movimentos
sociais da década de 1970 – como uma doença. Não atoa que a data em
que é realizada a retirada é até hoje marco de combate contra o
preconceito, este que não se dá somente no nível das atuações
individuais, mas que está institucionalizado também no modo como
historicamente se pensou algumas áreas científicas e a atuação do
Estado.
Nesse trânsito temporal, muito já se produziu a
respeito de estigmas que ainda recaem sobre os corpos desses
sujeitos, seja pela hipersexualização e marginalização, até as
tentativas mais recentes de retorno à patologização – como ocorreu
em decisão judicial juiz federal da 14ª Vara do Distrito Federal
Waldemar Cláudio de Carvalho concedeu liminar que abre brecha para
que psicólogos ofereçam a terapia de reversão sexual, conhecida
como “cura gay”, em setembro de 2017, ou seja, que visava
possibilitar que profissionais de psicologia atuassem na “reversão
sexual” da homossexualidade.
Patologização que, no que se refere à Travestis
e Transexuais, ainda ocorre de forma institucionalizada e na
prática de profissionais das mais variadas áreas, desde direito à
psicologia, já que é somente em 2018, em recente decisão, que a OMS
retirou a transexualidade da lista de doenças mentais – a
transexualidade ainda está presente no CID agora como condição de
“saúde sexual”.
Ao mesmo tempo, muito se tem produzido em
relação a avanços significativos pelo reconhecimento de direitos e
cidadania, como ocorre em decisão do STF em 2011, pela
possibilidade de que casais de pessoas do mesmo sexo possam
converter união estável em casamento, assim como pela promoção
constante de políticas públicas que visem abordar as
especificidades das experiências LGBT no que se refere à saúde,
educação e cultura. Também no recente reconhecimento pelo STF para
que pessoas trans possam alterar o nome e o sexo no registro civil
sem que se submetam a cirurgia transexualizadora.
A sequência de reconhecimento por parte do STF
das demandas dos movimentos LGBT nos últimos anos, nos mostra que
ainda há muito a ser feito tanto no que se refere à promoção de
políticas do Estado, e pelo Estado, seja também ao legislar sobre
questões que envolvem direitos LGBT, ou na promoção de combate à
discriminação nos espaços de saúde e educação, assim como na
diminuição dos índices de as vivências de gênero e sexualidade.
Nesse texto, meu objetivo é adentrar nesse
debate entre presenças e ausências, ao fazer uma análise
comparativa dos planos e diretrizes de governo de
presidenciáveis (Marina Silva -REDE, Jair Bolsonaro-PSL,
Geraldo Alckmin-PDSB, Guilherme Boulos-PSOL, Ciro Gomes-PDT e
Lula-PT), especialmente no que toca a questões envolvendo
reconhecimento de direitos e cidadania de Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros (LGBT).
Trata-se de um texto que busca apontar
os principais elementos que se fazem constar ou não nos planos de
cada presidenciável, apontando o que há de avanços e retrocessos no
que se refere ao reconhecimento das demandas de uma população
(cumulativamente esquecida quando da promoção de políticas públicas
específicas, ao mesmo tempo em que constantemente utilizada como
moeda de troca para quando um governo ou gestão, seja municipal,
estadual ou federal, quer se dizer democrático e respeitador das
“diversidades”).
Marina Silva (Rede)
Optei por iniciar pela análise do plano de
Marina Silva, em razão do modo como a temática é turbulenta nos
histórico da candidata, que é declaradamente evangélica. Quando de
sua candidatura em 2014, a candidata chegou a apresentar um plano
em que defendia o casamento entre homossexuais, que foi revogado em
não mais que 24 horas, fruto de pressão de movimentos religiosos
que amparavam sua campanha -, e que nesse pleito apresenta avanços
que merecem ser destacados. O que propõe a candidata:
Marina se compromete a combater qualquer tipo
de discriminação que aconteça na escola, promovendo ações que visem
prevenir violências, bullying e discriminação.
Contudo, não detalha que tipos de ações irá tomar, ou que projetos
farão parte desse combate à discriminação. Tampouco faz qualquer
menção às tentativas de setores do Congresso Nacional, de
cerceamento da liberdade da docência no ensino médio e fundamental,
que ocorre caso da aprovação do projeto “Escola sem Partido”, ou
que são frutos dos discursos contra a denominada “Ideologia de
gênero”. Portanto, a proposta se apresenta vaga e sem
direcionamento, sendo apenas ideias sem um comprometimento de como
ações serão tomadas, enquanto políticas de Estado, para a promoção
do combate à LGBTfobia.
Assim como ocorre na área da educação,
compromete-se com a ampliação dos serviços de saúde e atendimento
integral às necessidades da população LGBTI. Contudo, novamente sem
a especificação de como essas ações se darão, ou sem a menção da
Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis e Transexuais, aprovada em 2011 pelo governo federal, e
que até então não tem efetividade de aplicação na prática das
gestões do poder público em âmbito federal.
Os avanços da candidata se dão no campo dos
direitos humanos e cidadania, em que ela se compromete e “promover
políticas para garantir o respeito e o exercício pleno da cidadania
por LGBTIs”. Dentre eles, destaca-se a sua posição em relação aos
direitos de união civil, fazendo menção à decisão do Conselho
Nacional de Justiça – Resolução 175/13 – e do STF, quanto ao
tratamento igualitário de união civil e também em casos de adoção,
atendendo, nesse caso, ao melhor interesse da criança.
Estes são os pontos de maior avanço da
candidata em relação a sua proposta de 2014, mesmo que ainda sejam
planos superficiais. Espera-se, dessa vez, que ela não recue ou
ceda a pressões políticas e mantenha sua posição de reconhecimento
legal do casamento civil, e no que se refere à adoção, o que,
considerando as pautas que sempre se fizeram presentes nos
programas anteriores da candidata, já é um avanço.
Disponível em:
https://ep00.epimg.net/descargables/2018/08/15/fccc6c2f2fbf5bab0e94cc013a27e399.pdf
Jair Bolsonaro (PSL)
O “Projeto Fenix – Caminhos da prosperidade”,
nome do documento do plano de governo de Jair Bolsonaro, não possui
nenhuma menção aos direitos da população LGBTI. Sequer tal sigla é
citada no documento, que possui 81 páginas sem propostas efetivas
relacionadas à saúde, educação ou direitos humanos e cidadania para
uma população que sequer é reconhecida pelo candidato como que
necessidade de olhar e cuidado específico. O interessante de
analisar é que o projeto do candidato possui diversas menções a
“liberdade e fraternidade”, “cuidado com o outro”, “união do
Brasil”, enquanto não propõe qualquer política que reconheça que as
liberdades não são gozadas da mesma forma pelo contingente que ele
denomina de “povo de bem”. Ainda é válido lembrar que Bolsonaro é
citado como um dos candidatos mais preconceituosos, racista,
machista e lgbtfóbico a concorrer ao Poder Executivo nessas
eleições – superando inclusive as histórias do “democrata cristão”
das eleições passadas, ou do “aparelho excretor não reproduz”, vide
2014.
Disponível
em: http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2018/BR/BR/2022802018/280000614517//proposta_1534284632231.pdf
Geraldo Alckmin (PSDB)
O presidenciável registrou junto ao TSE somente
diretrizes de governo, que, na prática, seria o mesmo que dizer que
ainda não tomou posição sobre assuntos que possam vir a lhe retirar
intenções de voto, como no caso de posicionamento a favor ou contra
direitos da população LGBTI, ou de indígenas, mulheres, negros e
negras, dentre outras. Dentro das diretrizes, não há qualquer
menção às palavras: “gênero”, “identidade de gênero” ou
“sexualidade”, sendo que os direitos LGBTI são mencionados em
apenas uma ocasião, quando Alckmin fala sobre o “Brasil da
solidariedade”:“Vamos estabelecer um pacto nacional para a
redução de violência contra idosos, mulheres e LGBTI e incentivar a
criação de redes não-governamentais de apoio ao atendimento de
vítimas de violência racial e contra tráfico sexual e de
crianças”.Mesmo sendo diretrizes, são vagas e não contemplam
as especificidades de se trabalhar com saúde, educação e direitos
humanos LGBTI, apresentando, portanto, diretrizes superficiais.
Disponível
em: http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2018/BR/BR/2022802018/280000602477//proposta_1533849607885.pdf
Guilherme Boulos (PSOL)
Dentre os presidenciáveis, Guilherme Boulos é o
que apresenta um panorama mais próximo da realidade da população
LGBTI do País, apresentando propostas que vão do campo do
reconhecimento de direitos, à promoção de políticas públicas
específicas nas áreas de saúde, educação, cultura, emprego e
segurança. Entre suas posições e propostas, destacam-se:
– Cidadania LGBTI como política de Estado; aprovação de
legislação visando o casamento igualitário, com mesmos direitos
para pessoas de mesmo ou diferente sexo; defesa do Estado laico;
criação de uma política nacional de adoção, incluindo pessoas e
casais do mesmo sexo; ampliação da licença para cuidar de filhos,
contemplando a alteração da “licença maternidade” para “licença
parental”, sem distinção entre cuidado de pai e mãe, independente
de orientação sexual ou gênero; aprovação de legislação que
reconheça o direito à identidade de pessoas trans, e uma série de
políticas para travestis e transexuais, incluindo as que vivem em
situação de rua ou as que buscam a realização do processo
transexualizador pelo SUS; defesa de um projeto de educação para as
diferenças, com a derrotada do projeto “Escola sem partido”; defesa
de um plano de assistência social para a população LGBTI e de
assistência ao trabalho; no que se refere à segurança, capacitação
de profissionais que trabalham com segurança pública, para a
conscientização dos direitos LGBTI; defesa de um projeto de lei de
criminalização da LGBTfobia; e garantia dos direitos LGBTI privados
de liberdade, com garantia de espaço específico em penitenciárias;
no campo da saúde, criação de política de cuidado à população
LGBTI, assim como de prevenção ao suicídio, fortalecendo a
RAPS.
O projeto do candidato ainda contempla outras
áreas e propostas, das quais busquei trazer um panorama, tendo em
vista que, dos planos presidenciais, o de Guilherme Boulos é o que
mais faz menção a palavras como identidade de gênero (8), gênero
(32), e LGBTI (51), estando tais conceitos e palavras espalhadas
entre os planos de governo, em áreas como educação, segurança e
combate à violência, saúde, emprego e direitos humanos e cidadania.
Sendo, portanto, o que apresenta uma complexidade dos fatores a
serem levados em consideração, assim como ações a serem tomadas,
condizentes com a promoção de direitos humanos LGBTI.
O ponto não-favorável do documento apresentado
pelo PSOL é de que apresenta inúmeras ideias relacionadas aos mais
variados temas que necessitam serem debatidos no País, mas alguns
são abordados de forma vaga e genérica, faltando objetividade no
plano de ações, tanto é que o documento possui mais de 200 páginas
e se torna um documento ao estilo “elefante branco”, não acessível
para pessoas que, por ventura, venham a buscar uma leitura rápida e
concisa dos pontos que são apresentados.
Disponível em:
http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2018/BR/BR/2022802018/280000601016//proposta_1533565462424.pdf
Ciro Gomes (PDT)
Seu projeto inclui a população LGBTI dentro do
plano de “respeito” e direitos humanos, e apresenta a criação de
Conselhos, promoção de políticas públicas específicas, tanto na
educação, saúde e direitos humanos. O documento se mostra favorável
a aprovação do Estatuto das Famílias e da Diversidade, e do
atendimento específico da população LGBTI nos serviços de
saúde.
Dentre seus destaques, estão:
“Criação do Comitê Nacional de Políticas Públicas LGBT com
representantes estaduais, assim como uma Secretaria Nacional de
Políticas Públicas para a Cidadania da população LGBTI, incluindo o
amparo à seguridade de trabalho, emprego e renda à população LGBT e
de ações afirmativas de combate à discriminação institucional de
empresas e no ambiente de trabalho”
-Implementação efetiva do Plano Nacional de Promoção da
Cidadania e Direitos Humanos LGBTI;
– Respeito ao Termo de Compromisso com a Aliança Nacional
LGBTI+ e parceiras, tentando cumprir com máximo esforço suas
propostas;
– Criação de meios para coibir ou obstar os crimes
LGBTIfóbicos, definindo suas características, equiparando aos
crimes por racismo, injúria e feminicídio, cada qual com sua
especificidade;
– Inclusão do combate a toda forma de preconceito, seja ele
por raça, etnia, sexo, orientação sexual e/ou identidade de gênero
no Plano Nacional de Educação;
– Articulação e apoio à aprovação do Estatuto das Famílias e
do Estatuto da Diversidade;
– Garantia e ampliação da oferta de tratamentos e serviços
de saúde para que atendam às necessidades especiais da população
LGBT no SUS e suas especificidades, assim como o acolhimento dessa
população em sua melhor idade (acima dos 60 anos);
– Consideração das transversalidades da população LGBTI e
suas vulnerabilidades, tais como: situação de refúgio, conviventes
com HIV/AIDS, LGBTIs negros e negras, em situação de rua, dentre
outras, fomentando a ampliação das políticas públicas existentes e
criação de políticas públicas de proteção e acolhimento à essas
especificidades.
O projeto do presidenciável é apresentado de
modo mais consistente do que de outras candidatas, tais como Jair
Bolsonaro, Marina Silva e Geraldo Alckmin, que apostam na
superficialidade de suas diretrizes e propostas, sem mencionar
ações específicas que buscam desenvolver nos setores como educação,
saúde e direitos humanos. O que são pontos ressaltados por Ciro
Gomes, que aposta em educação, criminalização da lgbtfobia e
garantia de atendimento diferenciado no SUS.
Disponível
em: http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2018/BR/BR/2022802018/280000605589//proposta_1533938913830.pdf
Luís Inácio Lula da Silva (PT)
As diretrizes apresentadas pelo Partido dos
Trabalhadores em julho de 2018 contemplam as vivências LGBTI em um
aspecto, quando menciona, no item 2, a necessidade de “iniciar uma
nova era de afirmação de direitos”, o que inclui a “promoção da
cidadania LGBTI”. Ademais, não há qualquer especificação dentro das
diretrizes e ideias chave de governo, que mencionem como será feira
essa promoção da cidadania LGBTI. Interessante ressaltar que foi
nos governos de Lula e de Dilma Rousseff, que os direitos LGBTI
tiveram avanços na promoção de políticas públicas, tais como a já
citada criação da Política Nacional Integral de Saúde da População
LGBT (2011), Criação do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e
Direitos Humanos LGBT (2010) e o Programa Brasil sem Homofobia
(2004), a criação da Secretaria dos Direitos Humanos da
Presidência, que em 2015 teve Symmy Larrat como primeira Travesti a
ocupar a função.
Ainda assim, fora nos mesmos governos em que
não se teve a criação de qualquer legislação específica destinada a
promoção dos direitos LGBTI. Ainda vale lembrar dos ocorridos de
2011, quando a então presidenta vetou a distribuição do Kit
anti-homofobia nas escolas, cedendo a pressão de setores
conservadores do Congresso, na tentativa de garantir a
governabilidade (mesmos setores que posteriormente votaram a favor
do golpe político que a atingiu em 2016). Ressalto os pontos
positivos e as contradições para nos colocarmos a pensar quais os
limites que nos são colocados, quando a ideia de contemplar as
“diversidades” não está pautada em uma política de Estado.
Disponível em:
https://lula.com.br/sites/default/files/files/plano.pdf
________________
Optei por apresentar os planos desses cinco
candidatos por serem os que têm sido apresentados em pesquisas de
opinião como os que mais se aproximam da possibilidade de chegarem
a um segundo turno das eleições. O interessante de se pensar em um
período eleitoral, é o modo como certas questões envolvendo os
costumes são apresentadas nas diretrizes e planos de governo.
Alguns candidatos declaram abertamente suas posições políticas a
respeito das questões LGBTI, como o direito ao casamento civil, ou
adoção, e até mesmo criminalização da LGBTfobia, enquanto outros
mantém-se na inércia ou na negativa de reconhecimento da
especificidade de se trabalhar com as demandas que emergem dessa
população.
Evidentemente que para a execução de qualquer
das diretrizes, ou para a implementação de políticas específicas
previstas nos planos de governo, é necessário para além de vontade
política, força política no Congresso Nacional, e que os planos
econômicos de cada candidato contemplem a possibilidade de aumento
de incentivos financeiros e da presença do Estado na promoção de
políticas públicas. Muito dificilmente será coeso pensar na
promoção de direitos e cidadania da população LGBTI quando não
estão previstos no plano de governo, assim como muito difícil será
possibilitar a garantia de direitos, quando não se tem estrutura e
capital para investimentos públicos destinados especificamente para
a mudança da realidade de violência, discriminação, preconceito e
marginalização que partes da sopa de letrinhas do LGBTI
experienciam em suas vivências.
Ou seja, o que necessita ser analisado quando
da opção por esse ou aquele partido ou candidato, para além das
especificidades do que está contido no documento, é como cada
candidato pensa ser o Estado e a relação com a economia, e de como
pensar ser da função ou não do Estado, promover a cidadania de
sujeitos historicamente alocados às margens sociais, como é o caso
da população LGBTI, de mulheres negras, indígenas, em situação de
rua e vulnerabilidade social, como prioridade ou “direitos postos
em situação de troca”.
A grande questão que me acomete enquanto
ativista de direitos humanos e LGBTI, é o modo como cada governo
pauta as políticas que nos são voltadas. O que se necessita prestar
atenção é se nossos direitos estão garantidos enquanto parte de um
projeto democrático e que consiga contemplar as diferenças de cada
sujeito dentro das demandas de políticas públicas, sociais,
educacionais e de saúde, para lésbicas, gays, bissexuais, travestis
e transexuais, ou se as demandas reivindicatórias dos movimentos
são apenas moedas de troca para a manutenção da
governabilidade.
Quando chegamos ao estágio do governo da forma
que for, ou seja, de aceitar a migalha de direito que for como
sendo benéfica, sem a reflexão de como estamos nos colocando na
reivindicação plena do reconhecimento de nossos direitos humanos, o
movimento se perde e é cooptado pela mesma máquina da
governabilidade que mantém inalcançáveis as prerrogativas de gozo
de uma vida mais justa, igualitária e humanamente vivível.
Nos tempos obscuros em que nos encontramos, não
podemos permitir que nossos direitos sejam negociáveis!
Patrick Borges Ramires de
Souza é bacharel em Direito. Mestrando em Ciências
Sociais (UFSM). Ativista de Direitos Humanos e ligado ao movimento
social LGBT junto ao Coletivo VOE de Diversidade Sexual de Santa
Maria.