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Oncologia personalizada usa sequenciamento dos genes para combate a células cancerígenas

Fonte: uai.com.br Data: 06 abril 2018 Nenhum comentário

O câncer é uma doença dos genes. Dessa perspectiva parte a oncologia personalizada ou de precisão, para proporcionar o que há de mais avançado em diagnóstico, tratamento e prevenção dos mais diferentes tipos da doença. A aposta da especialidade é o sequenciamento dos genes presentes no DNA ou RNA, sobretudo de pessoas com predisposição hereditária ao câncer, visando tanto ao rastreamento quanto ao combate das células tumorais.

A grande vantagem do estudo genômico no combate ao câncer é a substituição dos tratamentos à base de agentes quimioterápicos e hormonais pela terapia alvo-molecular. Ela permite atacar o carcinoma de forma individualizada, com medicações escolhidas a partir da correta identificação das mutações genéticas sofridas pelas células cancerosas. Ao contrário dos procedimentos tradicionais, tais drogas agem especificamente nos tumores, com potencial muito menor de toxicidade e menos efeitos colaterais. 

Na prática, isso se traduz em sessões hospitalares de poucos minutos, ou uso de pílulas que podem ser tomadas em casa, proporcionando ao paciente melhor qualidade de vida. 

As chances de cura e de sobrevida também aumentam sensivelmente. “O mapeamento genético dos tumores não só estabelece seu prognóstico e orienta o tratamento específico como, muitas vezes, é também preditivo da resistência a certos tipos de medicamentos e de possíveis recidivas da neoplasia. Já podemos contar, por exemplo, com a chamada ‘biópsia líquida’. Por meio dessa ferramenta, os oncologistas estendem seu alcance ao monitoramento do tratamento, detectando, com muita precisão, resposta, remissão molecular e recaída ou resistência tumoral. O que, sem dúvida, favorece a longevidade do paciente”, explica o oncologista André Murad, professor da Faculdade de Medicina da UFMG e diretor da Personal Oncologia. 

Entre os estudos que atestam o extraordinário desempenho curativo da oncologia personalizada está o Profiler. Apresentada em junho de 2017 em Chicago (EUA), durante o Congresso Americano de Oncologia (ASCO), a pesquisa francesa analisou 1.944 pacientes. A conclusão foi de que houve ganho na sobrevida das pessoas tratadas de maneira individualizada de acordo com o perfil genético dos tumores em comparação com aquelas que passaram pelos protocolos convencionais. 

Proteção robusta 

As técnicas oferecidas pela oncologia personalizada constituem ainda uma valiosa ferramenta de prevenção, especialmente num cenário em que as síndromes hereditárias de predisposição ao câncer são mais prevalentes do que acreditava a medicina há alguns anos. 

Segundo o oncologista mineiro André Murad, supunha-se, até recentemente, que a hereditariedade seria responsável por apenas 10% a 12% dos casos de carcinoma. Estudos recentes mostram, contudo, que essa taxa chega a ser quase três vezes superior. É o caso do levantamento publicado em junho de 2016 no periódico científico JAMA, que acompanhou 200.000 gêmeos univitelinos e bivitelinos nórdicos por um período médio de 32 anos. Os resultados demonstraram que a incidência de câncer hereditário foi de 32%. Os tumores mais relacionados foram os de próstata, pele (incluindo o melanoma), ovário, rim, mama, intestino e útero. 

“A importância do diagnóstico correto é que as mutações geradoras das síndromes genéticas de predisposição ao câncer podem ser avaliadas através do estudo das tendências familiares de cada pessoa e, principalmente, de modernos exames genéticos realizados com material retirado da saliva, que detectam mutações em genes específicos, responsáveis por estes tipos de câncer. Tal identificação é vital na prevenção e no diagnóstico precoce desses tumores, o que propiciará medidas preventivas, de rastreamento periódico (que pode incluir exames clínicos, endoscópicos e radiológicos) e até mesmo cirúrgicas, como a remoção profilática do intestino grosso, tireoide, ovários e mamas, nos casos indicados”, esclarece André Murad. 

O sequenciamento genômico preventivo hoje está disponível em vários laboratórios do país. Alguns exames são cobertos pelos planos de saúde. Existe, inclusive, um projeto de lei de autoria da deputada Carmem Zanotto (PPS-SC) que pretende obrigar o Sistema Único de Saúde (SUS) a cobrir o exame de detecção de mutação genética dos genes BRCA 1 e BRCA 2 em mulheres com histórico familiar de diagnóstico de câncer de mama ou de ovário. No Rio de Janeiro, a tecnologia já é oferecida pelo SUS graças à da sanção da lei chamada de “Angelina Jolie”, em agosto de 2016.

 

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