A APROSE — Associação Nacional de
Agentes e Corretores de Seguros defende que os bancos sejam
proibidos de vender seguros, considerando que a exceção que lhes é
dada contraria as regras da nova diretiva de seguros, disse à Lusa
o presidente.
Este ano entra em vigor a nova
diretiva de distribuição de seguros, que deve ser transposta para a
legislação nacional até 01 de julho, e cujo objetivo é dar maior
proteção aos consumidores, reforçando as exigências da
comercialização dos seguros (seja feita por pessoas singulares ou
empresas), como obrigação de formação aos trabalhadores e adequação
dos produtos vendidos ao perfil do cliente.
Contudo, afirmou David Pereira à Lusa,
mesmo com a nova legislação, os bancos vão “manter
incompreensivelmente um regime de exceção”, ao ser-lhes permitido
continuar a vender seguros, quando a APROSE considera que esta só
deveria ser feita por profissionais.
“Quando uma pessoa vai pedir crédito,
é obrigada a abrir conta, a ter cartões, a domiciliar ordenado, é
obrigada a tanta coisa que [o banco] não está a defender o
consumidor. O primeiro objetivo [da diretiva] é proibir a venda
abusiva, não informada, inadequada, mas o legislador mantém a
exceção [criada em 2006] para a banca”, afirmou, referindo-se ao
anteprojeto de lei de transposição da diretiva.
Além disso, acrescentou, “a banca
vende normalmente os seguros da seguradora com quem tem acordo”, o
que, considerou aquele responsável, não protege o cliente.
Segundo David Pereira, o projeto de
transposição para Portugal da diretiva obriga a que seja
aconselhado ao cliente um produto adaptado às suas necessidades, o
que considera que a banca não faz. Afirmou ainda que os dados dos
clientes a que os bancos têm acesso podem levar ao uso de
informação privilegiada para fins indevidos.
Os 15 mil associados da associação,
disse David Pereira, são todos mediadores de seguros independentes,
uma vez que trabalham com mais do que uma seguradora.
“Todos os associados da APROSE
trabalham com diversas seguradoras, nenhum trabalha com menos de
cinco”, afirmou.
A APROSE diz que está também
preocupada que ‘stands’ de automóveis ou agências de mediação
imobiliária vendam seguros (seguro automóvel ou seguro de proteção
à habitação).
Para o responsável, nestes casos, para
poderem continuar a vender seguros, “deveriam estar na alçada da
mediação de seguro profissional” e ter formação adequada.
Na opinião da APROSE, apenas deveriam
poder vender seguros os mediadores/corretores de seguros
profissionais e as seguradoras com venda direta ao cliente
final.
Em Portugal existem cerca de 25 mil
mediadores/corretores de seguros autorizados pelo regulador do
setor.
O canal bancário é responsável,
sobretudo, pela venda de seguros do ramo vida, como seguros de vida
(geralmente associados ao crédito à habitação) e seguros ligados a
fundos de investimento e operações de capitalização.
O presidente da APROSE defendeu ainda
à Lusa que na transposição da diretiva para a legislação nacional,
deveriam ser estabelecidos “tetos mínimos de receita de comissões”
a serem auferidos pelo profissional de seguros, referindo que
muitos trabalhadores — como só recebem comissões de vendas — não
têm um salário base.
“Nenhum mediador deveria receber de
comissões menos do que 14 vezes o salário mínimo nacional”,
afirmou.
A associação estima ainda que esta
diretiva traga a redução do número de mediadores, com movimentos de
consolidação e de encerramento de alguns operadores, devido ao
reforço das exigências
A APROSE quer que, no âmbito da
transposição para a lei portuguesa, haja um debate alargado sobre o
tema, inclusivamente com audições no Parlamento dos intervenientes
do setor segurador.