Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - De olho na
demanda corporativa para conter a escalada de perdas com problemas
ligados à saúde de funcionários e em oportunidades de negócios
criadas com a reforma trabalhista, empresas de benefícios estão
ampliando rapidamente a oferta de produtos como vales para
farmácia, exames, consultas médicas e até ginástica.
A Alelo e a Ticket, duas das maiores
do setor no país, vêm desde o ano passado lançando pilotos para
empresas clientes, incluindo aplicativos, para ajudar a controlar a
qualidade nutricional da alimentação dos empregados e descontos em
exames clínicos preventivos.
O movimento ocorre enquanto as
empresas tentam conter gastos crescentes com saúde. Segundo
pesquisa da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), os
planos de saúde representam cerca de 12 por cento do gasto das
companhias com funcionários, o segundo maior, só atrás da folha de
pagamento, mesmo com os programas de co-participação.
Para tentar reverter esse quadro, as
empresas têm recorrido a campanhas de saúde preventiva, que
envolvem desde palestras sobre alimentação saudável até pagamento
de vales para academia de ginástica.
O setor de benefícios viu esse
movimento como uma forma de ficar menos dependente de alimentação,
carros-chefes de um mercado estimado em cerca de 85 bilhões de
reais por ano no Brasil. A expectativa é de que o ramo de saúde
puxe essa diversificação.
"Vales-alimentação hoje são só uma
commodity", disse à Reuters Raul Moreira, presidente da Alelo, do
grupo Elopar, dos sócios Bradesco e Banco do Brasil. "A grande
avenida de crescimento ainda está por vir."
Segundo ele, o mercado que deve se
multiplicar no país nos próximos anos. Isso porque após a nova lei
trabalhista, que entrou em vigor em novembro, ter deixado as
empresas mais seguras de que não serão alvos de decisões judiciais
segundo as quais benefícios e premiações deveriam ser tratadas como
salário.
Na Alelo, a meta é de que a fatia dos
produtos não ligados a alimentação suba dos atuais 12 para 30 por
cento da receita nos próximos três anos. A Ticket não revela
números de composição de receita, mas vai na mesma direção.
"Os vales de alimentação estão
perdendo espaço", diz Marilia Rocca, diretora geral da Ticket no
Brasil. A empresa do grupo francês Edenred, lançou no ano passado
um aplicativo que ajuda os usuários (e o RH do empregador) a
monitorar a qualidade nutricional da alimentação, inclusive com a
indicação de restaurantes, e programas para reduzir peso, entre
outros.
Neste ano, a empresa lançou um
programa piloto no qual empresas podem adiantar parte do salário a
empregados por meio de um cartão que pode ser usado para gastos
específicos, como os ligados à saúde. No segundo semestre, planeja
lançar novas produtos de benefícios de saúde.
"Benefícios de saúde estão sendo um
dos itens mais desejados pelos trabalhadores", diz Marilia, da
Ticket.
A Alelo credenciou 8 mil farmácias e
fez parcerias com redes de clínicas médicas, como a Dr. Consulta; e
o aplicativo de academias Gympass, para atender uma base 65 mil
beneficiários de vales-saúde da bandeira, distribuídos em cerca de
300 empresas. A meta é ter 11 mil farmácias na rede até o fim de
2018.
REFORMA DO PAT
Enquanto expandem a prateleira de
produtos, as empresas afinam o discurso em prol de uma reforma do
Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), justamente para
incluir benefícios de saúde preventiva.
O programa permite que empresas que
declaram rendimentos pelo regime contábil de lucro real possam
abater o equivalente a até 4 por cento do Imposto de Renda nos
gastos com benefícios para alimentação de empregados.
Na avaliação das empresas de
benefícios, o combate à desnutrição, foco do programa ao ser criado
em 1976, já não é a principal preocupação de empregados e de seus
empregadores, num país que tem cerca de 17 por cento da população
obesa, segundo dados do Ministério da Saúde.
"O governo deveria criar uma segunda
etapa do PAT, para incluir programas voltados para saúde
preventiva, incluindo remédios e exames", diz Moreira, da
Alelo.
Segundo ele, uma mudança como essa
teria pequeno impacto fiscal, dado que a renúncia do governo com o
PAT hoje é inferior a 1 bilhão de reais por ano.
"Tem espaço para incluir saúde
preventiva no PAT", diz Marilia, da Ticket. "A mudança pode incluir
políticas de saúde pública."