Mário Scheffer, professor da Faculdade
de Medicina da USP, alerta
para limitações no modelo de clínicas populares. Para ele, a
proliferação de estabelecimentos desse tipo é um reflexo da falta
de investimento público em saúde. Leia a seguir trechos da
entrevista:
Como vê o crescimento das clínicas
populares?
As clínicas populares sempre existiram. A novidade é o crescimento,
principalmente, em grandes centros. Mas elas oferecem algo muito
restrito. São solução para casos agudos. Não dão resposta a casos
crônicos, como estresse e depressão.
Qual o papel delas no sistema de saúde?
São puxadinhos do sistema de saúde. Se uma pessoa precisar de
atendimento mais complexo no SUS e já tiver passado por essas
clínicas, vai precisar voltar para o início do processo, porque no
sistema público os pacientes são introduzidos no atendimento
primário. Não se pode pular etapas e ir direto para o mais
complexo.
Por que elas têm atraído tantos
investidores?
Elas são reflexo do “desfinanciamento” público. Do total de
recursos investidos na saúde, 54% são privados, incluindo planos de
saúde e dinheiro da população gasto em compra de remédios, por
exemplo. Mas os planos só atendem um quarto da população. É um
sistema caro e desigual.
O novo modelo de clínica popular parece atrair os
médicos também...
Elas atendem duas demandas: a da população, por necessidades
imediatas, e de mão de obra. Desde a lei que criou o Programa Mais
Médicos, em 2013, houve expansão das escolas de Medicina.