Se aprovada nos termos atuais, a
reforma da Previdência vai colocar o Brasil entre os países com
regras mais rígidas para aposentadoria.
Pela proposta do governo, quem
contribuir por menos de 25 anos não terá direito a se aposentar
mesmo que alcance a idade de 65 anos.
Em outros países é possível se
aposentar com tempo menor de contribuição, mas o benefício pode ser
menor que o salário mínimo, o que não é permitido no Brasil.
Cumpridos os 25 anos, o brasileiro
receberá 76% do benefício. O valor integral só será pago a quem
trabalhar 49 anos, regra também mais dura que de outros países.
Hoje, brasileiros se aposentam após
contribuir por 30 anos (mulheres) ou 35 anos (homens). Quem não
consegue atingir essa regra pode se aposentar por idade (mulheres
de 60 anos e homens de 65 anos), desde que tenha contribuído por 15
anos.
Marcelo Caetano, secretário da
Previdência, afirma que a
proposta de reforma está no "meio do caminho" entre os dois
sistemas atuais.
A justificativa do governo para a
reforma é o aumento da proporção de idosos em relação à de
jovens.
Países que já passaram por essa
transição demográfica têm regras mais flexíveis. Na OCDE, grupo dos
países mais desenvolvidos do mundo, um trabalhador consegue o
benefício integral após contribuir em média por 44 anos.
O tempo mínimo para ter acesso a algum
percentual da aposentadoria também é menor. Na Alemanha, por
exemplo, são exigidos cinco anos e nos Estados Unidos, dez.
Esses sistemas não são vinculados ao
salário mínimo, e o valor da aposentadoria em relação à renda média
do trabalhador é inferior ao que é pago pelo INSS.
Na Espanha, por exemplo, 15 anos de
contribuição dão direito a 50% do benefício. Cada mês adicional de
trabalho aumenta esse percentual.
Nos Estados Unidos, o tempo de
contribuição é de 35 anos. Mas, se aos 67 anos o trabalhador não
tiver alcançado esse tempo mínimo, ele poderá se aposentar com o
benefício reduzido.
"Exigir um mínimo de 25 anos de
contribuição é muito rígido. Se você contribuir por 20 anos e não
ganhar nada, isso quer dizer que todas as suas contribuições foram
puramente impostos", diz Hervé Boulhol, responsável pela área de
aposentadoria da OCDE.
"Você deveria poder receber algo
proporcional ao seu tempo de contribuição."
Boulhol ressalta, porém, que o valor
médio das aposentadorias no Brasil em relação aos salários é maior
do que o pago em outros países. Para um trabalhador de renda média,
o benefício equivale a 69,5% dos últimos rendimentos, diz a
OCDE.
Já o benefício de um americano da
mesma faixa de renda é em média 35,2%.
"O risco que corremos em diminuir esse
tempo mínimo é não ter uma redução da taxa de reposição", diz Luis
Eduardo Afonso, professor da USP especialista em Previdência
Social.