Depois de um ano e três meses
acompanhando a mulher todos os dias no hospital, o advogado Paulo
Maia, de 75 anos, recebeu a indicação médica de que ela poderia
continuar internada, mas em casa. Há cinco anos, um dos quartos do
casal foi praticamente transformado em uma unidade hospitalar, com
cama, equipamentos e toda uma equipe de profissionais que cuida de
Rosa, de 72 anos, 24 horas.
Em seis anos, o número de
estabelecimentos que prestam serviço de home care (atendimento
domiciliar), como o que atende Rosa, quase triplicou no País.
Segundo boletim econômico da Federação dos Hospitais, Clínicas e
Laboratórios do Estado de São Paulo (Fehoesp), o Brasil tinha 392
dessas clínicas no ano passado - eram 138, em 2011.
Para Yussif Ali Mere Júnior,
presidente da Fehoesp, esse serviço destoa e cresce mais do que o
restante por causa do envelhecimento populacional, que demanda
novos tipos de cuidado na saúde, e também pelo aumento do número de
planos que oferecem a cobertura do home care. "Os convênios tinham,
e alguns ainda têm, resistência ao tratamento domiciliar. Mas
muitos perceberam que, além de proporcionar um cuidado mais
humanizado ao paciente, também sai mais barato do que manter a
internação", diz.
Segundo Maia, como sua mulher tinha
quadro de saúde estável, a internação domiciliar era a opção mais
econômica para o plano de saúde. "Ela teve um AVC (acidente
vascular cerebral) hemorrágico, até hoje não fala, não se mexe, se
alimenta por sonda. Não fosse o home care, ela ainda estaria no
hospital. Para nós da família, e também para ela, é muito melhor
que esteja em casa, é muito mais confortável", afirma.
Cancelamento
Apesar de Rosa ser totalmente
dependente dos cuidados médicos que recebe em casa, Maia diz que o
plano já tentou duas vezes cancelar a cobertura do home care. A
família teve de recorrer à Justiça e ganhou. "Se a gente não
ganhasse, ela teria ficado no hospital durante todo esse tempo. Os
cuidados com ela são os de um hospital. Ela se alimenta por sonda,
tem cama especial, monitoramento por equipamentos 24 horas. Não são
cuidados que nós da família podemos dar", explica o marido.
Embora não esteja listado no rol de
cobertura obrigatória dos planos de saúde, o serviço de home care
tem sido cada vez mais alvo de demandas na Justiça - 90% com
decisões favoráveis aos pacientes, segundo levantamento feito nas
ações que tramitavam no Tribunal de Justiça de São Paulo - e de
reclamações na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A
procura da população também fez crescer a oferta de planos que
oferecem a cobertura como um diferencial.
A jornalista Karin Faria, de 49 anos,
teve de recorrer à Justiça para conseguir que o plano cobrisse o
atendimento domiciliar ao seu filho Miguel, hoje com 14 anos. Aos 8
meses de idade, ele foi diagnosticado com a Síndrome de West (uma
condição epiléptica severa), que prejudica o desenvolvimento da
fala e dos movimentos corporais. "Há alguns anos, uma criança com o
perfil do Miguel estaria destinada a viver para sempre em uma UTI.
Lutamos muito para que ele pudesse ficar em casa, porque o ambiente
doméstico traz muito mais qualidade de vida para a criança",
conta.
Além de o hospital trazer mais
propensão a infecções, Karin diz que traz impactos psicológicos
para o filho e a família. A clínica Dal Ben, que atende Miguel, tem
cerca de 200 pacientes e mais de 80% deles têm os serviços cobertos
pelos planos de saúde.
Condições
As entidades que representam os planos
de saúde ressaltam que o pagamento dos serviços de home care não é
obrigatório e ele é ofertado por alguns convênios dentro de
contratos específicos. Segundo elas, as condições para a oferta
ainda são incertas, especialmente em relação ao tempo de
utilização, o que dificulta a ampliação da cobertura.
José Cechin, diretor executivo da
Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), diz que,
quando há indicação médica para a continuação dos cuidados em casa
e essa situação representa uma economia em relação à internação, os
planos cobrem a assistência. "Há uma tendência à desospitalização
sempre que a atenção domiciliar for mais econômica. Não seria
racional do plano negar essa assistência", diz.
A Associação Brasileira de Planos de
Saúde (Abramge) também avalia que o envelhecimento da população
contribui para o crescimento da oferta de home care. As informações
são do jornal O Estado de S. Paulo.