Dois empresários e um enfermeiro foram
presos no início da desta terça-feira (16) durante a Operação Lama
Cirúrgica. Eles são acusados de reprocessar, falsificar e
fornecer materiais médicos hospitalares descartáveis usados como
sendo novos. O material, com rótulos adulterados, era usado em
hospitais particulares da Grande Vitória. E chegaram a serem
usados em pacientes de tratamento de combate ao câncer.
Foram presos os empresários Gustavo
Deriz Chagas, 41, e Marcos Roberto Krohling Stein, 37, além do
enfermeiro Thiago Waiyn, 36, todos ligados à empresa Golden
Hospitalar, da Serra. A polícia cumpriu ainda três mandados de
busca e apreensão.
Segundo as investigações, a empresa
tinha todos os documentos em dia e funcionava de maneria regular,
mas reprocessava e distribuía materiais cirúrgicos ortopédicos
descartáveis para hospitais privados da Grande Vitória. Um deles
está localizado no município da Serra. A polícia não informou
quantos, ao todo, recebiam esse material. Quatro tipos deles, entre
agulhas e fios cirúrgicos, foram reutilizados 2536 vezes.
Essa foi a primeira fase da operação.
O secretario de segurança pública, André Garcia, disse que
a investigação começou em 26 de outubro de 2017, após uma
denúncia anônima. Informou que o esquema criminoso não é um caso
isolado, mas uma prática. Não está descartada, por exemplo, a
participação de médicos.
“Estamos diante de um caso que aponta
para um crime gravíssimo. Poucas vezes vi algo tão grave e de tanta
repercussão na vida das pessoas. Nessa primeira fase e com o inicio
das investigações, estamos falando do reprocessamento de produtos e
reutilização de produtos cirúrgicos. Uma serie de outras questões
estão associadas a isso, como a falsificação de documentos e
etiquetas que apontam qual o lote desse produtos, data de
fabricação e validade. O que é mais grave é o reuso. São produtos
que só podem ser usados uma única vez”.
Email enviado com pedido de
adulteração por um dos acusados
O reprocessamento de produtos
é proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA).Além de ser infração sanitária, a prática pode elevar os
riscos de infecção ao paciente, bem como acarretar falhas na
utilização do produto, perda de desempenho, retenção de corpo
estranho, intoxicação, entre outros. “A falsificação de dava
basicamente na viabilização documental para que esses produtos
fosse apresentados como novos. E na limpeza, para que fossem
reutilizados. Nisso ele perde as caraterísticas originais,
funcionalidade (em alguns casos). Estamos diante de uma fraude e
crime contra a população”, afirmou André Garcia.
O secretario disse que num primeiro
momento os hospitais são tratados como vítimas, mas a investigação
continua para identificar quem tinha conhecimento do esquema e se
beneficiava (seja nas empresas, hospitais e planos de saúde). “Nada
impede que aja envolvimento de pessoas que fazem parte dessas
instituições”.
O gerente do Núcleo de Repressão às
Organizações Criminosas e à Corrupção (Nuroc), Raphael Corrêa,
disse que o grupo se aproveitou de facilidade nas instituições de
saúde. “Vamos verificar se outras empresas faziam a mesma prática;
se as falhas existem dentro do sistema dos hospitais; se os planos
de saúde foram lesados. Vamos tentar quantificar as lesões e
prejudicados”.
Os policiais explicaram que com o
crime os envolvidos superfaturavam em até mil por cento os preços
dos produtos. Os acusados vão responder por formação de quadrilha,
lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, adulteração de produto
destinado a fins medicinais e estelionato.
Gustavo Deriz Chagas
Thiago Wain