Enquanto funcionários de estatais são
obrigados a contribuir com um valor maior para manter o
direito ao plano de saúde e
concurseiros veem o benefício ser retirado dos editais de processos
seletivos pelo país, o Congresso Nacional gasta, pelo
menos, R$ 36 milhões todo mês com assistência médica e
odontológica.
A Câmara investe R$ 17,9 milhões
mensais em planos de saúde para deputados, ex-deputados e
familiares, além de servidores ativos, inativos e
dependentes de ambos. No Senado, são R$ 18 milhões por
mês apenas para concursados, comissionados, aposentados e suas
famílias – senadores, ex-senadores e seus dependentes têm um plano
à parte. Assim, o valor final desembolsado pelo Legislativo
federal para manter o atendimento de saúde dos trabalhadores e
parentes acaba sendo bem maior do que os R$ 36 milhões por mês
informado pelas duas Casas.
De maneira geral, os planos de
saúde do Congresso Nacional beneficiam os trabalhadores,
dependentes, pais e cônjuges. Há ainda ex-deputados e ex-senadores
que, assim como seus familiares, conseguem manter o
benefício mesmo sem terem mandatos válidos. O artigo 4º do Ato
da Mesa n° 75/2006, da Câmara dos Deputados, por exemplo, assegura
plano vitalício aos políticos que atuaram durante duas
legislaturas: ou seja, por oito anos. A manutenção do benefício
também acontece quando o parlamentar é regularmente afastado por
até 120 dias.
Pró-Saúde
Os
únicos funcionários que não podem aderir ao Programa de Assistência
à Saúde da Câmara dos Deputados, batizado de Pró-Saúde, são os
comissionados – secretários parlamentares e ocupantes de cargo
de “natureza especial”. Mesmo assim, eles contam com um
auxílio-saúde “que corresponde a um ressarcimento parcial da
mensalidade do plano contratado e pago por eles”, conforme informou
a comunicação da Casa.
Já os servidores e os deputados podem
participar do programa desde que contribuam com um valor
mensal – atualmente de R$ 420, por grupo familiar – e se bancarem
parte das despesas médico-hospitalares, incluindo consultas,
na chamada coparticipação.
O Pró-Saúde possui hoje, de acordo com a Câmara, 7.381 titulares
inscritos, mais 10.060 dependentes. Em 2016, o programa teve gasto
anual exato de R$ 183.957.387,08, e, em 2017, de R$ 214.442.452,08.
Ou seja, de um ano para o outro, foram R$ 30,4 milhões a mais
usados para bancar o benefício, um aumento de 16,5%. Nos dois
primeiros meses deste ano, a Casa já gastou R$ 35,8 milhões,
média de R$ 17,9 mensais.
Hospital do
Parlamento
Apesar de terem o direito ao plano de saúde,
muitos servidores sequer precisam usá-lo. Já que, além do
benefício, têm a seu dispor o Departamento Médico da Câmara
(Demed), que atende deputados federais, funcionários efetivos e
comissionados, aposentados e dependentes legais. Localizado no
Anexo III (foto em destaque), o Demed é um verdadeiro
hospital. Lá, é possível realizar consultas e fazer exames de
diferentes especialidades, bem como receber atendimento de
emergência.
O Metrópoles esteve no local na última
quinta-feira (22/3) à tarde. Não há fila de espera de pacientes,
muito menos reclamações. Placas informam que o departamento
médico presta serviços na área de fonoaudiologia,
fisioterapia, ortopedia, clínica geral, otorrinolaringologia,
endocrinologia, neurologia, psiquiatria, dermatologia, entre outras
especialidades, e disponibiliza até um centro cirúrgico. Inaugurado
em 1982, o Demed (veja abaixo) conta ainda com um
laboratório de análises clínicas e realiza exames de raio
x.
Sistema integrado na Câmara
Alta
No Senado Federal, também chamado de Câmara Alta do Parlamento
brasileiro, os servidores e dependentes legais fazem parte do
Sistema Integrado de Saúde (SIS), plano de autogestão mantido com
recursos do orçamento e por um fundo de reserva formado a partir de
valores pagos pelos beneficiários. Atualmente, o SIS conta com
12.010 servidores, ativos e aposentados, e 6.389 dependentes. Há
ainda 3.341 inscritos, entre comissionados e familiares.
O custo mensal com o plano de saúde de todos eles, em 2018,
segundo a comunicação da Casa, é de cerca de R$ 18 milhões. Em
2017, a média foi de R$ 18,7 milhões e, no ano anterior, de R$ 14,5
milhões. O benefício dos servidores do Senado é regido pela
Resolução nº 35/2012. Ela prevê uma contribuição mensal dos
beneficiários e coparticipação nas despesas médico-hospitalares,
descontada em folha de pagamento.
Já a assistência à saúde prestada aos
senadores e dependentes, e aos ex-senadores e cônjuges, é
determinada pelo Ato da Comissão Diretora n° 9/1995. Ele prevê que
esses beneficiários podem ter acesso aos serviços médicos e
odontológicos nas instituições credenciadas, como também pagar do
bolso e depois solicitar o ressarcimento das despesas.
O artigo 4°, § 2º do ato afirma
ainda que ex-senadores que tenham exercido o mandato por apenas 180
dias consecutivos fazem jus ao benefício. Questionado pela
reportagem sobre os valores gastos com eles, o Senado não
respondeu. No entanto, dados do Sistema Integrado de
Administração Financeira (Siafi), do Portal do Orçamento
Federal Siga Brasil, mostram que, em 2017, foram R$ 10,335 milhões
desembolsados pela Casa, apenas com assistência médica e
odontológica de senadores e ex-senadores.
Até 2013, o Senado também contava
com um Departamento de Serviço Médico, instalado em frente à Casa,
totalmente equipado e com atendimento de diversas especialidades
médicas. Atualmente, no local, há apenas um posto de saúde, com um
médico e um enfermeiro de plantão, para casos de urgência. Outros
dois profissionais ficam de prontidão em um posto de atendimento
que funciona ao lado do plenário, enquanto houver sessão
legislativa.